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Nicolas Sarkozy assiste ao 7 de setembro de olho em negócios de bilhões de euros

postado em 06/09/2009 14:44

O governo brasileiro não poderia ter preparado um cenário mais otimista para a chegada do presidente francês, Nicolas Sarkozy, convidado especial de Luiz Inácio Lula da Silva para as comemorações do 7 de setembro ; no âmbito da celebração do Ano da França no Brasil. A menos de uma semana da visita do mandatário francês, o Senado aprovou, com uma rapidez impressionante, a obtenção de um crédito de 6,08 bilhões de euros para a construção de cinco submarinos de tecnologia francesa. Além disso, Lula assumiu em público sua preferência pelo caça Rafale, da francesa Dassault, na concorrência F-X2 da Força Aérea Brasileira (FAB).

Durante a visita, que tem motivações bem mais expressivas que o desfile na Esplanada dos Ministérios, serão assinados pelos presidentes Lula e Sarkozy o contrato de fornecimento de 51 helicópteros EC-725 ; a serem construídos aqui e usados pelas três Forças ; e a compra de quatro submarinos convencionais da classe Scorp;ne e de outro, com propulsão nuclear, cujo motor será desenvolvido pelo Brasil. O programa militar ainda prevê a construção de um estaleiro e de uma base de apoio para os submarinos.

No projeto aprovado pelo plenário do Senado na última quarta-feira, o governo está autorizado a pedir um empréstimo externo de 4,32 bilhões de euros a um consórcio de bancos liderado pelo francês BNP-Paribas. Os recursos serão destinados ao programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), da Marinha brasileira. Já a segunda verba aprovada pelo Senado, de 1,76 bilhão de euros, será fornecida entre 2010 e 2016 por um consórcio formado pelas empresas Helibras (brasileira)e Eurocopter (franco-alemã). Um dia depois da decisão dos senadores, o governo enviou ao Congresso, para ;ajudar; na construção dos submarinos, um crédito de R$ 982 milhões, decorrente de royalties de petróleo.

A aprovação dos créditos pelo Senado, no entanto, só veio após o ministro da Defesa, Nelson Jobim, comparecer à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional para prestar esclarecimentos sobre a escolha dos submarinos franceses, em detrimento, por exemplo, do IKL-214, da empresa alemã HDL. O argumento principal do Executivo é a disposição dos franceses para transferir tecnologia ; que vem sendo considerada ponto primordial também na disputa dos caças para a FAB.

Tática
Para o especialista em segurança Salvador Ghelfi Raza, professor da Universidade de Defesa dos Estados Unidos, contudo, no caso dos submarinos, só a transferência de tecnologia não basta. ;A questão tática, que é muito importante para a integração com o que temos, vai nos custar caro. A engenharia de sistemas na França é muito sofisticada, é muito boa, mas ela é muito autônoma, não dialoga com os outros países;, afirma Raza. ;A nossa doutrina de emprego de submarinos de patrulha foi desenhada em cima da lógica da Otan, que é diferente da francesa. No momento em que nos voltamos para a França, não quer dizer que fizemos uma má escolha, mas o custo da integração tática equivalerá a cerca de 25% do valor total, numa compra de cinco submarinos;, completa.

O pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp Geraldo Cavagnari acredita que a integração dos submarinos franceses com os cinco modelos alemães usados hoje pela Marinha brasileira ; e com o restante das embarcações ; não será um problema tão grande. ;O que pode ocorrer é uma evolução dentro do que nós já temos. Mas a França e os Estados Unidos, na questão de doutrina tática, são parecidos, porque os franceses também são ;meio Otan;;, destaca Cavagnari. Além disso, a oferta francesa bate a alemã pelo simples fato de oferecer a possibilidade de o Brasil ter um submarino de propulsão nuclear, sonho antigo da Marinha, que colocará o país no seleto clube das potências que dispõem dessa tecnologia.

Pacote total divide especialistas
Encaminhados os acordos entre França e Brasil sobre os submarinos e helicópteros, a definição pelo caça Rafale na concorrência F-X2 da FAB parece cada vez mais próxima. A preferência do governo brasileiro pela proposta da Dassault, até então velada, foi confirmada em declarações do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na última semana, ele disse que considera a França ;o único país importante disposto a discutir a transferência de tecnologia;.

A provável opção por fechar todo o pacote militar com um só país, uma decisão essencialmente política, divide as opiniões dos especialistas em defesa. ;A lógica da escolha do submarino é diferente da do avião. O Scorp;ne é considerado um dos melhores do mundo dentro da sua classe. Já o que está acontecendo com o caça é uma indução da vontade política, muito mais por uma afinidade pessoal com os franceses;, questiona o consultor Salvador Ghelfi Raza. ;O que eu tenho visto nas discussões é muito mais paixão do que análise.;

Para Raza, a análise técnica feita pela FAB sobre as três propostas ; concorrem com o Rafale o norte-americano F/A-18 Super Hornet da Boeing e o Gripen da Saab ; está ;muito bem feita;, mas pesará pouco na decisão final do ministro da Defesa, Nelson Jobim. ;A FAB não decide, apenas recomenda. Só que, geralmente, para esse tipo de negociação, há uma equipe intermediária, que atribui valores às propostas analisadas pelos técnicos, antes de enviar à equipe decisora. Nós pulamos essa etapa;, explica.

O especialista Geraldo Cavagnari, do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp, não vê problemas em uma escolha mais política para a compra dos 36 caças. ;Ela é válida desde que a decisão técnica não seja atropelada;, ressalta Cavagnari, que também considera ;interessante; fechar todos os acordos com um só país. ;Se eles oferecerem condições atraentes, é óbvio que vamos fechar um pacote só, com um só país. Nós fizemos isso com os Estados Unidos até o fim da Guerra Fria, e foi correta a atitude tomada naquela época;, argumenta.

A proposta da Rafale parece, de fato, cada vez mais atraente. Segundo o Correio apurou, os franceses reduziram seu preço em quase 30%, para equipará-lo ao dos concorrentes. Cavagnari não descarta que surjam desentendimentos políticos com os franceses, no futuro. ;Mas acredito que a continuidade do entendimento será levada em conta na hora da escolha.; (IF)

Ficha técnica

Submarino Scorp;ne

Tripulação: até 31 pessoas
Comprimento: de 59m a 66m
Peso: 1,4 mil até 1,7 mil toneladas
Profundidade de imersão: 350m
Autonomia: 12 mil km (superfície, à velocidade de 8 nós) ou mil km (submerso, à velocidade de 5 nós)
Velocidade máxima: 20 nós ou 37km/h (submerso) e 12 nós ou 22km/h (na superfície)
Tempo máximo das missões: 70 dias
Tempo máximo submerso: três semanas
Países onde é usado: França, Chile, Índia e Malásia

Helicóptero EC 725

Tripulação: até 30 pessoas
Comprimento: 19,5m
Peso: 5,3 toneladas
Capacidade de carga: 5,6 toneladas
Autonomia de voo: 857km
Velocidade máxima: 324km/h
Países onde já é usado: França, México (comprou seis unidades) e Malásia (pretende comprar 12)

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