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Catástrofe à vista nos oceanos

Cientista estuda arrecifes no México e conclui que há 120 mil anos o mar subiu 3m em cinco décadas. Ele prevê a repetição do fenômeno ainda neste século, o que colocaria as cidades litorâneas em perigo

postado em 16/04/2009 08:23
2059. O mar avançou sobre o Rio de Janeiro e deixou submersas as partes mais baixas da cidade. O fenômeno irreversível também atingiu o Oceano Índico, riscando do mapa as Maldivas e pedaços de arquipélagos como a Micronésia e o Havaí. A maior parte das áreas costeiras do planeta está sob as águas. Parece cenário de filme de ficção científica, mas uma pesquisa liderada pelo geólogo norte-americano Paul Blanchon, da Universidade Nacional Autônoma do México (em Cancún), mostra que se trata de uma possibilidade real e quase imediata. O especialista descobriu que no período interglacial, 120 mil anos atrás, o nível do mar subiu cerca de 3m em apenas cinco décadas. Até então, imaginava-se que tal elevação do oceano seria progressiva, com uma duração de milênios. Um dos alertas foi dado no início deste mês, quando um bloco de gelo de 400km2 (pouco menor que Brasília) se desprendeu da vasta plataforma de Wilkins, na Antártida, antes de se derreter. Blanchon e três colegas alemães do Instituto de Ciências Marinhas Leibniz encontraram no fundo do oceano a previsão da provável catástrofe. Ao estudarem as barreiras de corais na Península do Yucatán ; que separa o Mar do Caribe do Golfo do México ;, os cientistas perceberam que os dois arrecifes, formados em rápida sucessão, estavam separados verticalmente por uma distância de 3m. ;As duas barreiras de corais se desenvolveram durante o último período interglacial. A primeira massa de corais se desenvolveu em uma elevação de 3m acima do atual nível do mar, indicando que as águas estavam 3m acima, durante sua formação. Mas a segunda camada cresceu em uma elevação de 6m, indicando que o mar subiu entre 2m e 3m;, explicou Blanchon ao Correio, por e-mail. Os pesquisadores constataram que os arrecifes cresceram 20cm em meio século. ;Estabelecemos que o nível do mar subiu 3m em 50 anos, o que nos dá uma media anual de 4cm a 6cm;, observou. De acordo com ele, o simples derretimento das calotas polares da Antártida e da Groenlândia obedeceria a essa taxa. ;Pela primeira vez, mostramos que as calotas polares se tornaram instáveis e produziram um aumento catastrófico do nível do mar durante o último período interglacial;, acrescentou o autor do estudo publicado ontem pela revista Nature. Blanchon não sabe responder se as recentes mudanças dramáticas nas placas de gelo são um sinal de seu colapso iminente ou se são parte de um processo natural, não registrado antes por falta de medições científicas. ;No entanto, nossas descobertas nos permitem afirmar, com maior certeza, que o colapso das calotas polares e o aumento catastrófico do nível do mar são possibilidades reais para os próximos 100 anos;, disse. Adaptação De acordo com o geólogo norte-americano, a elevação do nível do mar a uma taxa de 5cm por ano provavelmente não provocará mortes. ;Vocês certamente teriam tempo suficiente de mudar o local do carnaval;, brincou, ao referir-se à cidade do Rio de Janeiro. ;Já os habitantes das Maldivas certamente teriam tempo para se mover ou arrumar uma solução de engenharia. Mas, em escala humana, o fenômeno afetaria todos os habitantes de áreas costeiras.; Uma solução para evitar a catástrofe estaria no corte de 70% das emissões de gases, o que reduziria o ritmo do aquecimento global pela metade, limitando a perda das calotas polares e diminuindo as chances de inundação. O homem só depende dele mesmo para deixar as previsões de Blanchon no campo da ficção.

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