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Brasilienses participam de competição nacional de construção de miniaviões

Alunos da UnB e da Unip vão representar o DF no Sae Brasil Aerodesig, que envolve equipes de mais de 15 estados e dois países latino-americanos

Igor Caíque*
postado em 23/10/2017 17:48
A 19; Competição Sae Brasil Aerodesign começa nessa quinta-feira (26) em São José dos Campos (SP). O evento existe desde 1999 e envolve alunos de engenharia de todo o país. O objetivo é aliar a teoria ensinada em sala de aula com prática aplicada por meio dos desafios desenvolvidos pelos organizadores. Em 2017, três equipes vão representar o Distrito Federal: Mamutes do Cerrado, da Universidade de Brasília (UnB) no Gama; Draco Vollans, do câmpus Darcy Ribeiro da UnB e Antonov, da Universidade Paulista (Unip).

A competição consiste em construir protótipos de miniaviões radiocontrolados. Eles devem voar carregando um peso, que deve ser no mínimo o dobro do peso do protótipo, descarregá-lo durante o voo e fazer mais uma volta no céu. Quem apresentar o melhor voo e gastar menos tempo para montar e desmontar as peças, bem como desenvolver o melhor relatório escrito falando sobre o desenvolvimento do projeto, ganha a competição.

Há três categorias: regular (com aviões movidos a combustão), micro (aviões movidos a baterias elétricas) e adversati, que trabalha com qualquer tipo de motor. Neste ano, o encontro reúne 1,1 mil alunos de engenharia de 15 estados e do Distrito Federal, além de estudantes do México e Venezuela. Ao todo, são 95 aviões inscritos na competição, que se estende até domingo (29). O projeto vencedor ganha R$ 8 mil reais, diploma de honra e uma viagem aos Estados Unidos para representar o Brasil no campeonato mundial.

Antonov
A equipe Antonov participará pela décima vez da competição. ;Houve uma ascensão muito rápida nas últimas edições e isso é muito positivo para nós;, afirma o capitão da equipe, Rafael Magela, 26 anos, aluno do 10; semestre de engenharia mecatrônica. A equipe, que compete pela categoria micro, ficou em 14; em 2014 e, em 2015, ocupou a 9; colocação. No ano passado, foi a vice-campeã e, por pouco, não levou o grande título. ;Não fomos tão bem na parte teórica e isso custou pontos importantes;, explica o capitão. Para 2017, a expectativa é ser a campeã da categoria e, para isso, eles têm desenvolvido um protótipo feito de fibras de carbono e num referencial teórico mais elaborado.
A equipe Antonov foi a vice-campeã no ano passado e, neste ano, prepara um protótipo diferente para faturar o título.
O grupo é formado por sete alunos, todos de engenharia mecatrônica ou elétrica, que contam com o apoio da Unip, que anualmente libera um montante avaliado em R$ 15 mil para o desenvolvimento do projeto. ;Além disso, a gente conta com um laboratório muito bom. Esse amparo é essencial, pois, se fôssemos custear tudo, seria muito difícil fazer um trabalho de alto nível, visto que nós temos que pagar a mensalidade da faculdade e os cursos extras;, explica o capitão. O avião deste ano pesa cerca de 2,5 kg e foi projetado para carregar até 10 kg.

A Antonov não conta com nenhum aluno de engenharia aeroespacial ou aeronáutica (cursos que estudam diretamente a construção de aviões) e isso é uma dificuldade entre os membros, segundo Rafael Magela. Mas para o professor-orientador, Ricardo Alvarenga, essa é uma oportunidade de ampliação de conhecimentos. ;A aplicação de conceitos na prática é um ganho sem igual. Além disso, o desenvolvimento do projeto envolve as demais engenharias, inclusive a mecatrônica e a elétrica;, explica o docente, que é o piloto do protótipo na competição.

