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Sindicato de faculdades defende política pública para o ensino superior

Entidade apresentou documento que traz recomendações e propostas para regulamentar o funcionamento de cursos em universidades públicas e particulares em audiência na Câmara dos Deputados

postado em 16/08/2017 08:00

Fábio e Rodrigo, do Semesp, exibem o relatório elaborado pela instituição

Nesta terça-feira (15), o Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp) deu o primeiro passo para que o Brasil ganhe uma política pública específica para o ensino superior nacional (público e particular). Rodrigo Capelato, diretor executivo e assessor para assuntos econômicos da entidade, e Fábio Reis, diretor de Inovação Acadêmica e Redes de Cooperação, estiveram em Brasília para apresentar o documento Diretrizes de política pública para o ensino superior brasileiro. O texto inédito foi anunciado durante audiência pública na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. A boa notícia é que eles saíram de lá com a garantia de que será promovida outra audiência pública, ainda sem data definida, para tratar especificamente do assunto. Dividido em 11 eixos ; governança, regulação e supervisão, avaliação e qualidade, financiamento, pós-graduação e pesquisa, inovação acadêmica, tecnologia e educação digital, formação de professores, relação com outros setores, internacionalização, e formação de redes de cooperação ;, o arquivo propõe que seja elaborada uma política nacional para o ensino superior e traz uma série de recomendações.


Segundo Rodrigo Capelato, a ideia nasceu da falta de uma norma estruturante para reger o setor, o que o deixa vulnerável às alterações e oscilações do comando do Poder Executivo. ;Nem falo de mudança de governo: ao se mudar ministro ou secretário (de Educação), mudam-se completamente as diretrizes;, observa. A inspiração também veio de experiências externas. ;Há exemplos de vários países, como a Coreia do Sul, que tem planos para o ano que vem, para daqui cinco, 10 ou 20 anos. Eles olham lá para a frente. O nosso problema é não ter um norte aonde queremos chegar: há políticas de governo, mas não de Estado.; O diretor executivo pondera que ;o documento elaborado pelo Semesp não é uma política pública, mas uma base para começar a discutir o assunto;. O relatório prevê mudanças que podem alterar profundamente as instituições de ensino superior públicas, por exemplo, no que diz respeito a financiamento e regime de trabalho dos servidores. O texto defende que seja adotado um formato laboral diferenciado, permitindo regras próprias de administração de recursos e de contratação e demissão de pessoal acadêmico e administrativo.

;Entendemos que a governança, tanto nas universidades públicas quanto nas particulares, tem que ser profissionalizada;, justifica Rodrigo Capelato. ;A universidade pública precisa mudar seu modelo de gestão. Mas essa profissionalização também deve se aplicar à universidade privada, pois quando ela têm acesso a recursos públicos ; por meio de ProUni (Programa Universidade para Todos) ou Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) ;, também deve satisfações à sociedade;, defende. Ele vê em outros países bons exemplos que podem servir de inspiração. ;Na Dinamarca, por exemplo, a autonomia acadêmica é respaldada pelo cumprimento de metas, pelo compromisso com resultado, pela transparência e pela prestação de contas;, afirma. Outra mudança polêmica seria com relação ao pagamento: o Semesp defende que o ensino superior público seja pago para quem tem condições de pagar e gratuito para quem não tem.

Acesse o relatório do Semesp na íntegra clicando .

Futuro conectado

Uma das propostas do Semesp é intensificar a internacionalização do ensino superior brasileiro, também em faculdades de médio e pequeno porte que, segundo Fábio Reis, têm mais dificuldade de firmar parcerias internacionais. ;Isso precisa ser estimulado para que mais pessoas tenham acesso;, comenta o diretor. No entanto, nem tudo precisa ser viabilizado por meio do deslocamento de pessoal. ;Entendemos que existem ;n; formas e fazer isso que não são apenas o intercâmbio de alunos e professores, que custa muito caro. O Ciência sem Fronteiras, por exemplo, alcançou pouca gente;, analisa o diretor executivo Rodrigo Capelato. ;Há o conceito da internacionalização em casa, promovida por meio de plataformas digitais;, observa. Ele acredita, inclusive, que as tecnologias podem ser melhor aproveitadas para modernizar a educação nacional.

