Trabalho e Formacao

Boa estampa

Dono de quatro camiseterias, casal conquista clientela com imagens inovadoras, agressivas e apaixonadas. Modelos sobre Brasília se tornaram souvenirs da capital

postado em 13/10/2014 10:40
Dono de quatro camiseterias, casal conquista clientela com imagens inovadoras, agressivas e apaixonadas. Modelos sobre Brasília se tornaram souvenirs da capital
Um adolescente brincando de fazer estampas para sua banda de rock no Paint: assim foi o começo de um reino de camisetas criativas, desafiadoras e divertidas. O reinado ganhou o primeiro espaço físico há 11 anos e hoje conta com quatro marcas, que têm espaço cativo no coração e no guarda-roupa de brasilienses: Verdurão, Sete e Negroblue ; localizadas no Conic ; e A loja das camisetas legais ; na 112 Norte.

Quem começou tudo foi Pil Popsonic, 33 anos, mas hoje quem está à frente da administração dos negócios é sua esposa, Fernanda Popsonic, 32. A história desse casal de empresários começou na adolescência, quando Pil integrava uma banda de rock e cursava psicologia na Universidade de Brasília (UnB). Eles se conheceram por causa do grupo musical e logo começaram a namorar. ;Eu queria fazer uma camiseta para a banda. Inicialmente, desenhei no Paint Brush mesmo. Em eventos, as pessoas viam e se interessavam. Aí passei a fazer mais modelos, com imagens agressivas. Passei a vender camisetas em shows de rock, feiras e também na Kingdom Comics, no Conic.;

A primeira loja de Pil foi aberta em 2003. ;Ela se chamava Desacato, porque as camisetas eram agressivas. Depois, o nome teve que ser mudado: já existia uma marca que se chamava assim;, lembra Fernanda. Com o tempo, outros negócios foram abertos. ;Inauguramos mais lojas por marketing e para segmentar as camisetas por assunto;, informa Pil. Foi preciso ter muita perseverança para aguentar os 6 anos em que o negócio ficou sem dar lucro. ;Tivemos que nos esforçar muito para que começasse a dar retorno.;

Ideias para dar e vender

Uma peça de roupa confortável, comum e democrática pode se tornar um objeto de protesto, de declaração ; de amor ou de ódio ; e até de expressão artística. Depende da estampa. Causas e protestos, bicicleta, skate, amor por Brasília, gatos, filmes e séries; Quase tudo pode virar tema de uma boa estampa. As figuras fogem do óbvio e surpreendem pela criatividade. ;Verás que um filho teu não foge à luta;, ;O trabalho é a praga das classes bebedoras;, ;Salve o cerrado;, ;O mundo precisa de menos carros;, ;Salve a amazônia, queime um madeireiro; são alguns dos dizeres aplicados. Ilustrações irônicas e divertidas arrebatam clientes e causam identificação.

Cada marca tem um foco específico. As camisetas da Verdurão, aberta em julho de 2003, são focadas em criatividade. ;É bem livre e abarca todas as ideologias: causa gay, política, preservação ambiental;;, esclarece Pil. A Negro Blue, fundada em fevereiro de 2006, aborda o universo afro em diversas vertentes. ;Reggae, jazz, blues, hip-hop, cinema, religião, heróis, consciência negra: é um universo quase ilimitado.; As da Sete, inaugurada em dezembro de 2010, são sobre cultura pop ; filmes, músicas, bandas, videogames e séries ;, o que atrai muitos fãs. A última unidade, A loja das camisetas legais, criada em novembro de 2011, é a única cujos produtos não são autorais. ;Resolvemos ter um espaço para reunir todas as camisetas legais que existem por aí, mas que não foram feitas por nós;, explica Pil.

O perfil dos clientes muda a cada loja. ;Na Negro Blue, o público é mais fiel e um pouco mais velho: fica na faixa etária de 30 a 40 anos. Na Verdurão, o público vai de 20 a 40 anos e não é sempre o mesmo: pode ser uma compra fiel ou alguém que frequenta a loja há muito tempo;, compara Fernanda

Criatividade

Os proprietários não têm ideia da quantidade de estampas já produzidas, mas, a cada mês, pelo menos 30 novas chegam às prateleiras: quatro para cada marca. Até outubro do ano passado, Pil era o único responsável pelas estampas e deixava a imaginação fluir ao trabalhar. Agora, o designer das lojas é Eduardo Vieira, 23 anos. ;Eu era vendedor aqui, mas sempre gostei de desenhar. A Fernanda e o Pil me deram a oportunidade de fazer estampas, e foi muito bom. Eu tenho total liberdade criativa, mas tudo passa pela aprovação deles;, conta. ;A inspiração vem de muitas coisas. Existem milhões de camisetas sobre qualquer tema, mas as nossas sempre buscam uma pegada diferente;, diz.

Há cinco anos, os modelos de camiseta que exaltam a capital federal se tornaram hit. ;A primeira sobre Brasília eu fiz em 2004. Foi I coração Conic. O amor a Brasília ficou muito popular de uns 5 anos para cá. Adotamos o ;brasiliês;, com expressões próprias daqui ; como baú e camelo ; e explicamos o significado. Faz sucesso entre turistas também;, revela Pil. Apesar de admirar a diversidade e a cultura do Conic, Pil avalia que o ponto causa rejeição. ;As pessoas têm uma certa aversão. O legal é que aqui é um local alternativo, mas não é comercial.; Entre os planos da dupla, está levar camisetas, especialmente sobre Brasília, para pontos turísticos como a Torre de TV e o Aeroporto JK.

Trabalho em equipe

O casal está na liderança do negócio, mas conta com uma base formada por um time seleto, que adora camisetas tanto quanto eles. ;São pessoas que se identificam com nosso trabalho. Eles estão sempre com um sorriso no rosto, são simpáticos e atendem bem. É algo deles mesmo, não demos nenhum treinamento nesse sentido. É porque eles se sentem bem aqui;, percebe Fernanda. A equipe é formada por 14 funcionários, que trabalham apenas um turno por dia. ;São cinco horas, de modo que dê para fazer faculdade e trabalhar, por exemplo. Remuneramos o máximo possível. É o emprego do jeito que a gente gostaria de ter. Queremos um bom trabalho: o clima não é de cobrança, mas de confiança e cada um sente a responsabilidade de fazer sua parte. Tentamos extrair o melhor das pessoas. Deve ser por isso que temos uma rotatividade tão baixa. As pessoas ficam anos aqui;, explica.

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