Mamutes do Cerrado
A equipe caçula entre os representantes do DF é a da UnB no Gama, Mamutes do Cerrado. Os 22 integrantes estão no segundo ano de competição. O ímpeto de organizar uma equipe na UnB do Gama surgiu em 2015. Já no primeiro ano de competição, em 2016, conseguiram uma posição de destaque, o 12; lugar. ;As trinta melhores equipes são automaticamente classificadas para a edição do próximo ano, então conseguimos um feito incrível!”, destaca a capitã da equipe Laís Rocha, 22.
A equipe Mamutes do Cerrado pretende ficar entre os cinco primeiros e, para isso, projetou um avião com peças em 3D.
No ano passado, os integrantes não tinham experiência na competição, mas isso não foi o suficiente para ofuscar o êxito dos alunos. ;Fizemos um avião com palito de churrasco, plástico e isopor. Ninguém acreditava que ele voaria, mas surpreendemos todo mundo;, avalia Laís. Nesta edição, o avião foi construído com madeira balsa e fibras de carbono. O projeto custou cerca de R$ 4,5 reais, dinheiro oriundo de financiamento da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Fiantec) e das xerox que os integrantes da equipe tiram para alunos de toda a instituição. ;Muita gente de outros cursos nos ajuda bastante;, garante a capitã.

Laís Rocha é aluna do 9; semestre de engenharia aeroespacial da instituição e acredita que o projeto é capaz de sanar dúvidas que muitas vezes não são tiradas em sala de aula. O professor-orientador da equipe, Manuel Nascimento Barcelos, concorda. ;Eles acabam desenvolvendo a competência de trabalhar em equipe, ser proativo e organizado. É um projeto que os ajuda a resolver problemas e se a preparar melhor para o mercado;, afirma o docente.

Dos 22 integrantes, apenas quatro são mulheres. ;Houve uma época em que eu era a única mulher, mas aqui não tem isso. Todos se respeitam e se unem em prol da equipe;, garante Laís. O protótipo desse ano vai competir na categoria micro e foi projetado para carregar 4kg, o dobro do peso do avião. ;A falta de experiência é um empasse, mas nós estamos muito empenhados;. Lucas Ferreira Rossi, 23, é aluno do 7; semestre de engenharia aeroespacial e foi eleito o piloto da equipe. A pressão é grande. ;É o trabalho do ano inteiro e eu posso jogar por água abaixo. Minha mão fica suada, minha língua adormece, mas eu tenho treinado muito;, garante o aluno.


Draco Vollans
Entre os brasilienses, a Draco Vollans é a mais experiente. Surgida em 2003, a equipe conseguiu prêmios importantes ao longo dos anos. ;Ganhamos prêmios como melhor equipe estreante e melhor relatório;, afirma o atual capitão, Abraão Ferreira de Sousa, 21, aluno do 8; semestre de engenharia mecânica da UnB. Ele é membro da equipe desde 2015 e, para este ano, projetou um avião para competir na categoria regular. ;Nosso avião pesa 2,3 kg e pretendemos carregar até 12kg;, explica.
A equipe é a mais antiga entre as representantes do DF e acumula diversos prêmios.
O projeto custou cerca de R$ 20 mil, valor pago, em sua maior parte, pelos 24 membros da equipe. Em razão disso, a questão financeira tem sido um empasse. ;A instituição forneceu um bom laboratório e um ônibus para nos levar a São José dos Campos, mas os materiais são muito caros;, afirma. Apesar da dificuldade, os alunos seguem empenhados e pretendem manter-se no topo da competição. ;Nossa melhor posição até aqui foi o quinto lugar, mas a categoria em que competimos é a mais concorrida. Essa posição, portanto, é um feito que nos deixa muito orgulhosos e motivados;, diz o capitão. Para o voo, a equipe contratou um piloto para que não haja chances de erros. Esse é um diferencial da Dracon Vollans. ;Vamos deixar um legado para que, nos próximos, a excelência continue sendo nossa marca;, conclui o estudante.
Capacitação
Tarik Orra, diretor da comissão técnica do evento afirma que o desafio é uma oportunidade de ampliação de conhecimentos. Essa chance, segundo ele, prepara os candidatos, com mais precisão, para o mercado de trabalho. "O fato de ser campeão de uma competição de engenharia de nível nacional traz um elemento valioso no currículo de qualquer competidor", afirma o dirigente. Ele garante, ainda, que o projeto desenvolve competências que os alunos, geralmente, não sabem que possuem e que "traz a oportunidade de aprender, na prática, aspectos técnicos que muitas vezes são apenas vistos em sala de aula."
*Estagiário sob supervisão de Jairo Macedo.

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