Festival de Brasilia 2017

Crítica: 'Café com canela' conquista com simpatia

O longa de Ary Rosa e Glenda Nicácio apresenta personagens saudosos, entenda o enredo

Ricardo Beghini
postado em 21/09/2017 06:00
O filme baiano 'Cravo e canela' acerta em simpatia e diverte
Fosse concurso de miss, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro teria que, por justiça, entregar o troféu simpatia para Café com canela, de Ary Rosa e Glenda Nicácio. Imbatível, no poder amplo de comunicação demostrado junto ao público, o longa, aos sabores do acaso, junta duas frentes dramáticas: uma apoiada em ampla comicidade e marotice, e outra, que faz exposição de um drama pesado. Sem muitas surpresas, uma destas frentes, de encontro à outra, acende ânimos do público.
Muitas personagens da trama são embaladas nas saudades, sendo uma particularmente deprimida: a professora Margarida (Valdinéia Soriano, com trabalho consistente), que viu o filho morrer. Vazia e solitária, a vida segue em curso, quase sem contar com Margarida (;Ela morreu junto com o menino;, reforça um dos personagens). Mais do que o entendimento da sua dor, Margarida precisa de empatia, e a solidariedade promete emanar da jovem Violeta (Aline Brunne), uma velha conhecida.
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Permeado pela modorrenta rotina de Margarida, incapaz de se libertar do passado, o andamento de Café com canela tem, em geral, cadência solar. Os coadjuvantes Babu Santana e Arlete Dias dão um show, respectivamente, interpretando o médico gay Ivan e a fanfarrona Cidão. Levado pela euforia, o espectador tende a se encantar, mesmo com roteiro cru, que verte situações primitivas (pouco voltadas à inovação), ancoradas na espessura do melodrama.
Sem teor crítico, e com deslocadas apropriações de sincretismo, além de cenas insustentavelmente talhadas para impacto (como a do uso da música Debaixo d;água), Café com canela se perde, justo quando pretende trair a vocação para ser ameno e caseiro. Entre a simbologia do acúmulo de rosas de plástico e libertárias pedaladas de bicicleta, a singeleza da mensagem da fita não casa com discursos empolados como o da delirante cena em defesa da graça emanada pelo cinema. No mais, o filme baiano é bem divertido.

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