O Brasil Que Ninguem Ve

População enterrada no passado precisa ser reposicionada socialmente

"O Brasil tem uma disparidade muito grande entre os municípios, o que pune parcela importante da população"

Luiz Ribeiro/Estado de Minas - Enviado especial
postado em 20/01/2013 08:00

A evolução mais rápida do país dependerá da velocidade de reformas estruturais que o governo insiste em relegar ao descaso, como a tributária e a trabalhista, e de obras de infraestrutura que deem maior competitividade à economia. Para os que clamam por urgência, que se sentem injustiçados por ainda não estarem provando uma fatia do bolo da riqueza que, enfim, está sendo distribuído, promessas já não bastam. ;O Brasil tem uma disparidade muito grande entre os municípios, o que pune parcela importante da população;, observa o diretor de Estudos e Políticas Sociais do Instituto de Política Econômica Aplicada (Ipea), Rafael Guerreiro Osório.

[SAIBAMAIS] Essa população enterrada no passado, alerta Osório, precisa ser reposicionada socialmente para que o Brasil possa sonhar em ser uma nação mais justa. ;Temos uma grande dívida social, já pagamos uma parte dela, mas é preciso mais. As pessoas têm pressa;, avisa. A professora Clara Ferreira (nome fictício, pois ela teme represálias), 42 anos, sabe muito bem disso. Funcionária de uma escola no povoado de Santa Maria, em Flores de Goiás, não esconde a angústia diante da falta de estrutura para educar aqueles que vão tocar esse país mais à frente.

;Aqui, tudo é improvisado, inclusive as salas de aula. A gente trabalha da forma que dá;, explica a professora do ensino médio. A escola a que ela se refere funciona no Centro Comunitário de Santa Maria. Ele foi cedido pelos moradores ao Estado, porque não havia um prédio para abrigar os estudantes. Em um espaço de pouco mais de 60 metros, três turmas estão separadas por divisórias de plástico de dois metros de altura e um centímetro de espessura. O galpão tem teto de zinco e, nos dias quentes, torna-se insuportável a permanência dentro dele. ;O problema é que, nos períodos de chuva, também as aulas são suspensas, pois é impossível ouvir qualquer coisa com o barulho da água batendo no telhado;, explica a professora.



Não é só. Parte dos professores que trabalham na escola de Santa Maria não tem formação adequada e a preparação das aulas é precária. ;Por isso, é muito comum os alunos desistirem do estudo. É difícil aprender nessas condições;, diz Clara. ;Enquanto isso não mudar, infelizmente, vamos ter esse Brasil do atraso, condenando milhões de pessoas à pobreza, ao analfabetismo, ao subemprego, implorando pela ajuda do Estado. Não é esse o país que queremos para nós e nossos filhos;, sentencia.

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