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Dor, luto e milagre em Áquila

Número de mortos em tremor sobe para 235. Sob escombros, idosa de 98 anos esperou ajuda fazendo crochê

postado em 08/04/2009 08:10
Mais uma vez a terra tremeu forte, impondo destruição e desespero aos moradores do centro da Itália. Por volta das 19h47 (14h47 em Brasília), o corretor de imóveis Ugo Spagnoli, de 57 anos, preparava-se para tomar um banho em Rocca Di Mezzo, a 20km da cidade histórica de Áquila. ;Foi um terremoto muito forte. Eu estava começando a me despir e tive de sair correndo;, relatou ao Correio, pela internet. ;Felizmente, o abalo foi mais curto que o de segunda-feira e durou apenas uns oito segundos.; O novo terremoto de 5,3 graus na escala Richter (aberta, mas que raramente atinge os 9 graus) voltou a sacudir com força Áquila e foi sentido em Roma. A 70km do epicentro, na cidade de Pescara, o consultor de informática Fabiano Izzo, de 26 anos, contou à reportagem que ficou totalmente ;indefeso e aterrorizado; durante a réplica de ontem. As agências de notícias chegaram a anunciar a morte de um morador de Santa Rufina di Roio, a 6km de Áquila, mas as autoridades desmentiram. ;As pessoas foram para as ruas, assustadas;, acrescentou Fabiano. Desde o tremor de 6,3 graus de segunda-feira, a Itália contabilizou 26 réplicas médias e 254 secundárias, 235 mortos, 11 desaparecidos, mil feridos (100 em estado grave) e 17 mil desabrigados. O vilarejo de Onna foi riscado do mapa: 40 dos 300 moradores morreram e 90% das casas ruíram. Em meio à tragédia, milagres. Às 21h32 de ontem (16h32 em Brasília), uma mulher foi retirada viva dos escombros, 42 horas depois. Doze horas mais cedo, os bombeiros haviam salvo uma idosa de 98 anos em Áquila. Maria D;Antuono disse à agência Ansa que passou o tempo ;fazendo crochê;. De acordo com a mesma agência, a réplica de ontem derrubou parte da cúpula da Igreja do Espírito Santo e do reservatório de água, levantando uma nuvem de poeira na Via XX de Setembro, a principal rua de Áquila. O estudante Ricardo Tordera Ricchi, de 20 anos, morava ali perto e teve de se mudar para Roma. ;A situação lá é terrível. O centro histórico ficou destruído e a Defesa Civil ergueu uma cidade de tendas;, comentou. Ele tenta entender como sobreviveu ao terremoto da madrugada de anteontem. ;Saí correndo pela casa e a porta estava bloqueada pelas ruínas. Voltei para buscar o celular, ouvi algo se quebrando e, depois de poucos segundos, cheguei à rua. Todo mundo gritava e chorava, vi pessoas ensanguentadas;, afirmou. Ricardo passou a noite com frio, descalço e vestindo uma camiseta. O paulista radicado em Natal Ayres Marques Pinto mora há 10 anos na região de La Marche, na divisa norte de Abruzzo, perto de Áquila. Ele revelou que só percebeu o tremor de ontem ao escutar os gritos da filha, da mulher e dos vizinhos. ;Foi mais intenso. O prédio balançou, quadros voltaram a cair e tivemos dificuldade em manter o equilíbrio;, disse. Em mais uma de suas atitudes polêmicas, o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, recusou a ajuda oferecida por mais de 30 países. ;Agradecemos a solidariedade, mas pedimos que não enviem ajuda. Temos a capacidade de responder às exigências. Somos um país orgulhoso e rico. Agradeço, mas podemos atuar sozinhos;, declarou. Nova cidade O premiê cancelou a visita que faria à Rússia e prometeu reconstruir Áquila. ;As operações de resgate vão bem. Pelo menos 150 pessoas foram retiradas vivas dos escombros;, explicou, afirmando que os trabalhos durarão 48 horas. ;Eu quero construir aqui (nas ruínas) uma nova cidade. Haverá investimento privado e, graças aos bancos, teremos fundos de fácil acesso (para as famílias que perderam suas casas;, disse. A prepotência de Berlusconi desapareceu durante um telefonema do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que expressou ;suas mais profundas condolências;. ;Os EUA estão dispostos a ajudar o povo italiano neste momento de necessidade;, afirmou Obama. O primeiro-ministro não se fez de rogado. ;Se vocês estão prontos para fornecerem um sinal tangível de ajuda, ficaríamos gratos em conceder um inventário das coisas para reconstruir. Vocês podem tomar a responsabilidade de reconstruir igrejas e outros artefatos culturais. Nós ficaríamos muito agradecidos;, rebateu Berlusconi.

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