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Entrevista: na batalha da mídia, a Rússia perdeu

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postado em 21/08/2008 07:00

Nos combates terrestres, durante o conflito na Ossétia do Sul, a Rússia mostrou ao mundo que ainda é uma superpotência armamentista e que pretende continuar exercendo influência na antiga órbita soviética. Apesar da vitória no campo de batalha, analistas de Moscou repercutem a derrota do Kremlin na batalha da informação. O cientista político Vladimir Frolov e a jornalista Anna Arutunyan ; do portal de notícias The Moscow News ; falaram ao Correio sobre as dificuldades do Ocidente em tratar de uma região de difícil acesso e ainda pouco conhecida fora do Leste Europeu e da Ásia.

A Rússia já sabia que a Geórgia planejava atacar a Ossétia do Sul?
Vladimir Frolov ; Já li em alguns jornais norte-americanos que a Rússia estava preparada para atacar a Geórgia, pois a reação foi quase imediata. É preciso entender que a Rússia sempre ficou de olho na Ossétia do Sul, pois muitos russos vivem na região. Quando Mikhail Saakashvili (presidente georgiano) atacou a capital Tskhinvali, na tarde de sexta-feira (8), 10 soldados russos que estavam lá para manter a paz na região morreram. Não posso lhe dar o número exato de civis que também morreram, mas foram muitos. Eles aproveitaram que o mundo estava focado na abertura dos Jogos Olímpicos em Pequim. Foi um ato covarde.

Atacar a Ossétia do Sul naquele momento foi uma atitude precipitada de Saakashvili?

Vladimir Frolov
; Depende. Como eu disse, o mundo estava de olho em Pequim. As notícias do ataque georgiano foram ofuscadas pelas notícias sobre as Olimpíadas. Pouco se falou sobre o ataque surpresa orquestrado por Saakashvili. A Rússia, por sua vez, respondeu com armamentos pesados, aviões de combate, derrubaram caças do Exército georgiano... Foi o que apareceu na mídia do Ocidente como "resposta desproporcional". Parece que ignoraram as provocações de Saakashvili. Deu certo, pois a Rússia está sendo tratada como a vilã da história.

O senhor acredita que os Estados Unidos podem estar por trás dos ataques ocorridos no dia 8 de agosto?


Vladimir Frolov ; Meu colega James George, do Conselho Americano para Kosovo, ajudou-me, recentemente, a escrever um artigo sobre essa questão. Foi publicado no site Russian Profile (www.russiaprofile.org). Chegamos à conclusão de que Saakashvili, muito provavelmente, teve o "sinal verde" dos americanos para atacar a Ossétia do Sul. Essa suspeita baseia-se no fato de que, em julho, cerca de mil soldados do Exército dos EUA estavam na região. Mesmo que os americanos não tenham participado do ataque diretamente, eles já tinham idéia do que aconteceria por ali. Do mesmo jeito que Moscou também sabia.


Como os russos vêem a relação do Kremlin com o resto do mundo depois dos conflitos?

Anna Arutunyan ; Há uma série de interesses no cenário mundial que envolvem a Rússia. O Ocidente começou a conversar sobre uma possível retirada do país das negociações internacionais, do G-8, enfim. Não seria uma boa para nenhum dos lados. Acho que, agora, será preciso renegociar uma série de medidas. As relações estão delicadas, mas não acho que uma ação extremista seja uma boa idéia. Não seria saudável para ninguém.

O que a senhora achou das notícias ocidentais sobre o conflito no Cáucaso?

Anna Arutunyan ; De uma maneira geral, achei um pouco tendenciosas. Do mesmo modo que achei tendenciosas diversas notícias publicadas por veículos de comunicação russos. O fato é que a região do conflito ainda é muito desconhecida. Há poucas informações sobre a Geórgia, por exemplo. E diversos jornais começaram a publicar informações equivocadas. Não faziam idéia da veracidade dos fatos, apenas relatavam o que "supostas testemunhas" presenciaram.

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