Em meio a um universo de aproximadamente 5 milhões de candidatos que fizeram o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) em 2017, apenas 53 alcançaram a pontuação máxima na redação. O tema "Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil" foi bastante comentado nas redes sociais e causou polêmica, sendo considerado difícil por boa parte dos inscritos e até por professores. A gaúcha Júlia K;chler, 18 anos, natural de Santa Rosa (RS), integra o seleto grupo de participantes que obteve a tão sonhada nota mil. "Foi uma verdadeira surpresa." É assim que a jovem define a sensação de conferir o boletim de desempenho e encontrar a pontuação máxima na parte de redação. Sem coragem para abrir a página do participante, Júlia chegou a pedir que a irmã que o fizesse. ;Depois que vimos, nós duas começamos a gritar e eu não sabia o que fazer. Eu acho que não caiu a ficha ainda;, diz.
A surpresa se deve ainda ao fato de ela admitir que não se saía bem em português durante o ensino médio, concluído em 2016. Ao perceber o problema, Júlia, que quer cursar medicina, decidiu que o foco dos estudos dela em 2017 seria a prática da escrita. "Para compensar as dificuldades, busquei melhorar os pontos fracos e perguntar à professora para ir melhorando sempre", conta. A rotina de estudos era regrada. ;Eu tentava fazer, no mínimo, uma redação por semana sobre temas diversos. Além disso, procurava dados do tema, me munindo de informações que ajudassem na argumentação. Eu e minhas amigas fazíamos redação e trocávamos para ter ideias diferentes e conhecer novos jeitos de escrever", lembra. "O sucesso no Enem veio basicamente de treino.;
A estudante teve contato com o assunto da redação do ano passado, de forma geral, durante um de seus treinos no ano passado. ;Eu tinha feito uma redação sobre os desafios dos deficientes no Brasil. Como a questão dos surdos é muito delimitada, aproveitei pouco do que tinha pensado na época", diz. Na hora da prova, até mesmo ela se assustou com o assunto cobrado. "Fiquei um pouco abalada, achei muito específico, pois a proposta delimitou o tipo de deficiência e o âmbito de discussão. Eu prestei muita atenção na frase motivadora e coloquei todas as palavras que estavam nela ao longo das línguas. Abordei bastante a formação profissional para não fugir do que era pedido;, acrescenta Júlia.
Em 2017, ela fez cursinho no Fleming Medicina e conta que o feedback dos professores foi essencial. ;Depois que eu fazia a redação, eu entregava e recebia a correção por escrito. Havia também um plantão para conversar sobre o assunto e indicar no que eu deveria melhorar, de acordo com as competências do Enem.; Em relação ao desempenho nas demais disciplinas, Júlia acredita que se saiu de acordo com o planejado e que confia na conquista da vaga no curso dos sonhos. ;Eu me saí bem", garante. Por isso, ela afirma que está ;esperançosa e otimista; com relação à chance de entrar na universidade.
Julia deixa dicas de como estruturar a redação para quem deseja tirar nota mil em 2018. A simplicidade bem construída é o mais importante na visão da jovem. ;O principal é manter os argumentos e as teses bem claras e explicadas. As frases devem ser bem elaboradas. Não precisam ser complexas, mas devem permitir entender o seu ponto de vista;, orienta. Quando questionada sobre que caminhos indica aos candidatos que, assim como a estudante, tiveram dificuldades com a escrita, ela reforça a importância de praticar. ;Tudo é uma questão de treino, de pegar e analisar bem a frase que foi proposta e buscar solucionar o problema. A partir das palavras usadas na frase proposta, seu texto vai sendo contado.;
Saiba mais
Estudantes de todo o Brasil tiveram acesso, nesta quinta-feira (18), às notas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2017 divulgadas pelo Ministério da Educação (MEC). Para conferir os resultados, basta ter em mãos o número do CPF e da senha e acessar a página do participante.
O espelho da redação, que detalha o desempenho dos inscritos em cada uma das cinco competências exigidas (escrita formal, estrutura dissertativa, argumentação, domínio dos mecanismos linguísticos e respeito aos direitos humanos) será disponibilizado para consulta individual apenas em 19 de março.
*Estagiário sob a supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa