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Pyongyang contra o planeta

Coreia do Norte dispara mais três mísseis e promete bloquear acordos para impedir produção de arsenal atômico. EUA advertem sobre ;preço a pagar;. Em Genebra, órgão debate normas para desarmamento

postado em 27/05/2009 08:16
Se todos os oito países com capacidade nuclear usassem seu máximo poderio bélico, teoricamente teriam condições de destruir o mundo três vezes. O que torna uma hecatombe nuclear improvável é a existência do Tratado de Não Proliferação (TNP) e da Conferência sobre Desarmamento ; um fórum de negociações envolvendo 65 nações, criado em 1979, sob o auspício da Organização das Nações Unidas (ONU). Os mecanismos funcionam como fatores de contenção de uma nova corrida atômica. No entanto, se depender da Coreia do Norte as negociações globais sobre a eliminação dos arsenais ficarão comprometidas. Em retaliação à condenação mundial do teste nuclear subterrâneo de segunda-feira, Pyongang alertou que pode se abster de apoiar o veto à fabricação de matéria-prima para a bomba ;proibida;. A ameaça cria um novo precedente para a instabilidade no controle do armamento nuclear. Um risco agravado pelas tentativas de Pyongyang de desafiar a comunidade internacional. Depois de explodir uma bomba atômica a 10km de profundidade, na segunda-feira, a Coreia do Norte anunciou o lançamento de mais três mísseis de curto alcance. O último deles foi disparado sobre o Mar do Japão na noite de ontem. Nos últimos dois dias, o regime de Kim Jong-il lançou seis projéteis. Diante da clara confrontação, a embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice, aumentou a retórica. ;Se os líderes norte-coreanos continuarem a atuar de forma provocadora, pagarão um preço;, avisou. O norte-americano Scott Snyder ; diretor do Centro para Política EUA-Coreia do instituto The Asia Foundation (em Washington) ; admitiu ao Correio que o ditador Kim Jong-il desafia os esforços pela limitação da fabricação de materiais de fissão nuclear. ;Essa declaração sublinha ainda mais o isolamento da Coreia do Norte.; O especialista acredita que Pyongyang será tratada como um caso excepcional pela Comissão Preparatória para a Organização de um Tratado Compreensivo de Proibição de Testes Nucleares (CTBTO), tema a ser discutido pelo Conselho de Segurança da ONU. ;Isso não terá impacto nos esforços para ratificar o acordo, já que os norte-coreanos têm deixado claro sua oposição.; Snyder concorda e sustenta que uma punição ao regime de Pyongyang terá efeito simbólico. Segundo ele, a Coreia do Norte já está isolada da comunidade internacional. ;Diante das ameaças do país, será importante redobrar os esforços para controlar a proliferação;, aconselha. ;Isso pode ocorrer com a implementação da Resolução 1.540 do Conselho de Segurança da ONU.; Hipocrisia De acordo com Stephen Schwartz, ex-diretor executivo do Bulletin of the Atomic Scientists, os EUA e a Rússia demonstram hipocrisia ao conclamarem outros países a não produzirem urânio ou plutônio, ;enquanto eles mesmos se sentam sobre enormes estoques;. ;Isso terá de ser abordado, para que um Tratado de Proibição de Materiais Físseis seja bem-sucedido;, afirma. ;O recente teste nuclear pode estimular nações a apoiarem as negociações no âmbito desse acordo.; Schwartz vê Pyongyang como ameaça ;incipiente;. ;Não acho que a Coreia do Norte vá encorajar outros países a construírem armas atômicas ou a se oporem a tratados limitando o arsenal.; Para Chaibong Hahm, cientista da Rand Corporation, os próximos passos do regime dependerão das respostas de Japão e Coreia do Sul. ;Existe a possibilidade de que eles se sintam ameaçados e se armem com ogivas atômicas.; Em Genebra, a Conferência sobre Desarmamento recebeu apoio de 24 dos 65 países-membros. O embaixador Luiz Filipe de Macedo Soares, chefe da delegação brasileira, espera que a Coreia do Sul volte a aderir ao TNP. A adoção de medidas para tentar conter a proliferação nuclear depende de consenso absoluto. O organismo volta a se reunir amanhã.

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