Trabalho e Formacao

Artistas do ouro

Com pouca oferta de formação no país, profissional especializado em design e confecção de joias é muito requisitado no mercado

postado em 24/11/2014 10:15
Diego Sousa, Vânia Ladeira e Mauro Caldeira exercitam ourivesaria tradicional em joalheria no DF: modelagem, cravação e polimento (Carlos Moura/CB/D.A Press  )
Diego Sousa, Vânia Ladeira e Mauro Caldeira exercitam ourivesaria tradicional em joalheria no DF: modelagem, cravação e polimento


Na produção de joias, duas importantes funções se complementam e se misturam: a de ourives e a de designer. A ourivesaria é a arte de trabalhar com metais preciosos na fabricação de joias e ornamentos. É uma atividade de natureza artesanal, mas a ourives Cláudia Theolier, 50 anos, ressalta que a atuação não se limita às joias. ;O profissional tem inúmeras competências em relojoaria, restauração de igrejas e ornamentos, além do conserto de instrumentos musicais de metal. Quem busca essa formação pode trabalhar como funcionário em joalheria ou montar ateliê próprio.; Já o designer de joias é mais restrito. A função está ligada diretamente ao desenho e à criação. Denise Tassi, coordenadora da bolsa de empregos do Sindicato da Indústria de Joalheria, Bijuteria e Lapidação de Gemas do Estado de São Paulo (Sindijoias-SP), relata que, diferentemente do ourives, a formação de designer se popularizou no currículo dos jovens, mas é importante que ele esteja inteirado sobre o processo produtivo. ;Conhecendo as etapas de produçã, o designer ganha muita vantagem no mercado.;

Denise conta que sobram vagas e faltam profissionais de ourivesaria. ;A profissão não é muito conhecida. Se você perguntar a um jovem de ensino médio se ele quer ser ourives, ele não sabe do que se trata.; Ela reitera que é uma arte familiar passada de pai para filho. Ainda assim, ela explica que a indústria demanda um profissional com formação específica. ;O joalheiro artesanal é aquele que produz tudo, é muito procurado em joalherias pequenas, mas a indústria trabalha com produção seriada, busca um cravador ou um polidor especializado.; Ainda de acordo com Denise, no início de carreira o salário médio é de R$ 1,2 mil, enquanto um ourives com mais de cinco anos de experiência pode ganhar a partir de R$ 2,5 mil.

O Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM) estima que haja aproximadamente 180 joalherias no Distrito Federal (veja quadro). O número é incerto porque nem todos os estabelecimentos se registram na categoria, mas a quantidade é pequena em relação a outras regiões do país. ;O mercado de joias, gemas, bijuterias e folheados está concentrado no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e em São Paulo;, afirma Rafael Frankstein, coordenador de informação do IBGM.

Flávia Fragomeni: bijuterias são opção mais em conta para trabalhar   (Carlos Moura/CB/D.A Press)
Flávia Fragomeni: bijuterias são opção mais em conta para trabalhar

Qualificação constante
A ourives Vânia Ladeira, 48 anos, está no ramo há mais de uma década e abriu a própria joalheria há cinco anos na Asa Norte. Ela emprega seis funcionários, quatro ourives e duas vendedoras. ;Já fiz curso de cravação, gravação, esmaltação e designer de joias. Estou sempre aprimorando as técnicas;, conta. Para ela, a maior dificuldade na produção é a falta de mão de obra qualificada, especialmente em Brasília. ;Um bom profissional precisa de, pelo menos, 10 anos de experiência, e muitos não têm a perseverança de trabalhar tanto para serem ourives completos.; Ela ressalta que a joalheria não copia peças, por isso é importante que o ourives saiba criar, mas quem quer ser designer precisa conhecer também da produção.

