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Entrevista - Enrique Ortez Colindres, chanceler de Honduras

postado em 02/07/2009 07:50

O advogado Enrique Ortez Colindres foi nomeado Ministro de Relações Exteriores de Honduras. Ortez escreveu vários livros sobre integração centro-americana, foi presidente do Banco Centro-americano de Integração Econômica (BCIE) e assessor do presidente Manuel Zelaya. Ele contou ao Correio porque se distanciou de Zelaya e ressaltou que não houve golpe de Estado em Honduras e que o país "tem presidente".


Então o plano agora é receber a comissão da OEA, comprovar que se cumpriu o ordenamento jurídi co e esperar que Micheletti seja confirmado internacionalmente como presidente da República?


O presidente Micheletti em todo momento é presidente e não estamos esperando que venham a confirmar que é presidente. O povo hondurenho já o escolheu como presidente. O que nós vamos comprovar é o cumprimento da lei, mas não substituir presidentes ou justificar os cargos. Aqui é presidente com OEA ou sem OEA. Aqui não houve golpe de Estado, aqui se respeita toda a Constituição Política, todo ordenamento jurídico.


O que pensaram quando saíram declarações como a do presidente Lula, que diz que não vai reconhecer outro governo que não seja o de Zelaya?


Nós respeitamos o critério de todos os Estados, todo Estado é livre segundo os critérios que lhe corresponda, assim como todo estado é livre para defender-se, formar parte, e buscar os amigos ou retirar-se. O único que vamos fazer é a reciprocidade. Os que não quiserem ter relações com Honduras, tampouco Honduras vai querer ter relações.


Como é assumir como chanceler sabendo que há rechaço na comunidade internacional?


Tenho 50 anos de atividade profissional. Aqui há uma pessoa que assumiu o governo. Então, sinto uma honra enorme de trabalhar para o povo hondurenho.


E como vê a possibilidade de que Honduras não receba mais empréstimos do banco do Sistema de Integração Centro-americana (SICA) conforme alguns países sugeriram?


Eu fui presidente por três períodos do Banco Centro-americano de Integração Econômica (BCIE) e isso não podem fazer. Essa é uma função que não lhe correspondem. O Banco não pode expulsar nem suspender a um estado-membro. Nós fomos presidentes (do BCIE) quando tivemos a guerra com El Salvador, e respeitamos os empréstimos para os dois países beligerantes. Assim que não é possível juridicamente que se suspenda os empréstimos a Honduras. E além disso, temos a sede e garantimos o funcionamento a todos os países-membros.


Diz-se que as consultas públicas que Zelaya queria fazer eram ilegais. Por quê?


Aqui as consultas só podem ser feitas por um organismo eleitoral, sob a competência autônoma da Justiça Eleitoral. Mas o pior foi o que eles fizeram foi mudar no diário oficial o caráter da consulta, que já não era uma consulta técnica, mas a consulta já constituía o poder para convocar a Assembleia Constituinte.


Queria saber a sua opinião sobre a relação de Zelaya com a Aliança Bolivariana para as Américas (Alba).


A Alba, que sabiamente o presidente Lula não tomou parte, é um pacto econômico, social e militar. Os membros têm que se apoiar militarmente e recebem instruções de quem dá o dinheiro, nesse caso, Chávez. Isso converte nosso país dependente dos petrodólares. Temos aqui evidências de que recebeu um empréstimo de US$ 100 milhões e não lhe impuseram um controle, de maneira que não sabemos onde está esse dinheiro que o povo hondurenho terá que pagar. E com esse dinheiro estavam celebrando essas eleições espúrias da quarta urna. Essa é uma forma disfarçada de prosperar em um sistema como o que tem Fidel Castro.


Zelaya foi eleito com o apoio do Partido Liberal, com uma propaganda neoliberal, e é empresário do setor agropecuário. De repente se volta para o Socialismo do Século XXI. Foi uma surpresa?


Eu fui o assessor principal que levou à presidência o presidente Zelaya, e não foi uma surpresa para mim. Ele me disse dois dias antes de tomar posse que não acreditava na democracia na qual eu acreditava e que não ia terminar seu mandato. Eu lhe perguntei "por quê"? E ele me disse: "porque vão me derrubar do poder, porque vou atacar os Estados Unidos, as transnacionais e as oligarquias". Desse momento já trazia a ideia de unir-se ao grupo e à ideologia de Chávez, que não é outra coisa que uma deformação do comunismo e socialismo internacional. Depois de ser liberal, ele se rodeou de um grupo de comunistas. "Governar é saber rodear-se", já dizia um presidente de Guatemala, e Zelaya se rodeou de pessoas que lhe fizeram perder o poder. Ele me disse que Chávez lhe ofereceu um plano de ação e solidariedade econômica, como facilidades de crédito na compra de petróleo. Então eu lhe disse que ia perder meu apoio, e me retirei.


Vai ser difícil explicar à comunidade internacional porque colocaram o presidente Zelaya em um avião e o levaram para Costa Rica;


Pode ser. Mas no momento o perigo não se vê desde Washington, o perigo se vê na cara das pessoas com ânimo de matar, de uma turba enfurecida que já lhe tinha tirado do poder. Nós quisemos proteger a vida dele e a de sua esposa.


Zelaya não ficou como vítima? O que vai acontecer agora?


Nós já temos um presidente eleito como diz a constituição, por unanimidade, então o que foi presidente poderá regressar já sem cargo, como faltou e desacatou as ordens constitucionais. Este é o único caso na América Latina que vai ser um precedente em que sai o exército para fazer com que a lei seja cumprida e para defender a constituição. Em outras partes, os militares o que fazem é ficar com o poder.


E sobre a notícia dos sequestros dos embaixadores de Venezuela, Nicarágua e Cuba em Honduras?


É absolutamente falso. Nenhum embaixador foi tocado e todos são protegidos pelas leis hondurenhas e as autoridades. Seria uma barbaridade e eu mesmo renunciaria se o governo fizesse um ato como este.

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