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No aniversário do pior atentado da história, EUA ainda lutam para pacificar o Afeganistão

postado em 11/09/2009 08:00
Quando o Boeing 767-223ER da American Airlines lançou-se contra a Torre Norte do World Trade Center, boa parte dos 33 milhões de habitantes de um pequeno país do Sul da Ásia não imaginava que sofreria diretamente as consequências. Eram 8h45 de um 11 de setembro ensolarado em Nova York (17h15 no Afeganistão) e as notícias sobre o pior atentado terrorista (1)da história demoraram a chegar ao outro lado do mundo. ;Durante o regime do Talibã, não havia muita cobertura de mídia em meu país;, contou ao Correio, pela internet, o afegão Ahmad Khan, hoje com 27 anos. Morador de Khost, capital da província de mesmo nome no leste do Afeganistão e reduto da milícia fundamentalista islâmica, o estudante só soube à noite do ataque aos Estados Unidos, por meio do noticiário em pashtun da emissora britânica BBC. ;Honestamente, até então eu desconhecia o que era a Al-Qaeda. Só soube quando o Exército norte-americano veio e começou a caçar os terroristas;, revelou.

Um avião de combate negro, vindo do Oceano Índico, levou a ;vingança; em forma de bombas. O contador Ajmir Imtiaz, de 22 anos, morava no vilarejo de Mirwais Mina, na província de Jawizjan (norte). ;Eu me lembro que acordei com o barulho horrível das bombas. Quando vimos o caça no céu, sentimos alívio por saber que logo estaríamos livres do Talibã;, relatou ao Correio. Às 6h de 7 de outubro de 2001, um domingo, um depósito de armas da localidade de Qol Ordo, a 5km da casa de Imtiaz, foi pelos ares. ;Os Estados Unidos atacaram o principal paiol do Talibã e libertaram a cidade da milícia;, lembra o rapaz.

Era o início de uma ofensiva que já deixou 1.374 soldados mortos, incluindo 821 americanos e 213 britânicos. Oito anos após os atentados contra as torres gêmeas e o Pentágono, os EUA conseguiram quase nada em termos de retaliação à morte de 2.990 pessoas. ;Tivemos mudanças no desenvolvimento do país, como melhores oportunidades de negócios, mas os progressos das forças americanas e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em relação à segurança têm sido ínfimos;, reconhece Imtiaz.

[SAIBAMAIS]O jornalista Kamal Nasir Hamyar, morador de Faizabad (nordeste), admite que os Estados Unidos lograram uma grande mudança na educação e no desenvolvimento do Afeganistão. No entanto, ele não acredita que a tão proclamada vingança do ex-presidente George W. Bush foi consolidada. ;Ainda temos combates nas províncias do sul, e eles têm se espalhado para o nordeste. Além disso, os EUA não conseguiram reduzir as plantações de papoula (base do ópio) nem lutar contra a corrupção do governo de (Hamid) Karzai;, opinou. O terrorista Osama bin Laden provavelmente se esconde em algum ponto da fronteira com o Paquistão, e o Talibã se encontra às portas de Cabul. O panorama sombrio é agravado por ações desastrosas da Otan: no último dia 4, um bombardeio da aliança contra a província de Kunduz matou 135 pessoas, incluindo 70 civis; na quarta-feira passada, uma operação para resgatar um jornalista britânico terminou na morte de um repórter afegão.

Erros
Por e-mail, o afegão Abdulhadi Hairan, de 30 anos, analista do Centro para Estudos de Paz e Conflito (Caps) ; com sede em Cabul ;, afirmou que os EUA conseguiram várias façanhas no Afeganistão, como o estabelecimento de um governo democrático. No entanto, alertou que as conquistas não puderam ser mantidas. ;Cada vez mais pessoas nos EUA exigem uma retirada. Isso foi o resultado de erros e do fato de a Casa Branca ignorar o apoio do Paquistão ao terrorismo;, explicou. Segundo Hairan, a condição de santuário para terroristas moveu-se do Afeganistão para o país vizinho. ;Washington faz vistas grossas ao apoio financeiro e militar de Islamabad aos extremistas. Eles operam lá, recebem treinamento e realizam atentados dentro do Afeganistão;, advertiu. A inoperância das forças estrangeiras levou centenas de moradores de vilarejos a formarem milícias para combater o Talibã no Paquistão.

Enquanto carros-bomba e terroristas suicidas matam centenas de inocentes no Iraque e no Afeganistão, a ideologia da rede Al-Qaeda contamina muçulmanos em regiões longínquas. Somália e Iêmen são paraísos para a disseminação da interpretação mais fanática do Corão e a internet se mantém como veículo do ódio. Provas de que os EUA falharam na resposta à tragédia de 11 de setembro de 2001.

1 - Tributo aos mortos
Como já é de costume, a cidade de Nova York homenageia hoje as 2.752 pessoas que morreram na destruição do World Trade Center em Manhattan. O prefeito Michael Bloomberg e funcionários municipais participarão do ritual no Marco Zero, marcado pela leitura do nome dos mortos e por momentos de silêncio na hora do impacto dos dois aviões contra as torres gêmeas e seus desmoronamentos. Ao anoitecer, luzes poderão ser vistas no céu a partir do local das torres.

; Eu acho...

Ajmir Imtiaz, 22 anos, contador, morador de Cabul
;Eu me recordo daquele dia. Nós não tínhamos TV em casa e meu tio tinha um aparelho por satélite em seu quarto. Por meio dele, nos informamos que houve um ataque contra o World Trade Center. A televisão não era permitida pelo Talibã, então meu tio assistia secretamente. Percebi que a economia americana sofreria um grande impacto e que haveria o início de uma nova estratégia dos EUA contra o terrorismo (Operação Liberdade Duradoura). Compreendi que o único lugar no qual a Al-Qaeda estava baseada era o meu país e imaginei que o Afeganistão seria o primeiro alvo dos Estados Unidos;

Abdulhadi Hairan, 30 anos, analista do Centro para Estudos sobre Paz e Conflito (Caps), de Cabul
;A segurança está se deteriorando a cada dia. Os insurgentes têm aumentado sua presença nas cidades do centro e do norte do Afeganistão. O governo é fraco e as forças internacionais são muito cautelosas em suas operações, por causa da crítica em torno das baixas civis. O resultado: péssimos dias adiante. Agora só restam duas opções para o sucesso em meu país: forçar o Paquistão a interromper o apoio ao terrorismo e fortalecer o governo afegão, ao invés de aumentar o contingente das forças internacionais;

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