;Tem aquela velha piada que diz que, se uma pessoa congelada há 100 anos acordasse agora, ficaria desesperada ao se deparar com TV, metrô e várias mudanças. No entanto, se ela entrar em uma sala de aula, dirá ;ufa;, pois nada mudou. Mas estamos vivendo exatamente o momento de mudar isso, não só pelo incentivo da tecnologia, mas também pelas novas tendências de metodologia de ensino;, diz Capelato. Segundo Fábio Reis, o ensino superior para atender as demandas do futuro precisa ser criativo, pautado em empreendedorismo e com vinculo com a sociedade. ;Todos os cursos podem trabalhar para responder a desafios como moradia, energia, exclusão, alimentação;, garante. Na visão dos diretores do Semesp, as pós-graduações brasileiras também precisam passar por atualização. ;Nosso modelo nasceu lá atrás, quando não tínhamos nada e outros países já estavam desenvolvidos. Pegamos o modelo de doutorado de outros países e criamos um mestrado extremamente acadêmico e profundo, com nível de doutorado. Nos Estados Unidos, porém, o mestrado é uma sequência da graduação;, compara Rodrigo Capelato. ;Uma das nossas sugestões é ter mestrados mais profissionais e deixar para quem quer fazer carreira acadêmica o doutorado.;

Cursos de tecnologia

O relatório do Semesp critica o fato de apenas 10% das matrículas de ensino superior serem feitas em cursos de tecnologia, os chamados tecnólogos, que são graduações mais curtas (em geral, de dois anos de duração) e práticas. Enquanto isso, em países como Estados Unidos, Coreia do Sul e Alemanha, cerca de 50% das matrículas no ensino superior concentram-se nesses cursos. ;O problema é que não conseguimos implantar essa cultura e ficamos nos tradicionais bacharelados. Há uma desvalorização e, em função disso, desconhecimento em torno dos cursos tecnólogos;, analisa o diretor executivo do Semesp. Ele alerta ainda que, sem maior adesão a esses cursos, ficará muito difícil atingir a meta 12 do Plano Nacional de Educação (PNE) que estabelece que 33% dos jovens estejam no ensino superior até 2023; hoje o índice é de 18% ; taxa vexatória na opinião de Capelato.

;Temos 3 milhões e meio de alunos e precisaríamos de mais 3 milhões e meio. Imagine colocar essa quantidade nos tradicionais bacharelados: seriam mais 3 milhões de pessoas fazendo direito, administração, ciências contábeis ; áreas em que já há saturação.; A solução, na visão dele, seria inserir os novos alunos em mais cursos do tipo, que podem trabalhar áreas como jogos digitais, radiologia, empreendedorismo, produção visual. ;São graduações que vão atender mais rapidamente as demandas da sociedade e serão as profissões do futuro. Além disso, seria mais eficiente para o mercado de trabalho;, comenta. Com relação a financiamento, isso traz vantagens. ;Com o valor que financio o estudo de um aluno de direito, é possível custear três em cursos tecnológicos;, compara.

Elaboração

O compilado de propostas foi escrito a partir da experiência do sindicato e das colaborações de especialistas de diversas áreas, como Simon Schwartzman, pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade do Rio de Janeiro; Liz Reisberg, pesquisadora do Boston College e consultora internacional; Claudio Rama, consultor internacional e ex-diretor do Iesalc (Instituto Internacional da Unesco para a Educação Superior na América Latina e no Caribe); e José Moran, professor de novas tecnologias da USP (Universidade de São Paulo). ;Procuramos compor uma equipe de especialistas nos temas que abordamos e que representam outras visões e olhares. É um texto do Semesp, mas é algo mais sistêmico e global;, observa Fábio Reis. O Semesp fará o lançamento oficial do documento Diretrizes de política pública para o ensino superior brasileiro durante o 1; Congresso de Políticas Públicas para a América Latina nas próximas quinta-feira (17) e sexta-feira (18) em São Paulo.

Segundo o presidente do Semesp, representantes do MEC (Ministério da Educação) comparecerão ao encontro e têm mostrado abertura para a conversa sobre uma política pública do ensinio superior. ;O MEC está ciente disso e a discussão começou com eles;, explica Capelato. O evento é organizado pela entidade em colaboração com o Iesalc (Instituto Internacional da Unesco para a Educação Superior na América Latina e no Caribe), a União das Universidades da América Latina e Caribe e a Rede Latino Americana de Associações de Universidades Privadas. O conteúdo das páginas também deverá orientar os debates sobre políticas para o ensino superior durante a Conferência Regional da América Latina organizada pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em Córdoba (Argentina), em 2018, com a participação do Semesp.

Sobre o Semesp

Criado em 1979, trata-se de um sindicato com caráter associativo com 537 associados. Tem sede em São Paulo, mas atuação nacional e tem por objetivos proteger e defender o segmento privado do ensino superior.

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