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Testemunhas relatam o massacre em Pando

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postado em 17/09/2008 07:57
Três sobreviventes do massacre de trabalhadores rurais no departamento boliviano de Pando contam como foi a ação dos opositores ao governo central. Armados, eles matavam e depois enterravam as vítimas, ou jogavam os corpos no Rio Tahuamanu. Entre os mortos estão crianças que acompanhavam os pais na viagem para uma assembléia em Cobija, capital de Pando.

Cristián Domínguez

Viajávamos de Las Piedras até a localidade de Porto Rico e fomos detidos. Não tínhamos armas, nem sequer um cortador de unha. O que fizemos foi tentar nos defender com golpes. Escutamos primeiro o som de uma arma, e um morto estava a 300m de nós. Decidimos voltar e, quando estávamos mais ou menos a 1km, sofremos uma emboscada. Eles tinham mais armas. Vários companheiros caíram do meu lado, feridos à bala. Arrastamos os feridos para o bosque e eles nos perseguiam como animais, iam eliminando um a um.

Rodrigo Medina Alipaz

Quero denunciar esse fato inédito na história dos trabalhadores rurais. Nós íamos para Cobija e, como sempre fazemos, levamos as crianças e as mulheres. Mas, desgraçadamente, sofremos uma emboscada em Porvenir. Eram 30 homens armados com metralhadoras e revólveres. E eles usavam o carro do governo de Pando. O pessoal se desesperou, se jogou no rio, e eles atiravam em quem atravessava. Jogavam bombas na cabeças das mulheres e dos homens. As pessoas iam morrendo e ficavam por ali. Eu levei dois tiros de raspão na cabeça. Parecia que estavam drogados, porque matavam com prazer. Um senhora estava com o filho de 5 anos e a puxavam pelo cabelo. Quando pediu pela vida, ganhou um tiro na cabeça. O menino chorava. Eles o pegaram e mataram com um tiro. Assim foi o genocídio, por isso queremos denunciá-lo.

Cláudia Alpire

Quando chegamos a Porvenir, eles nos fizeram reféns, nossos filhos choravam de fome, pedíamos água e não davam. Quando parecia que íamos ser libertados, eles vieram de todos os lados. O motorista do nosso carro saiu correndo e levou um tiro no peito. Foi aí que fugimos. Corremos muito, enquanto os tiros saíam de todas as partes. Pedimos ajuda nas casas, mas ninguém abria a porta. Eles levaram as crianças para a beira do rio ; tinham oito, seis anos, e choravam muito. Eles atiravam e faziam pedaços das costas dessas crianças.

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