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Entrevista: "Um tanque explodiu na minha frente"

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postado em 15/01/2009 07:00
A voz mostra o cansaço de quem não dormia havia 96 horas. A madrugada de ontem foi especialmente dramática: o tanque de guerra em que estava quebrou no meio de uma "favela" árabe. Em entrevista exclusiva ao Correio, por telefone, o carioca Luiz Cesar Mann Barbosa, de 22 anos, contou como têm sido as batalhas dentro da Faixa de Gaza. Membro do Givat, a brigada de elite das Forças de Defesa de Israel (IDF), o sargento brasileiro revelou supostas táticas suicidas utilizadas pelos militantes do Hamas no front, afirmou que não teme morrer em combate e garantiu que a maior parte dos 1.001 mortos na guerra é de "terroristas". Luiz Cesar concedeu entrevista assim que chegou à base em Beersheva, situada no sul de Israel, a 40km da fronteira com a Faixa de Gaza. Ele teria um descanso de 24 horas e retornaria ao território palestino ainda na noite desta quinta-feira (15/01). "Eu posso até ficar, mas vou porque não quero deixar meus amigos sozinhos lá", disse. Neto de israelenses, Luiz Cesar, o irmão e os pais vivem em Ashdod, perto de Gaza. Como tem sido a rotina no front? Qual foi o dia mais complicado para você? O pior dia foi ontem. Meu tanque quebrou dentro de uma favela árabe e jogaram bomba na gente, míssil, RPG (lança-foguetes portátil desenvolvido pela União Soviética). Ficamos lá esperando por reforço%u2026 Ficamos uma noite inteira lá até o reforço chegar. Aí eles chegaram e saímos bem, graças a Deus, nada aconteceu. Durante essa noite, você ficou com receio de uma emboscada? Chegou a dormir um pouco? Com certeza, a gente não dormiu nada. Não tem como dormir. É claro que receio a gente sempre tem. A gente sabe que o Hamas é um grupo terrorista bem armado. Eles têm todos os tipos de armas. Tivemos só de fazer o nosso trabalho, para o qual fomos treinados. Fui treinado para isso. Faturamos bem, né? Conseguimos sobreviver, respondemos a eles com fogo bastante forte. Então, vamos ver%u2026 Não sei nem te explicar direito o que estou te dizendo. Estou tão cansado, eu juro%u2026 Estou há quatro dias sem dormir nada. Você chegou a presenciar algum de seus colegas ser ferido? A resistência não tem sido forte como eu esperava, mas sempre tem. Um amigo meu tomou um tiro na perna. A gente vai lá no hospital para ver como ele está. Nos o levantamos e o carregamos. Acho que vão cortar a perna dele. Que tipo de armas os militantes do Hamas estão usando contra as tropas? Eles têm todos os tipos de armas. Antes de tudo, o Hamas é um exército, dividido por pelotões. Eles têm AK-47 (fuzil), muitos RPGs, lança-granadas, antitanques. Eles têm minas terrestres. Vi um grupo de combate em que o tanque deles explodiu na minha frente. Subiram numa mina terrestre e morreram os quatro. É guerra. Não me lembro o dia. Que dia é hoje? Agora que cheguei e consegui colocar o meu telefone para carregar. Você terá de voltar para a Faixa de Gaza? Volto, sim. Amanhã à noite devo estar entrando com meu pelotão. Não temos previsões de saída, nem de nada. Acho que a guerra está no fim. Os militantes do Hamas fugiram de várias casas. Agora, eles estão na fronteira com o Egito. Todos os terroristas estão concentrados lá. Nós vamos estar entrando lá e tomando essa favela chamada Rafiah. E%u2026 Vamos ver%u2026 Vamos ver o que vai ser. Eu tenho escolha de ficar aqui. Se eu não quiser entrar agora eu não entro. Mas não funciona assim. Eu treinei para isso. Esperei por isso. Meus amigos estão lá dentro, estão guerreando. Não posso abandonar meus amigos. Como os soldados têm se alimentado e dormido no front? Dormir tem sido um pouco mais problemático, porque você dorme com medo, com receio, sabe? Você não pode ficar dormindo%u2026 Então, você dorme um pouquinho, aí seu colega tira um plantão de duas horas e depois você troca com ele. Aí assim vai. Cada um dorme por duas horas%u2026 Comida não falta, não. A gente come muito bem, sim. Todo dia tem tanque entrando e saindo de Israel com alimentação. O povo de Israel está doando todo tipo de comida. Lojas de doces e de chocolates estão sempre doando pra gente. Comida não falta. Graças a Deus, tem chegado bastante. Essa experiência atual tem sido a pior de sua carreira militar? Sim, com certeza. As batalhas têm sido bastante duras. Em toda casa que você vai eles saem de dentro das casas. Como eles não têm conseguido chegar muito perto da gente, eles usam um cara que vem de moto. Um terrorista com explosivos no corpo, que vem correndo de moto e explode perto dos soldados. Até agora não conseguiram acertar, porque nós conseguimos derrubar eles antes de chegarem na gente. O Hamas tem utilizado homens-bomba? Com certeza, tem muitos homens-bomba. Eles não param. Todo tempo tem homem-bomba aqui, homem-bomba ali. Dentro das casas você entra e vê uma senhora, uma cidadã. De repente, ela é uma terrorista cheia de explosivos no corpo. Tem muito dessas coisas, mas a imprensa não fala nada disso. Graças a Deus, ainda não vi um homem-bomba explodir na minha frente. Mas vi um deles explodir dentro de uma casa. O soldado meteu o pé na porta para entrar e ele se explodiu. Graças a Deus, o soldado não saiu ferido. Ele se matou em vão. Como você lida com o medo de morrer? Engraçado, eu não senti medo. Até agora não senti medo. Você se acostuma. Alguns amigos meus sentem muito medo. Eu, sinceramente, ainda não senti medo. A comunidade internacional acusa Israel de cometer genocídio. O que tem a dizer sobre isso? Eu posso dizer que de mil mortos 800 eram terroristas, com certeza. Com certeza. A nossa aviação vai explodir uma casa. Eles avisam: "; Olha, nós vamos agora explodir uma casa em 10 minutos. Se vocês estiverem dentro da casa, nós vamos explodir ainda". Aí o que eles fazem? Eles sobem para o telhado e ficam lá, esperando que a gente não vá explodir. Tem que explodir porque essa casa é um paiol de armas. Tem armas infiltradas, túneis dentro da casa que acabam na fronteira com o Egito. Depois, eles falam que são inocentes, mas não. Eles cooperam com o Hamas e estão pedindo para morrer. Ouça entrevista com Luiz Cesar Mann Barbosa, 22 anos, sargento do Givat -- pelotão de elite das Forças de Defesa de Israel (IDF)

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