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Cúpula das Américas: Obama dá a mão

Na chegada ao encontro de Trinidad e Tobago, presidente americano propõe conversar ;sobre tudo; com Cuba e cumprimenta Hugo Chávez

postado em 18/04/2009 08:00
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, desembarcou sorridente em Trinidad e Tobago para a 5ª Cúpula das Américas, e foi logo tratando do tema que, embora não faça parte da agenda oficial da reunião, foi eleito pelos governantes latino-americanos para dominar as discussões. ;Tenho dito nos últimos anos, e repito hoje, que estou preparado para discutir com o governo cubano uma ampla lista de temas, desde direitos humanos, liberdade de imprensa e reformas democráticas até drogas, migração e assuntos econômicos;, disse em seu discurso na cerimônia de abertura. Dos 33 colegas que o ouviam, os 32 latino-americanos chegaram a Port of Spain com um consenso: a reintegração de Cuba ao sistema interamericano, incluindo a própria cúpula e a Organização dos Estados Americanos (OEA), será a chave para os EUA restaurarem as relações com todo o bloco. Obama respondia praticamente nas mesmas palavras ao presidente cubano, Raúl Castro, que na véspera tinha dito aos companheiros da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba) que está ;pronto para conversar sobre tudo; ; e enumerou tópicos como direitos humanos, liberdade de imprensa e presos políticos. Também ele sustenta que a disposição ao diálogo tem sido comunicada aos americanos, ;em público e em privado;. O presidente americano, no entanto, acrescentou algo às conversações indiretas. ;Serei claro: não estou interessado em falar por falar, mas acredito que possamos conduzir as relações entre Cuba e Estados Unidos a uma nova direção.; As palavras passaram aos atos no encontro quando Obama caminhou em direção ao aliado mais intransigente de Cuba no continente, o venezuelano Hugo Chávez, e estendeu-lhe a mão ; o gesto que havia insinuado desde o discurso de posse. Os dois se cumprimentaram, olharam-se nos olhos e trocaram palavras breves, porém de considerável significado. ;Com esta mão, há oito anos, saudei Bush;, disse o venezuelano referindo-se ao antecessor de Obama. ;Quero ser seu amigo;, propôs. Obama agradeceu. Aplausos Na chegada ao hotel onde a cúpula se realiza, o presidente americano foi o mais aplaudido quando chamado a se instalar na sala de reuniões. A presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, que fez o discurso de abertura, foi a primeira a entoar o coro contra o embargo a Cuba, classificado de ;anacronismo;. Fiel ao cuidadoso acerto costurado entre Havana e o governo brasileiro para evitar que Obama se sentisse ;encurralado;, Cristina elogiou-o pela decisão de facilitar as viagens de americanos à ilha e a remessa de dinheiro por parte dos cubanos residentes nos EUA. Mas aconselhou-o a não perder a ;oportunidade histórica de construir uma nova relação entre as Américas;. O tom cauteloso foi acompanhado pelos chefes de governo que se pronunciaram. O presidente da Guatemala, Álvaro Colom, político de centro-esquerda cuja eleição ilustra a maré adversa para os EUA ao sul do Rio Grande, usou uma imagem cotidiana para recomendar cuidado. ;A porta (para o diálogo com Cuba) se abriu, e agora é preciso colocar um sapato para que ela não se feche, e cuidar para que esse processo de abertura não estanque.; O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, foi fotografado também sorridente conversando com Obama antes da abertura oficial do encontro. Lula começará hoje o dia com os colegas da União de Nações Sul-Americanas, que terão reunião conjunta com o presidente americano.
Líderes das Américas em busca de soluções A Cúpula das Américas reúne os chefes de Estados de todos os países do continente ; com a exceção de Cuba ; para discutir temas de interesse comum, buscar soluções e compartilhar visões sobre o futuro da região. Os principais assuntos abordados são economia, política e desenvolvimento social. A primeira reunião ocorreu em 9 de dezembro de 1994, por iniciativa dos Estados Unidos, em Miami. A principal decisão dos participantes foi o lançamento da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), concebida pelos EUA para impulsionar a integração do continente no contexto da concorrência entre grandes blocos regionais na economia globalizada. A segunda cúpula, reunida em dezembro de 1996 em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, foi dedicada ao desenvolvimento sustentável e deu continuidade às discussões iniciadas na Rio 92, a conferência mundial sobre meio ambiente . Foram definidas metas para o desenvolvimento sustentável nos países americanos. Além disso, foram debatidos temas econômicos, sociais e ambientais. Em abril de 1998, na cidade de Santiago, no Chile, houve a segunda reunião da Cúpula não-especializada. O tema central em pauta foi a educação, mas os líderes também definiram metas relacionadas ao fortalecimento da democracia, da justiça, dos direitos humanos; da promoção, integração e livre comércio; e, finalmente, da erradicação da pobreza e da discriminação. A terceira reunião geral da Cúpula aconteceu no Canadá, na cidade de Quebec, em abril de 2001. O assunto mais debatido foi a criação da Carta Democrática Interamericana, que promovia o fortalecimento e proteção do regime democrático. A Carta acabou sendo adotada em 11 de setembro do mesmo ano. Em janeiro de 2004, na cidade de Monterrey, no México, ocorreu a Reunião Especial de Cúpula das Américas. Convocou-se a Cúpula Interina para serem incluídos novos líderes no grupo. Objetivos foram estabelecidos em grandes áreas: crescimento econômico para redução da pobreza, promoção do desenvolvimento social e fortalecimento dos governos democráticos.

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