Festival de Brasilia 2017

Homenageado do festival, Nelson Pereira dos Santos fala ao Correio

Montador do primeiro longa de Glauber Rocha, Barravento (1962), Nelson tem um imenso prestígio no exterior, sob o alicerce de obras como A música segundo Tom Jobim (2012) e O amuleto de Ogum (1975).

Ricardo Daehn
postado em 15/09/2017 06:00

Nelson Pereira dos Santos é o vencedor da medalha Paulo Emílio Sales Gomes


Um dos grandes mentores do cinema brasileiro, o cineasta Nelson Pereira dos Santos tem uma vida conectada com a capital do país. As contribuições do mestre de clássicos do porte de Rio, 40 graus (1955) parecem não se esgotar. Presente na implantação do ensino de cinema na Universidade de Brasília, Nelson Pereira, o grande vencedor do Festival de Brasília de quatro décadas atrás com Tenda dos milagres (1977) terá, a partir da 50; edição do festival, mais um vínculo com a cidade: é o segundo vencedor da medalha Paulo Emílio Sales Gomes.

Um dos pioneiros a assumir a completa brasilidade nas telonas, depois de uma iniciática jornada ao lado do pai cinéfilo e de imersões de estudo e vivências na Cinemateca Francesa (Paris), Nelson Pereira ainda ostenta o título de ser o primeiro cineasta a ocupar cadeira na Academia Brasileira de Letras.

Aos 88 anos, ele admite que segue amante da literatura da qual extraiu clássicos como Vidas secas (1963) e Memórias do cárcere (1983), ambos exibidos em Cannes. Jornalista, redator e documentarista atento à realidade nacional desde os anos de 1950, Nelson Pereira tem sido um dos maiores emuladores da realidade brasileira.

Montador do primeiro longa de Glauber Rocha, Barravento (1962), Nelson tem um imenso prestígio no exterior, sob o alicerce de obras como A música segundo Tom Jobim (2012) e O amuleto de Ogum (1975).

Entrevista / Nelson Pereira dos Santos


A literatura segue ecoando na sua vida? O que de mais valoroso ela te entregou?
Continuo gostando de ler, principalmente a literatura brasileira. Que, aliás, foi muito importante na minha formação profissional. Estou relendo Angústia, de Graciliano Ramos. Fiz muitos filmes de adaptações literárias, filmes que me deram muito prazer em realizar.

Sua obra deu projeção a artistas negros. Com décadas de luta no audiovisual, atualmente eles gozam da justa representação na cultura?

Julgo que a situação esteja melhor do que no passado.

Abolir o excesso do uso de estúdios se provou um caminho natural nos filmes nacionais. O que mais areja um filme, na sua opinião?
Filmar fora de estúdio, nos anos 1950, abriu uma opção de realização, sem a qual não poderíamos fazer nossos filmes. A pluralidade de temas, ideias e formas de filmar hoje parece um caminho muito bom, uma produção de mais de 100 filmes a cada ano.

A trajetória toda construída por opções ou por afinidade política leva o senhor a que tipo de considerações acerca do cenário atual, às vésperas de estar na Brasília tão politizada?
Estou muito honrado com a homenagem do 50; Festival de Cinema de Brasília e com a Medalha Paulo Emílio Sales Gomes. Ao lado de Paulo Emílio, criamos o curso de cinema da UnB, que tenho a impressão de ter sido o primeiro no país. Participei de muitas edições do Festival de Brasília, pelo qual tenho muito carinho, principalmente pela acolhida ao cinema brasileiro. Cada ano era melhor que o outro, com muitos filmes, amigos, discussões acaloradas e uma plateia participativa que só nesse festival era tão intensa.



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