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Fórum discute desafios, comportamentos e qualidades da juventude no mercado

Evento reuniu e apresenta pesquisas que revelam o perfil de quem ingressa no mercado

Igor Caíque*
postado em 04/12/2017 16:27

O estudante de administração Anderson Salgado, 24 anos, sempre teve um sonho: exercer cargo de liderança em empresa de renome nacional. Para alcançar o objetivo, ao 16 anos de idade, ele começou a procurar uma vaga de menor aprendiz e logo foi contratado para trabalhar no McDonald;s de Campinas, interior de São Paulo. "Apesar de ter esse sonho, eu não poderia imaginar que logo conseguiria uma oportunidade de crescimento ali dentro", conta.
Anderson Salgado conseguiu uma vaga como menor aprendiz no McDonald's de Campinas (SP). O jovem cresceu aos poucos na empresa
Inicialmente, o jovem queria juntar dinheiro para entrar no ensino superior, mas, aos 18 anos, recebeu a proposta de ser efetivado para ajudar nas funções administrativas da empresa. Hoje, Anderson é exemplo de protagonismo no mercado e há dois anos tornou-se gerente comercial da empresa. "Consegui realizar o meu sonho no mesmo local em que comecei a minha vida profissional. Isso é muito motivador. Anteriormente, eu via outros funcionários irem trabalhar de terno e gravata e hoje isso acontece comigo. Estou realizado", exalta.

Pesquisa revela perfil do jovem no mercado

Anderson Salgado esteve presente no 1; Fórum Acreditamos na Juventude, promovido pelo McDonald;s na manhã desta segunda-feira (4), em São Paulo. O encontro teve o objetivo de reunir especialistas para debater quanto ao futuro profissional de jovens brasileiros. Para isso, pesquisadores fizeram um estudo que mostra a satisfação dos empregadores com funcionários mais jovens e quais as chances de crescimento deles dentro da corporação em que foram contratados.

Professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e um dos participantes desta pesquisa, Ilton Teitelbaum acredita que o jovem contemporâneo tem mais acesso à informação e aprende as atribuições de forma mais rápida. Contudo, o docente chama atenção para um fato: "O mesmo jovem não consegue desenvolver trabalho em equipe, não sabe ouvir os mais experientes e carece de reconhecimento a todo momento".

Para Teitelbaum, a solução seria o foco no relacionamento e a troca de expertises. "Enquanto os mais experientes ensinam como aceitar eventuais frustrações e as ordens demandadas, os jovens podem ensinar como manusear as ferramentas tecnológicas. Os mais velhos, por sua vez, também devem tomar postura mais humilde e aprender com os mais novos", alerta. O professor acredita que o vínculo entre os mais jovens e os mais experientes são ingredientes que tendem a fazer a empresa crescer.

Falta de incentivo para inserção

Em 2016, cerca de 28% dos jovens brasileiros com idade de até 24 anos estavam desempregados. O dado é do Instituto ProA e revela que há falta de incentivo da inserção de jovens no mercado de trabalho. Para Camila Schahin, gerente de empregabilidade da Kroton, esse problema é ocasionado pela falha na educação brasileira. "Muitos jovens não fizeram um bom ensino médio e vão para o mercado de trabalho sem muito entendimento de como se comportar numa empresa. Isso também deveria ser de responsabilidade da escola", argumenta.

Schahin afirma que os mais novos não encontram muitas dificuldades para ingressar na faculdade, mas que, após tal período, não sabem o que fazer para colocar em prática o que aprenderem na instituição. "Isso é resultado de falta de qualificação. Os estudantes precisam entender que não podem se prender numa sala de aula. Por outro lado, os empregadores devem dar mais crédito à juventude e confiar que eles podem ter um bom desempenho", opina.

Marcelo Nóbrega, diretor de recursos humanos na divisão Brasil da Arcos Dorados, acredita que é dever das empresas apostar na juventude. "O jovem tem muita energia e vontade de trabalhar. Os empregadores precisam enxergar isso. No McDonalds, temos mais de 40 mil funcionários e, desses, cerca de 90% é composto por pessoas de até 25 anos, a gente acredita que a criatividade dessa juventude é uma qualidade que traz bons resultados não só para a empresa, mas para os próprios jovens", afirma.

É preciso investir no ser humano

Morador de uma comunidade de São Paulo, filho de um ex-presidiário e sem acesso à cultura e educação de qualidade, Eduardo Lyra tinha todos os requisitos para colecionar fracassos na vida profissional. Contudo, o jovem foi contramão do que a falta de oportunidades poderia ocasionar e se tornou uma referência de êxito para a juventude. "Devo isso à minha mãe, que me incentivou a estudar mesmo não tendo muitos mecanismos para isso", explica.
Eduardo Lyra fundou a ONG Gerando Falcões e ajuda jovens paulistas a se lançarem no mercado de trabalho.
O jovem foi um dos palestrantes no evento e defendeu a ideia de que as empresas podem ajudar na redução da desigualdade social ao dar mais oportunidades para a juventude que mora em áreas de vulnerabilidade. "O Brasil vai mudar quando o empregador for uma ponte que liga o empregado com menos recursos financeiros ao mercado de trabalho", diz.

Eduardo fundou a Organização Não governamental Gerando Falcões, que há quatro anos auxilia jovens de São Paulo a se desenvolverem profissionalmente. "Hoje nós temos projetos socioeducativos que já atingiram mais de 100 jovens. A ideia é que eles ganhem autoestima e entendam que são capazes de construir um bom futuro mesmo sem muitas oportunidades para isso", explica. O papel social de Eduardo Lyra o fez entrar para a lista da revista Forbes como um dos jovens mais influentes do país. Ele usa esse título para lutar por mais políticas públicas para a juventude. "Não podemos perder essa geração para as drogas e o crime. É preciso investir nessas pessoas", conclui.

*Estagiário sob supervisão de Ana Sá

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