A discussão sobre como executar uma redução de despesas na Universidade de Brasília (UnB) tem gerado polêmica. De um lado, a instituição tem um déficit orçamentário de cerca de R$ 92,3 milhões para 2018 e é preciso fazer algo para conter os gastos. Por outro lado, a maneira como a reitoria fará esse enxugamento gera preocupação: muitos terceirizados foram demitidos e, agora, cogita-se a possibilidade de mexer nos contratos de estagiários. Em reunião na última sexta-feira (23), a administração da universidade apresentou aos gestores institucionais dados sobre a situação econômica da UnB e as possíveis estratégias para contornar o problema. Uma das táticas envolverá os cerca de mil estagiários da instituição.
Estuda-se mudar a gestão dos contratos de estágio a partir de 30 de abril: até o momento mantidos pela administração central da UnB, eles poderão passar a ser de responsabilidade de cada unidade acadêmica especificamente (ficaria a cargo delas também o pagamento das bolsas). Vários diretores de departamentos ; como Simone Perecmanis, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV); José Morales Sanchez, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU); e Neuza Meller, da UnB TV ; demonstraram preocupação com essa possibilidade, por considerarem os estagiários essenciais para as equipes e a realização do trabalho, já que os estudantes em treinamento suprem a carência de pessoal.
Receio
Se o tema gera temor entre gestores, quem dirá entre os próprios estagiários, que poderão ser afetados pela medida e desconhecem as consequências reais que a medida poderá trazer. Há meses, eles têm observado as equipes diminuírem, já que a UnB não está contratando estagiários no momento. O estudante do 2; semestre de letras-espanhol Gleisson Barbosa, 23 anos, por exemplo, viu a equipe dele se reduzir a menos que a metade. ;No meu setor, eram sete no período da tarde; agora, só estão ficando três. A carga de trabalho aumento muito;, conta ele, que faz estágio há um ano na Secretaria de Administração Acadêmica (SAA). Há quem tenha passado a ter medo de ser desligado. ;No meu setor, não escutei nada sobre demissão; mas ouvi estagiários de outras áreas comentando sobre isso. Eu acredito que existe, sim, esse risco se houver alguma mudança;, aponta.
;Os estagiários têm de ser responsabilidade da própria UnB, da reitoria, e não de cada departamento;, defende. Além do receio de ser mandado embora, Gleisson levanta outra possibilidade problemática: a não renovação do contrato. ;Com certeza, fiquei com medo de isso ameaçar minha continuidade aqui;, diz. Gleisson cumpre carga horária de seis horas por dia, ganhando bolsa de R$ 520, além de R$ 130 de vale-transporte. O estudante é solidário com relação à situação dos terceirizados. ;A UnB precisa deles. É uma universidade muito grande, a maior de Brasília e uma das maiores do país. Uma instituição com um tamanho desses precisa de muita gente. Os cortes afetam a qualidade de todas as áreas;, observa. Nesta segunda-feira (26), cerca de 300 pessoas fizeram uma manifestação contra a redução da quantidade desses funcionários e outros efeitos dos cortes
Esclarecimento
A Secretaria de Comunicação da Universidade de Brasília (Secom/UnB) esclareceu que as decisões quanto os contratos de estágio ainda estão sendo analisadas e são cogitadas a fim de reduzir gastos. A pasta explicou ainda que a mudança não necessariamente geraria demissões em massa. Confira nota enviada por e-mail na íntegra:
"O assunto está em discussão devido às restrições orçamentárias por que passa a UnB no momento. A descentralização significa que as unidades acadêmicas e órgãos complementares poderão lançar mão do seu orçamento anual para manter os contratos de estágio que considerem fundamentais para a manutenção de suas atividades. Antes, os contratos de estágio eram custeados com o orçamento de manutenção geral da UnB."
Dê sua opinião
Na próxima quinta-feira (29), a reitoria promoverá uma apresentação pública, aberta à comunidade acadêmica, sobre a situação orçamentária da UnB. O evento está marcado para as 14h30, no auditório verde da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Gestão de Políticas Públicas (Face). Qualquer pessoa pode participar, dar sua opinião e questionar as atitudes da administração.