;Tem que começar na bancada. A pessoa que não conhece o processo de produção desenha coisas impraticáveis.; Numa área com pouca oferta de formação ; apesar da forte demanda do mercado ;, é comum que o aprendizado da função seja tradição de família. Aos 30 anos, o cearense Diego Sousa, que começou a fazer joias aos 13, é exemplo disso. ;Meu irmão era ourives, eu era curioso e acabei ingressando nisso também;, conta. A matéria-prima preciosa contrasta com a simplicidade do artesão. ;Só completei o segundo grau. Não fiz nenhum curso, o que eu tenho mesmo é prática;, admite. Quando Diego veio do Ceará para Brasília, produziu joias por conta própria por dois anos e, há cinco anos, é ourives na joalheria Vânia Ladeira. Diego explica que produz cada joia do início ao fim, faz modelagem, cravação e polimento. ;No Ceará, eu fazia mais alianças e correntes. Na joalheria, tive que aprender peças novas e modernas;, conta. Estar disposto a aprender é fundamental. ;Se eu não me qualificasse, não estaria aqui;, acredita.

Estude
No Brasil, a oferta de formação profissional em ourivesaria é escassa. Em Brasília, não existe um curso formal técnico de designer de joias ou ourivesaria, mas alguns artesãos e joalheiros oferecem oficinas livres que permitem ao aluno ingressar no mercado. Em julho, os sócios Carlos Costa e Giovani Rocha inauguraram a escola Escalenos, que começou a oferecer o primeiro módulo de joias este mês. ;Existem cursos para aprender a fazer joia, mas a parte de design, que é o planejamento e a experiência do cliente com a peça, é muito carente;, explica Giovani. Ele explica que, na primeira fase do curso, o aluno aprende sobre design, ergonomia e durabilidade, além de desenvolver o projeto de uma joia. Em 2015, Giovani pretende abrir o segundo módulo, dedicado à confecção.

Cláudia Theolier e o esposo, Guillermo Theolier, também oferecem curso em ateliê próprio. Os interessados podem começar as aulas quando desejarem porque o atendimento é praticamente individualizado. Mas Cláudia alerta que não se trata de um curso sem metodologia. ;Temos um cronograma curricular desenhado com base nos moldes das escolas públicas de ourivesaria na Argentina.; Os alunos aprendem teoria sobre fundição de metais e conhecimentos de química, enquanto a parte prática compreende desenho e confecção.

Bijuteria
A bijuteria não é considerada joia por não ser produzida com metais preciosos, mas, como o investimento na produção de joalheria é muito alto, é uma opção para quem quer ingressar no mercado. Esta foi a aposta de Flávia Fragomeni, 40 anos, que já trabalhou com joias, mas hoje se dedica à produção de bijuteria e de acessórios. ;O investimento é muito maior, e o trabalho do ourives é mais difícil e elaborado;, compara. Ela começou aos 13 anos, quando aprendeu a montagem da bijuteria com a mãe de uma colega. ;Eu vi que tinha habilidade manual e que dava para ganhar dinheiro com isso. Comecei fazendo para minhas amigas e, aos 21 anos, abri a primeira loja.; Flávia emprega nove funcionárias, sendo que duas também confeccionam.

A empresária recomenda que quem deseja montar a própria loja invista também em formação administrativa. Ela conta que chegou um momento em que não conseguia lidar com o crescimento da empresa. ;Fiz um curso de dois anos e foi muito válido, trouxe profissionalização para o meu negócio. Muitos artesãos têm o dom de fazer, mas não crescem porque não têm a capacidade de gestão. Também é necessário investir na formação dos funcionários para melhorar a produção e o atendimento.;

Onde estudar
Curso de Joias Escalenos
18 horas por módulo: seis aulas às terças e quintas, manhã, tarde, ou noite
Preço: R$ 1.350 (ou quatro vezes de R$ 375)
Informações e matrícula: (61) 8127-4007

Curso de Joias Espaço Theolier
60 horas: 5 meses, horário variável
Preço: a partir de R$ 3 mil
Informações e matrícula: (61) 3797-8885

Com pouca oferta de formação no país, profissional especializado em design e confecção de joias é muito requisitado no mercado

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