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HUB enfrenta estado crítico

Com problemas de falta de medicamentos e aparelhos defeituosos, Hospital Universitário de Brasília encara também uma greve de servidores técnicos administrativos. Até julho, funcionários de carreira devem ser substituídos por concursados

postado em 16/04/2014 10:22
Os servidores estão em paralisados, prejudicando o trabalho no HUB: atendimentos agendados foram suspensosProblemas no fornecimento de materiais e na manutenção de equipamentos têm prejudicado o atendimento do Hospital Universitário de Brasília (HUB) em diversos setores. Da emergência à oncologia, é comum que faltem medicamentos essenciais à rotina da unidade de saúde. Áreas que dependem de diagnóstico por imagem também são afetadas pela interrupção no funcionamento de aparelhos, como o de raios X. O caso mais recente é o da Emergência do HUB, que limitou os atendimentos àqueles em que há o risco de o paciente morrer. Também faltam profissionais no HUB. Não bastassem os servidores técnicos administrativos da Universidade de Brasília (UnB) estarem em greve desde 17 de março, o quadro de funcionários vem sendo alterado em razão da transferência da gestão do hospital para a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).

A mãe de Marta*, 56 anos, foi internada na emergência do HUB na última quinta-feira com fortes dores. A paciente de 77 anos tem câncer e precisou esperar quase uma hora por uma dose de dipirona aplicada na veia, na madrugada de segunda-feira. ;Eu tive que praticamente implorar por uma aplicação para minha mãe. Ela estava com muita dor e não tinha o medicamento no andar em que ela ficou internada;, reclama.

Até mesmo remédios para o tratamento de câncer faltam na instituição, segundo a mulher. ;Tem alguns que a gente compra na farmácia e traz para ela tomar porque aqui não tem;, continua. Ela conta que começou a frequentar as instalações do hospital universitário em 2012 e que, desde então, percebe uma piora na prestação de serviços. ;Quando comecei a trazer minha mãe aqui para o tratamento, não era tão ruim. De uns tempos para cá, a situação se agravou muito. Até mesmo os funcionários, que sempre nos atenderam bem, estão mais estressados;, avalia.

O esvaziamento das prateleiras da farmácia é acompanhado detalhadamente por quem está na linha de frente da unidade. ;A gerência de insumos é um problema crônico. Muitas vezes, os remédios ficam em falta porque não há um planejamento para a compra deles por licitação. Há recursos para isso, falta gestão;, analisa o estudante de medicina Danilo Amorim. Ele destaca ainda que os aparelhos da área de imaginologia também deixam a desejar quanto à manutenção. ;Com isso, a clínica médica e a emergência são umas das áreas prejudicadas pela falta de peças e pela interdição dos equipamentos;, destaca.

Mão de obra
A diminuição do quadro de funcionários também colabora para o agravamento da situação do HUB. Isso se reflete, inclusive, no aprendizado dos estudantes, na avaliação de Mariana Santana, integrante do Centro Acadêmico de enfermagem da UnB. ;Faltam médicos, enfermeiros. Eles estão saindo, com as mudanças feitas pela Ebserh. Não conseguimos lidar com toda a demanda e não conseguimos dar boa qualidade aos atendimentos à população;, diz. A estudante conta que alguns pacientes voltam para casa sem receber a atenção devida. ;Eu fico no ambulatório de estomaterapia e tem pacientes que saem muito tarde de lá sem que consigamos realizar os procedimentos;, relata.

Em nota, o HUB informou que a carência de profissionais na emergência deve ser suprida com a realização de novo concurso público para preenchimento de vagas nas áreas médica e assistencial, que está com inscrições abertas até o dia 22. Com relação ao equipamento de raios X, o hospital ;aguarda a aquisição de uma peça, indisponível no mercado local, para conserto do aparelho;.

A Ebserh assumiu a administração do HUB e de outras 36 instituições de saúde ligadas às universidades federais em 17 de janeiro de 2013. Desde então, tem feito a substituição de funcionários contratados pelo Sistema de Cadastramento Unificado de Prestação de Serviço (Sicap) por servidores aprovados em concurso público. A lista de convocados foi divulgada em 16 de janeiro deste ano, e a meta é que, a cada bimestre, 250 concursados assumam as funções dos trabalhadores do Sicap. Até julho, o processo deve ser finalizado.

No entendimento do coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (Sintfub), Mauro Mendes, a demissão pode comprometer a qualidade dos serviços prestados. ;Não somos contra concurso público, mas simplesmente demitir os prestadores Sicap pode fazer com que o HUB perca profissionais especialmente treinados para desempenhar as atividades que realizam. Temos médicos e enfermeiros contratados nesse regime com mais de 15 anos de trabalho no hospital;, argumenta Mendes. Dessa forma, o sindicato negocia com a Ebserh uma alternativa de contratação sem o desligamento total deles da instituição de saúde.

*Nome fictício a pedido da entrevistada

Reivindicações

A universidade disse ter entrado na Justiça para tentar suspender a paralisação. O pedido ainda não foi julgado. Os servidores técnicos administrativos querem a reestruturação do plano de carreira, melhorias salariais e jornada de trabalho de 30 horas semanais. As reivindicações serão levadas à reunião do Conselho Universitário do próximo dia 15.

UTI fechada

Em agosto de 2013, a Unidade de Terapia Intensiva do HUB foi fechada para reforma e deveria ser entregue em janeiro deste ano. O prazo, no entanto, foi estendido a maio por causa de ajustes no projeto e da demora na entrega de equipamentos pelos fornecedores. De acordo com a assessoria de imprensa do hospital, até a conclusão da obra, ainda devem ser realizados testes no ar-condicionado, correções de serviços de pintura e marcenaria e instalação de vidros no corrimão externo. A inauguração da nova UTI depende da contratação de novos profissionais de saúde por meio de concurso público para as áreas médica e assistencial. Além disso, a reforma da UTI neonatal e na maternidade começou em dezembro e deve acabar em julho.

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