Trabalho e Formacao

Aventureiros e empreendedores

Apesar da falta de experiência e de capital, jovens inovadores se jogam de cabeça no desafio de tocar a própria empresa e aprendem que não basta ter uma boa ideia: é preciso saber como colocá-la em prática

postado em 01/09/2014 10:09

As motivações para empreender são muitas e envolvem a vontade de ser o próprio chefe, de fazer as coisas do seu jeito, de buscar uma alternativa para o desemprego ou mesmo de ter uma carga horária mais flexível. No entanto, muitas vezes, a decisão vem no início da carreira e desacompanhada de capital. Segundo especialistas, a falta de experiência e de dinheiro para investir não deveria ser impedimento. Esses fatores, porém, constituem barreiras extras para quem terá de lidar com folhas de pagamento, gestão e processos internos de uma empresa.

Para compensar a falta de experiência, Henrique Bejgel, Eric Salama e Rodrigo Coelho, fundadores da startup Splitplay ; a primeira loja on-line de jogos independentes da América Latina ;, investiram em quase dois anos de planejamento. ;Tivemos a ideia em 2012, e nos reunimos ao longo de 2013. Percebemos que existiam muitos jogos feitos por brasileiros, mas pouca gente sabia disso. Estamos criando um mercado, mostrando que há jogos brasileiros que vale a pena comprar;, conta Henrique, 21 anos. O trio foi selecionado pelo Start-Up Chile, programa governamental que apoia empreendedores em etapa inicial. Em Santiago, o grupo elaborou um planejamento e aprendeu técnicas de empreendedorismo durante um semestre para, enfim, lançar a empresa em 7 de maio. Segundo Henrique, com planejamento, a falta de experiência não foi problema para se lançar no mercado. ;Como empreendedor, você não precisa provar nada nem ter experiência. Você precisa ser bom naquilo que faz. O problema é ter uma ideia genial e não saber executar.;

Caminho inovador

Para Breno Adaid, coordenador do curso de administração do Centro Universitário Iesb, partir para o empreendedorismo sem bagagem profissional tem vantagens e desvantagens. ;Quem vai no peito e na raça está mais propenso a tomar decisões inesperadas e a ser inovador. Em compensação, há maior incerteza e maior propensão ao erro;, avalia. Adaid afirma que o investimento não precisa vir da própria poupança. ;É preciso ter dinheiro em caixa para suportar as turbulências iniciais, mas evite investir suas reservas. Quando você investe o que é seu, se há algo errado, você perde tudo sozinho e fica com dívidas. Quando você pega emprestado do banco, há juros, mas o banco assume o risco com você;, observa.

Aos 41 anos, o especialista em desenvolvimento de negócios digitais e mentor de empreendedores Conrado Adolpho entende tanto de falência quanto de sucesso. ;Comecei a empreender aos 23 anos. Montei um minicursinho pré-vestibular. Era um amadorismo que dava pena. O negócio durou dois anos e quebrou, e eu fiquei com uma dívida de mais de R$ 100 mil;, lembra. ;Eu sabia em quais pontos havia errado e pensei ;agora eu sei como fazer;. Decidi empreender novamente abrindo uma agência de marketing digital.; O último projeto foi o que deu mais certo. ;Criei uma editora digital e, em 12 meses, estamos chegando a um faturamento de R$ 3 milhões.;

Para Adolpho, que abriu os dois primeiros negócios sem nenhum investimento financeiro, falta de capital não é impedimento. ;Muita gente dá a desculpa de não ter dinheiro para começar. O negócio está dentro da sua cabeça, e não no banco. Você pode começar contando apenas com seus conhecimentos e realizar ações para atrair clientes, como palestras beneficentes;, afirma. ;As pessoas criam empecilhos para não terminar a árdua caminhada de montar um negócio, mas empreender vale muito a pena e traz amadurecimento e aprendizado.;

Perfis de empreendedores
Conheça brasilienses que se lançaram no desafio de abrir o próprio negócio
Doce alternativa

 (Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press   )

