postado em 08/07/2015 12:31
Quando Luiz Fernando Leal, na época com 13 anos, voltou um dia da praia de Botafogo após assistir a uma corrida de aviões e contou aos pais que queria ser piloto de caça, eles não entenderam muito bem o que aquilo significava. Mas era tarde demais para desconversá-lo: a imagem dos enormes objetos fazendo manobras no céu não sairia mais de sua cabeça. Alguns poucos graus de miopia obrigaram Luiz a abdicar do sonho de criança, mas não foram capazes de vencer a força de sua determinação.Sete anos depois, a cabine de pilotagem ficou pequena para o tamanho da ambição do carioca, aprovado em janeiro do ano passado no curso de engenharia aeroespacial do Florida Institute of Technology, na cidade de Melbourne ; o centro do setor espacial norte-americano (conhecido como Space Coast), onde se encontra o Cabo Canaveral e a Nasa (sigla em inglês de National Aeronautics and Space Administration ; Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço).
Muitos degraus precisaram ser galgados para chegar até ali, no entanto. O interesse em sonhar mais alto ; literalmente ; começou quando, aos 15 anos, ele ingressou no Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet-RJ), onde descobriu o mundo das olimpíadas científicas. Participou inúmeras vezes nas mais diversas modalidades e conquistou vários prêmios, mas seu maior ganho foi a descoberta da paixão pela astronomia, que seria decisiva para a criação de sua nova meta de carreira: cursar engenharia aeroespacial.
[SAIBAMAIS] Apesar de algumas universidades brasileiras oferecerem o curso, o adolescente sempre soube que o grande polo de efervescência e inovações dessa indústria não ficava abaixo da linha do Equador, e não pôde ignorar tal fato. ;Quando uma pessoa encontra o seu caminho no mundo, não mede esforços para segui-lo nem se contenta com menos;, diz. Decidiu então que prestaria vestibular nos Estados Unidos. Só havia um problema: ele não tinha conhecimento em língua inglesa, e seu pai só pôde pagar por seis meses de aulas.
Determinação
Assim, no início de 2012, quando cursava o 2; ano do ensino médio e tinha apenas 17 anos, Luiz Fernando começou a desvendar o idioma por conta própria. Estudava no ônibus, no intervalo das aulas e no almoço. Acordava às 5h para ouvir a rádio da CNN e treinar a audição. Via filmes e séries sem legenda, comprou uma gramática que devorava, pegou livros de apoio emprestado e chegou a criar um grupo de conversação com amigos. Investiu completamente nisso ao longo de dois anos para estar pronto para as provas, em novembro de 2013, e passou em três das sete universidades em que se inscreveu. Só um brasileiro além dele conseguiu uma vaga no instituto escolhido, mas a história ainda está longe de terminar.
Os custos da Florida Tech, como é conhecido a instituição de ensino, são altos. Mesmo com a bolsa de 43% da anuidade concedida ao estudante, os US$ 21.240(cerca de R$ 63.720) restantes são impraticáveis para o orçamento da família, e ele não pode trabalhar legalmente no país de destino ; não de maneira que cubra seus gastos.
Inabalável, o carioca iniciou um projeto de crowdfunding on-line chamado Astronando, ao qual se dedicou integralmente de maio a julho de 2014 e que o deixou US$ 10 mil (cerca de R$ 30 mil) menos distante da realização de seu sonho. Mas ainda ficaram faltando mais de US$ 20 mil a serem obtidos em apenas um ano ; já que o prazo oferecido a ele vai até 20 de julho deste ano. E isso sem considerar os outros três anos de duração do curso e os gastos extras de moradia, alimentação e plano de saúde. Luiz foi também desenganado pela universidade quanto a um emprego como zelador no câmpus, com o qual ele estava contando.
Nesse meio tempo, ingressou como bolsista na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC - RJ) e lá iniciou um startup de tecnologia com um amigo, o que diminuiu exponencialmente sua disponibilidade para trabalhar no crowdfunding, que, por isso, passou a render cada vez menos. Pela primeira vez, o estudante considerou largar o grande sonho e investir no empreendedorismo. Chegou inclusive a tentar devolver o dinheiro arrecadado em seu projeto, mas a maioria dos doadores se recusou a aceitar o ressarcimento.;Comecei a ficar chateado por ter de abrir mão de outro sonho, como quando era mais novo, mas depois percebi que um problema financeiro é bem mais remediável que um problema de saúde, e resolvi tentar de novo;, afirma.
Agora ele aguarda resposta das empresas brasileiras que contatou no início do ano ; como Embraer e Helibrás ; e do Ministério da Educação (MEC) e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTi), mas, a menos de duas semanas do prazo final, não há tempo a perder. Quando perguntado sobre quais suas perspectivas caso consiga algum patrocínio, afirma que quer trabalhar na área de criação de foguetes e aproveitar ao máximo todas as oportunidades que puder para poder voltar e retribuir o Brasil. ;Quando vejo na internet os projetos que estão sendo criados lá, só consigo pensar que é aquilo que eu queria estar fazendo;, diz. O email para contato do estudante é astronando@gmail.com