Mundo

Arábia Saudita ameaça piratas

Príncipe reage a seqüestro do megapetroleiro Sirius Star no Golfo do Áden e exige cooperação conjunta para combater a ;doença;. Governo da região de Puntland acusa comunidade internacional de omissão

postado em 19/11/2008 07:38
Enquanto a comunidade internacional ainda tenta entender como piratas interceptaram e invadiram um petroleiro de 330m de comprimento, a Arábia Saudita reagiu com repulsa e defendeu uma ação militar conjunta para combater a pilhagem. ;É um ato ultrajante. Trata-se uma coisa muito perigosa. A pirataria, assim como terrorismo, é uma doença que atinge a todos, e todos devem agir juntos;, declarou o príncipe Saud Al-Faisal, ministro das Relações Exteriores saudita, durante visita a Atenas. A Marinha da dinastia de Al-Saud mantém em suas fileiras cerca de 20 mil homens que jamais travaram combates em alto-mar. O supernavio MV Sirius Star estava a cerca de 450 milhas náuticas (833km) da costa sudeste do Quênia quando foi abordado pelos criminosos às 10h (4h em Brasília) do último sábado. Na manhã de ontem, a embarcação foi vista atracada no porto de Haradhere, um conhecido ;centro da pirataria; situado a 410km ao norte de Mogadíscio, capital da Somália. Por telefone, Libane Bogor ; consultor do governo de Puntland e empresário em Bosaso (capital da região semiautônoma do nordeste da Somália) ; revelou que os piratas ainda não entraram em contato com as autoridades. ;Falei com o Ministério do Interior hoje e não houve comunicação;, contou. ;Estamos de mãos atadas.; Ele se opõe a uma ofensiva armada, que considera apenas uma solução paliativa. ;Já ouvi a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a Organização das Nações Unidas (ONU) e os Estados Unidos ameaçarem ações militares nos últimos três meses e isso não ocorreu;, lembrou. Segundo Bogor, a falta de vigilância ostensiva na costa somali estimula os roubos. ;Se a Somália obtivesse ajuda da comunidade internacional, seria mais fácil lidar com o problema. Mas ninguém faz nada e os somalis em situação de miséria vêem os piratas ficarem milionários da noite para o dia e acabam seduzidos;, alertou. Em entrevista ao Correio, Khalif Nur Qonof ; chefe de gabinete do presidente de Puntland, Mohamud Muse Hersi ; considera tardia uma operação militar e acredita que uma maior presença naval no Golfo do Áden teria evitado a captura do MV Sirius Star. O político somali que vive em Garowe (capital administrativa de Puntland) também acusou a comunidade internacional de omissão. ;Ela jamais coopera com a Somália ou com Puntland no combate à pirataria e, ao pagar sempre o resgate, alimenta a ação dos corsários;, criticou. Qonof disse que as autoridades das regiões de Puntland e Somaliland vão se reunir com um alto representante da ONU no Quênia, em 3 de dezembro, para abordar o tema. Especialista em Chifre da África pelo Instituto Norueguês para Pesquisa Regional e Urbana (NIBR), o historiador Stig Jarle Hansen, de 37 anos, também discorda de uma presença militar no Golfo do Áden. ;A melhor resposta para a pirataria seria o restabelecimento da Somália. A curto prazo, é preciso apoiar Puntland, entidade regional de onde os piratas operam;, comentou. Segundo ele, Puntland perdeu eficiência no combate à pirataria ao apoiar o governo federal transitório da Somália e ao amargar uma hiperinflação. ;O governo de Puntland não paga bem a polícia e muitas vezes os agentes de segurança sequer recebem salários, o que torna tentadora a idéia de corrupção policial;, argumentou. Hansen vê a tomada do Sirius Star como um indicativo da participação de gangues de piratas de Puntland. ;A presença naval ao norte, ao longo da costa do Iêmen, forçou os piratas a operaram mais ao sul das tradicionais áreas de ataques.; Tática Bogor explicou que os corsários geralmente chegam em um pequeno bote, em um grupo de 20. ;Eles apontam uma bazuca para o navio e o invadem. Depois, entre 50 e 100 piratas se unem ao bando na embarcação capturada;, disse o consultor do governo. O cargueiro Delight, de bandeira de Hong Kong, tornou-se ontem o sétimo navio seqüestrado em 12 dias. O grupo norueguês Odjell SE determinou que mais de 90 de suas embarcações rodeassem toda a África para evitar os piratas. A travessia deve durar pelo menos 12 dias e custar cerca de US$ 20 mil por navio. Tensão em alto-mar Pelo menos 83 navios foram capturados pelos piratas somalis este ano. Cem marinheiros ainda estão em poder dos bandidos. O seqüestro do petroleiro saudita Sirius Star foi o mais ousado da história O Sirius Star é propriedade da Vela International Marine, braço da petrolífera saudita Aramco Peso: 318 mil toneladas Comprimento: 330m (tem o tamanho de três campos de futebol e é três vezes maior que um porta-aviões dos Estados Unidos) Altura: 10m (o equivalente a um prédio de sete andares) Tripulação: 25 membros (19 filipinos, dois britânicos, dois poloneses, um croata e um saudita) Capacidade de transporte: 2 milhões de barris de petróleo (o Brasil produz diariamente 1,8 milhão de barris) Carga avaliada em US$ 100 milhões

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação