Ser Sustentável

ONGs criticam uso comercial de matas

postado em 17/07/2014 15:23

O Brasil, de proporções continentais, tem 54,4% do território coberto por florestas naturais. E, nos últimos três anos, a intensidade do desmatamento da floresta amazônica diminuiu 29%. Mas se engana quem pensa que o Brasil vive o melhor dos cenários quando o assunto é preservação das matas. O acúmulo de décadas de devastação ilegal ainda afeta os mais de 463 milhões de hectares de flora espalhados de norte a sul.


Em meio a onda de conscientização coletiva, uma das principais metas do governo, no quesito meio ambiente, é a de fomentar as florestas comerciais, produtivas: de pinhos e eucaliptos, por exemplo, para a produção de papel. A proposta é ampliar a área de mata plantada dos atuais 7 milhões de hectares para cerca de 16 milhões, nos próximos 10 anos.


Leia mais notícias do Ser Sustentável


Isto significaria uma maior participação do país no mercado mundial de celulose. O aumento almejado pelo governo poderia ser traduzido em investimentos da ordem de R$ 40 bilhões e 200 mil empregos no meio rural, além de R$ 160 bilhões de investimento e 800 mil empregos gerados nos demais segmentos da indústria consumidora de madeira.


Mário Mantovani, diretor de políticas públicas da fundação SOS Mata Atlântica, acha que o problema, em si, não é a forma como são plantadas as tais florestas comerciais, mas a maneira como o governo fiscaliza a extração criminosa de madeira. Segundo ele, em lugares onde a mata nativa é usada para a produção de madeira, invariavelmente existe trabalho escravo. ;O Brasil tem vocação florestal e o que a gente precisa do governo é que ele seja mais sério na fiscalização. Continuam tirando madeira na Amazônia de qualquer forma e em estados como Minas Gerais, Piauí e Bahia, ainda se usa mata nativa para fazer carvão.; Mário ainda comenta que, ;existe, no setor florestal do país, a concorrência criminosa e desleal;.


A investida é interessante? Parece ser. Mas vale ressaltar que as florestas de eucalipto são um assunto controverso. O próprio Estado, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, (Bndes), reconhece: no artigo Impacto ambiental de florestas de eucalipto, a instituição avalia que o impacto aos lençóis freáticos da região poderá ser grande se o eucalipto não for plantado em locais onde a bacia hidrográfica seja muito abundante. Além disso, especialistas alegam que a monocultura desequilibra o ecossistema a sua volta porque, por exemplo, empobrece o solo e inibe a biodiversidade.


Mantovani, porém, acredita a inovação da agricultura e o melhoramento genético das mudas aliviam esse problemas, mais intensos na década de 1970. Mas um dos artigos mais polêmicos do novo Código Florestal, aprovado em 2012, suscita exatamente a anistia para aqueles que desmataram sem autorização ou licenciamento até julho de 2008.

Para Márcio Astrini, coordenador de campanhas do Greenpeace, o problema é quando você faz uma lei e vai às emissoras de televisão e fala que aqueles que foram punidos, na verdade não deveriam ser punidos, e sim anistiados. ;Parece que a lei é que estava errada, e não a atitude da pessoa. Você passa pra quem cometeu o erro uma simbologia de que ele terá sempre uma guarita dentro do governo.;


Apesar das controvérsias causadas pela aprovação do novo Código Florestal, Joberto Veloso, diretor de informações florestais do Serviço Florestal Brasileiro, ressalta as benesses da lei. ;O código é importante e tem um impacto positivo na sociedade, na medida em que estabelece um novo compromisso entre aqueles que tem florestas nas suas propriedades privadas e a conservação delas.;


Veloso acredita que há uma mudança de paradigma, porque as florestas passam a ter mais utilidade para os proprietários rurais. Além disto, ele completa que ;a integração da lavoura com a mata nativa é um movimento positivo e que foi motivado com essa discussão do código florestal;.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação