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Tecnologia da UnB revoluciona perícias

Técnica desenvolvida pelo Instituto de Química permite eficácia de 100% na identificação da distância do disparo e até da posição do atirador. Mais barata do que a usada pelas polícias mais famosas do mundo, uso depende de mudança na fabricação da munição

postado em 18/01/2013 12:57
 (Fotos: Marcelo Oliveira/Divulgação)

 (Fotos: Marcelo Oliveira/Divulgação)

Substância misturada à pólvora do projétil permite que os peritos criminais identifiquem, com a ajuda de luz ultravioleta, resíduos em armas, mãos e paredes: marcadores visuais podem melhorar exames (Fotos: Marcelo Oliveira/Divulgação)
Substância misturada à pólvora do projétil permite que os peritos criminais identifiquem, com a ajuda de luz ultravioleta, resíduos em armas, mãos e paredes: marcadores visuais podem melhorar exames

Uma tecnologia desenvolvida pelo Instituto de Química da Universidade de Brasília (UnB) aumenta a precisão e baixa os custos da perícia criminal. O grupo formado por pesquisadores, alunos e peritos da Polícia Federal desenvolveu marcadores visuais que possibilitam rastrear um projétil, identificar a distância de um tiro em até 12 metros do local do disparo e até apontar a estatura do atirador.

O sistema usa uma substância luminescente misturada à pólvora da bala, que, exposta à luz ultravioleta, marca toda a cena do crime e facilita o trabalho dos peritos (leia ilustração). Os testes com os marcadores apresentam índices próximos a 100% de acerto e pode revolucionar os sistemas periciais realizados internacionalmente.

A tecnologia começou a ser estudada em 2008, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) pela professora Ingrid Weber, hoje coordenadora do projeto. Ela chegou à UnB em 2011 e, desde então, firmou parcerias com diversas áreas da Polícia Federal, entre elas o Instituto Nacional de Criminalística (INC). ;Parte dos testes são feitos dentro do INC, e outra nos laboratórios da UnB. Temos resultados precisos e mais eficazes do que os métodos realizados atualmente pelas polícias do Brasil e do mundo;, ressaltou um dos pesquisadores do grupo coordenado por Ingrid, no Laboratório de Inorgânicos e Materiais da universidade, Marcelo Oliveira.

Na realidade brasileira, um perito criminal faz o exame de detecção de tiros por métodos colorimétricos. Ele utiliza substâncias que reagem ao entrar em contato com o chumbo, o bário e o antimônio (componentes de um projétil), mas não diferenciam a origem desses elementos. ;Não é possível saber se veio do tiro ou de uma contaminação ocupacional. Ou seja, se um mecânico entrou em contato com essas substâncias no trabalho, não será possível diferenciar dos disparos;, explicou o pesquisador.

A Polícia Federal brasileira, a Scotland Yard (Inglaterra), o FBI (Departamento de Investigação Federal dos EUA) e outras polícias do mundo usam a Microscopia Eletrônica de Varredura Acoplada. Por esse método, no momento em que a pessoa faz o disparo, a pressão e a temperatura são muito altas. O chumbo, o bário e o antimônio se condensam em formato de esferas, o que possibilita a perícia por meio da morfologia do resíduo. O problema, nesse caso, é que um microscópio é caro, e seria necessário um profissional especializado em microscopia para fazer as análises, nem sempre disponível no mercado.

Legislação

Diante dos métodos explorados atualmente, a tecnologia dos marcadores visuais por meio de substâncias luminescentes se sobressai às demais. Ela possibilita a identificação dos resíduos em toda a cena do crime de forma imediata, somente com a utilização de uma lâmpada ultravioleta. No momento da perícia, pode-se identificar a posição do suspeito, se ele atirou de fato ou se só manipulou a arma e a localização dele no momento do disparo. Além disso, tiram-se as dúvidas se a vítima foi assassinada ou se cometeu o suicídio.

Os testes para verificar a eficácia da tecnologia mostram resultados satisfatórios. Seria preciso, no entanto, que uma lei determinasse a fabricação dos cartuchos das armas com os marcadores visuais. Não seria necessário alterar o processo de produção industrial, segundo os pesquisadores, e o custo por cartucho seria inferior a US$ 0,20 (cerca de R$ 0,40). ;Esse foi o preço da primeira geração dos marcadores. Estamos na terceira ou na quarta, e o preço caiu muito. É muito mais barato. Falta somente vontade política para que entrem no mercado;, avaliou Marcelo Oliveira.

Com a aprovação e o investimento, seria possível, por exemplo, diferenciar as armas de uso policial daquelas utilizadas por civis. Logo, se um criminoso cometesse um homicídio com um arma oficial seria possível identificá-lo imediatamente. O Correio tentou ontem contato com a Polícia Federal, mas, até o fechamento desta edição, não obteve resposta.

Brilho

A luminescência só ocorre quando uma substância emite luz após ser submetida a algum tipo de estímulo, como iluminação, reação química e radiação ionizante.

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