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Novela democrata está longe de acabar

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postado em 05/06/2008 17:19
WASHINGTON - Às vésperas de anunciar seu apoio ao candidato democrata à presidência, Barack Obama, a senadora por Nova York, Hillary Clinton, contribuirá, agora, para unificar um partido profundamente dividido, após um longo e emocionante processo de primárias, mas seu lugar na campanha ainda é indefinido.

No sábado, a senadora deve apoiar, oficialmente, a vitória de Barack Obama durante uma reunião com seus correligionários na capital federal americana. Com isso, chega ao fim uma desgastante campanha de 16 meses.

A decisão da ex-primeira-dama foi tomada após uma discussão com cerca de 30 parlamentares democratas, que pediram a ela que se retirasse da corrida o mais rápido possível, para que o partido pudesse unir-se ao candidato Obama.

"Chapa dos sonhos"
Qual lugar estará reservado para Hillary, agora? Alguns de seus partidários pleiteiam que ela seja a vice na chapa de Obama. "Isso seria, absolutamente, a melhor escolha para ela", acredita a historiadora Doris Kearns Goodwin, especialista em presidência americana.

Ainda que a idéia seduza boa parte do eleitorado de Hillary (segundo pesquisa do Pew Center, 76% dos que votaram nela nas primárias são favoráveis à dobradinha Obama/Hillary), ela não é compartilhada por todos. Pelo menos 54% dos eleitores de Obama não a querem e, para alguns especialistas, seria mais um pesadelo do que "uma chapa dos sonhos".

Na imprensa americana, vários analistas destacam as personalidades antagônicas dos dois ex-adversários. O Wall Street Journal considerou, por exemplo, muito "improvável" que a senhora Clinton seja a número dois na chapa democrata.

Segundo os especialistas, ao insistir para que Hillary se candidate junto com Obama, alguns de seus correligionários correm o risco de reacender os ânimos. "Quanto mais (os partidários de Hillary) evocam a questão da vice-presidência, mais eles afirmam que a senadora está, vivamente, interessada na chapa, então, maior será o problema se (Obama) rejeitar essa perspectiva", comenta Stuart Rothenberg, um analista independente. "Isso será visto como uma afronta", explica.

O futuro de Hillary
A verdade é que, para vencer o republicano John McCain em novembro, Obama precisará reunir ao seu redor o eleitorado de Hillary - mulheres, trabalhadores, idosos e os americanos de origem hispânica. Esses eleitores se afastaram dele nas primárias e seu apoio não está garantido. Aqui, a ajuda da senadora se torna essencial, podendo auxiliar a convencê-los a não se abster, ou a não votar em McCain. Pelo menos 17 milhões de pessoas votaram nela.

Na mensagem enviada na noite de quarta-feira (04/06) a seus partidários, Hillary afirma que "a aposta é muito alta, e a tarefa diante de nós, muito importante, para fazer outra coisa a não ser concentrar o partido por trás do senador Obama".

Segundo a historiadora Kearns Goodwin, é pouco provável que Hillary vá se contentar com liderar a maioria democrata no Senado.

Ser governadora de Nova York pode ser "um bom trampolim" para voltar a disputar a presidência no futuro, acrescentou Goodwin. O problema é que o mandato do atual governador David Paterson expira em 2010 e, caso ele decida se reapresentar, "será difícil para Hillary contestar essa escolha", visto que, ressalta a historiadora, ele é negro.

De qualquer maneira, deve-se contar ainda com Hillary para a próxima eleição à Casa Branca, seja em 2012, se Obama fracassar em novembro, seja em 2016. Ela terá, então, quatro anos a menos do que McCain tem hoje, destaca Kearns Goodwin.

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