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No Fórum Alternativo, indígenas se mobilizam contra a privatização da água

Tribos temem que Aquífero Guarani, uma das maiores reservas subterrâneas de água do Brasil, seja privatizada

Augusto Fernandes
postado em 17/03/2018 18:57
Tribos indígenas compareceram em peso na abertura do Fama
Das diversas comunidades que compareceram ao primeiro dia do Fórum Mundial Alternativo da Água (Fama), neste sábado (17/3), as tribos indígenas foram as que mais se destacaram. Índios de praticamentes todas as unidades da Federação estiveram na Universidade de Brasília (UnB), e demonstraram as suas preocupações quanto ao futuro da água para as tribos mais carentes.

;A nossa situação é complicada. Nós que vivemos no Nordeste, e já passamos quase sete anos sem chuvas, sabemos o que é a falta de água e a necessidade dela. Às vezes, temos que andar distâncias enormes, com baldes na cabeça, para buscar alguma coisa. Já vimos animais morrendo, e crianças, mulheres e idosos implorando por água. Sabemos o valor da água, e ver grandes corporações, que já estão milionárias, tirando o nosso bem-estar é uma falta de respeito enorme;, desabafou Taponoyê Xukuru, da tribo Xukuru do Ororubá, de Pernambuco.

Atualmente, a situação do Aquífero Guarani, uma das maiores reservas subterrâneas de água do mundo e a segunda do Brasil, com 1,2 milhão de quilômetros quadrados de extensão, é o que mais preocupa as comunidades indígenas do país. ;Ela banha 100% das terras indígenas Guarani no Brasil. Se ocorrer alguma concessão no futuro, vai ser um desastre. É a única fonte de água potável que temos;, lamentou Paulo Karai, da tribo Guarani, de São Paulo.

Oito estados abastecidos

O aquífero está presente em oito estados brasileiros: Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Segundo Taponoyê, mesmo os indígenas de outras localidades lutam pelo aquífero. ;O aquífero não fica em Pernambuco, mas é um bem de todo o povo brasileiro. A partir do momento em que sobrevivemos e dependemos daquela água, é um direito nosso defendê-la, independentemente do estado. Enquanto indígena, eu tenho que defender a natureza brasileira. Nós nos preocupamos com o futuro;, disse.

Segundo Paulo, sua comunidade, com quase 15 mil índios, já sofre com alguns impactos. ;Nós sentimos as mudanças. Existem explorações irregulares, o que já é um risco, porque está contaminando a água. O aquífero não é mais 100% limpo. A água está ficando imprópria para consumo;, comentou. Na sua opinião, participar do Fama pode auxiliar as comunidades que dependem do aquífero.

;Estamos lutando há anos para o acesso à água. Ela pertence à toda população. Quando temos a possibilidade de estar em um evento assim, onde existem pessoas não-indígenas dentro da sociedade que também têm essa preocupação, ganhamos mais força e ânimo para lutar pela defesa desse patrimônio;, destacou.

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