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Médico vai recorrer da interdição

Segundo o advogado de Carlos Cury, o profissional, acusado de mutilar pelo menos 15 mulheres em Manaus e causar a morte de duas pacientes, quer voltar a exercer a medicina em Rondônia

postado em 05/09/2013 12:30

Dóris Areal organizou um grupo para fazer uma denúncia coletiva

Excluído do Programa Mais Médicos do Ministério da Saúde, o médico e ex-deputado federal Carlos Jorge Cury Mansilla, 56 anos, recorrerá da decisão do Conselho Regional do Estado de Amazonas (Cremam) que o impede de exercer a profissão temporiamente em qualquer lugar do Brasil. Cury alega ser inocente das denúncias de mutilar pelo menos 15 mulheres e causar a morte de duas pacientes de Manaus. Em entrevista ao Correio, ele afirmou: ;nunca vou deixar de ser médico;.
A declaração foi dada pelo profissional antes de deixar o programa em Águas Lindas de Goiás (GO). O Ministério da Saúde o excluiu, depois de o Correio revelar, na última terça-feira, as suspeitas de lesões em pacientes e que o registro do médico estava interditado pelo Cremam, pois atuava como cirurgião plástico sem contar com especialização. Segundo o advogado de Cury, Lymark Kamaroff, o próprio cliente desistiu de assumir o cargo, assim que soube da repercussão do caso na mídia.

Carlos Cury deixou o Hotel das Alterosas, em Águas Lindas, na manhã de terça-feira. De acordo com Kamaroff, o suspeito foi diretamente para o Aeroporto Internacional de Brasília e comprou passagem no primeiro voo com destino a Manaus. De lá, seguiu para Porto Velho, onde vive com a família. Em princípio, usará a renda de parentes para se sustentar. ;Enquanto não resolver o registro do CRM, ele ficará afastado das atividades médicas;, garantiu o advogado.
Além da licença para a prática da medicina no Amazonas, o médico contava com um registro válido pelo CRM de Rondônia. Por causa desse cadastro, ele conseguiu se inscrever no programa do governo federal. Após a repercussão da reportagem, o Conselho Federal de Medicina inviabilizou os dois registros.

Segundo o presidente do Cremam, Jefferson Jezini, a interdição do CRM de Cury foi feita após a realização de auditorias e sindicâncias sobre as denúncias das mulheres de Manaus, porém os detalhes não foram revelados, porque o processo tramita em sigilo. Várias vítimas contaram ter passado por exames na entidade. Lymark Kamaroff acusa o Cremam de não ter realizado laudos técnicos, o que poderia comprovar a negligência do cliente.
Depois da tentativa fracassada de Cury em trabalhar no Mais Médicos, o advogado recorrerá da decisão. ;Primeiro, queremos que o Cremam escute o que o Dr. Cury tem a dizer sobre as acusações.; O próprio médico assumiu não ter especialidade médica em cirurgia, entretanto, trabalhou por 28 anos como cirurgião-geral do Hospital Regional de Guajará-Mirim, em Rondônia. Para Carlos Cury, as mulheres fizeram denúncias porque ficaram insatisfeitas com os resultados.

Depressão

A corretora de imóveis Dóris Areal, 52 anos, conta ter sofrido diversas sequelas após passar por quatro cirurgias com Cury, em 2010. ;Eu saí toda aleijada do hospital. As aréolas dos meus seios ficaram de tamanhos diferentes;, recorda. Após as operações, Dóris viveu uma depressão profunda por dois anos. ;Só em 2012, tive força para lutar contra esse médico;. A corretora publicou fotos do próprio corpo em uma rede social. Com isso, outras supostas vítimas entraram em contato.
;Eu tenho uma melhor condição e consegui pagar por sete cirurgias reparadoras, mas conheci mulheres que estão sofrendo e não tem esperança de justiça;. Em fevereiro deste ano, ela e outras vítimas entraram com uma representação no Ministério Público Federal (MPF). O documento acusa o profissional de ser responsável pela mutilação de 15 mulheres e pela morte de duas pacientes.

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