Flora Carucci, 26 anos, abriu o Santa Colher há 9 meses. Desde então, conseguiu conquistar uma cartela de clientes e produz cerca de mil brigadeiros por semana. ;Sou apreciadora de brigadeiros e sempre via as mesmas formas e embalagens. Daí surgiu a ideia de servir o brigadeiro na colher.; A proposta é que os docinhos ; dos mais variados sabores ; tenham um toque caseiro. ;É para parecer que estou comendo o brigadeiro da minha vó.; Os planos de virar empresária surgiram depois da graduação, quando Flora enfrentou dificuldade para arrumar emprego. ;Eu me formei em publicidade e fiz uma pós-graduação em administração, pensando em abrir um negócio. Se nada desse certo, eu já havia decidido que empreenderia.;
Ela chegou a trabalhar, durante oito meses, numa agência de publicidade, e na Câmara dos Deputados durante 10 meses. ;No começo, fiquei conciliando o trabalho com o brigadeiro, até sair de vez do emprego. Eu vi que dava um retorno melhor: faço meus horários, sou minha chefe. No começo, tive medo, mas hoje estou mais segura. Se continuar dando certo, quero abrir uma confeitaria.; Os conhecimentos adquiridos na pós foram úteis na hora de empreender. ;Fiz matérias sobre microempresa e matemática financeira que me ajudaram.; Segundo Flora, ;o registro de microeempreendedora individual dá segurança para tocar o negócio tranquila;.
Contato: instagram.com/santacolherdoces

Independência para empreender

 (Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press)

Jonathan Aires, 24 anos, tem planos ambiciosos e pretende conquistar o primeiro milhão de reais até dezembro do ano que vem com o escritório de corretagem de seguros e previdência, que abriu em fevereiro. ;E olha que estou abrindo uma segunda unidade em Belo Horizonte. Eu tinha expertise e uni o útil ao agradável;, comemora. A habilidade na área foi comprovada pelo prêmio Galo de Ouro, o maior do ramo, que Jonathan recebeu no ano passado, com 10 meses de atuação como corretor.
Essa não foi a primeira experiência com o empreendedorismo. ;Depois de desistir de três concursos públicos em que fui aprovado, fui trabalhar como assessor comercial numa escola de idiomas. No terceiro mês, eu era o melhor da equipe. Acabei batendo o recorde de matrículas, fui reconhecido, cresci e abri uma unidade de franquia da escola;, lembra. Empreender dentro desse formato se revelou limitador. ;Foi muito bom, mas chegou um momento em que eu tinha experiência em gestão e comércio e queria fazer do meu jeito. Eu me sentia engessado pelo padrão.; Depois de vender a unidade, Jonathan recebeu uma proposta para trabalhar com seguros. ;Saí do mercado de educação em 2012 e decidi montar meu negócio de maneira meritocrática sem depender de ninguém.;
Contato: www.compreonline.mongeralaegon.com. br/ jonathanaires

Mudando de área

 (Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press)


Girleide Rocha, 22 anos, resolveu empreender quando engravidou. ;Eu fazia laços para minha filha desde que ela nasceu porque os enfeites eram muito caros. As pessoas viam e queriam saber onde eu tinha comprado. Foi aí que comecei a vender para fora;, lembra. Em sete meses com o Ateliê de Princesa, ela conquistou clientes fixos até fora do DF, mas percebeu que não estava valendo a pena. ;O artesanato era trabalhoso demais para pouco retorno;, explica. O novo ramo de atuação surgiu por acaso. ;Fui fazer um cartão de visita em pequena quantidade. Vi que ia ficar muito caro imprimi-los na gráfica e percebi que dava para fazer em casa. Uma coisa levou a outra.;
A experiência como estagiária de web design durante o curso não concluído de ciência da computação, e um emprego em marketing renderam aprendizados e contatos para a papelaria personalizada. A graduação em comunicação organizacional que Girleide cursa traz conhecimentos para a nova profissão. ;O lucro é melhor porque o investimento é baixo: compro papel importado de um fornecedor em São Paulo e não gasto muito com a impressão. O principal investimento é o tempo. Aprendi a ter planejamento para esse novo negócio.;
Contato: www.girleiderocha.com

Três perguntas para

Carlos Alberto dos Santos, diretor-técnico do Sebrae

Quais as maiores barreiras que os jovens enfrentam para empreender?
A falta de experiência é a maior dificuldade, que faz com que jovens desistam do empreendimento, muitas vezes, no primeiro obstáculo. A melhor forma de evitar isso é se capacitar. Empreender é como andar de bicicleta. Você pode cair, mas aprende com cada erro.

Quais são as principais dicas para pessoas pouco experientes?
É preciso entender o mercado, o público e planejar o empreendimento. Abrir uma empresa é mais que apenas ter uma boa ideia. Uma dica para quem não tem experiência é associar-se a pessoas com mais vivência no mundo empresarial.

Que tipo de assessoria o Sebrae pode oferecer?
O foco do Sebrae é capacitar o empresário, mas oferecemos também soluções para estudantes, professores e escolas que vão ajudar os jovens a se prepararem. Para saber mais, ligue para o Call Center (0800 570 0800) ou acesse o portal www.sebrae.com.br.

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