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Entrevista: Wangari Muta Maathai e Rajendra Kumar Pachauri falam sobre o Nobel da Paz de Obama

postado em 10/10/2009 10:04 / atualizado em 22/09/2020 10:45

Eles também foram escolhidos para se somar a nomes de peso, como Martin Luther King Jr., Mikhail Gorbachev, Dalai Lama, Madre Teresa de Calcutá e Theodore Roosevelt. A ambientalista queniana Wangari Muta Maathai, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 2004, participava de um seminário em Londres quando soube da notícia. Ela havia se encontrado com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, na última segunda-feira. ;Eu estive em Washington a convite do projeto Avoided Deforestation Partners e Obama me disse que apoiava a luta contra o desmatamento e que seria cooperativo em Copenhague;, afirmou, referindo-se à Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU, que ocorrerá entre 7 e 18 de dezembro. O cientista indiano Rajendra Kumar Pachauri aguardava o voo de volta para Calcutá em León, no México, onde participou do Fórum Global de Energias Renováveis. Em 2007, o presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas dividiu a honraria com o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore Jr. Em entrevista exclusiva ao Correio, por telefone, ambos elogiaram o Nobel da Paz para Barack Obama.

Nova era de diálogo

Como vê a decisão do Comitê Nobel de agraciar o presidente Obama?
Wangari Maathai:
É algo extraordinário, maravilhoso. É algo empolgante o fato de políticos começarem a ganhar o Nobel, já que, desde sua eleição, e mesmo antes, Obama tem demonstrado as qualidades de uma pessoa que deseja promover a paz, a diplomacia. Apesar de ser o homem mais poderoso do planeta, dirigindo a maior potência do mundo, ele é humilde e estende as mãos para resolver conflitos. Ele acredita que as pessoas possam manter uma parceria, com dignidade e respeito. Eu quero congratular o presidente Obama.

Rajendra Pachauri:
Foi um incidente muito importante, porque Obama trouxe grandes mudanças em toda a atmosfera de negociações globais e nas relações globais. Ainda que ele não tenha muito tempo de Casa Branca, sua abordagem é de negociação e não de conflito. Obama também injetou uma nova força no processo de paz do Oriente Médio e tem apresentado o diálogo ao Irã, em vez de confronto. Acho que definitivamente ele conseguiu um novo paradigma, e, por isso, creio que lhe deram o prêmio.

Que esforços Obama fez em direção à paz para merecer o Nobel? Críticos afirmam que o prêmio foi precipitado;
Wangari Maathai:
Eu acho que o povo pensa que outros (indicados) poderiam ter ganho o prêmio. Tenho certeza de que o Comitê Nobel batalhou com centenas de nomes, mas não acho que precisemos reconhecer o que Obama poderia fazer, mas o que ele já fez. O presidente dos Estados Unidos trouxe uma mudança para o país. Isso mostra que uma nova era foi aberta. Ele teve a coragem de abrir uma nova era de cooperação. O Nobel sinaliza claramente que ele tem promovido oportunidades para a paz no mundo. Você se lembra de que, quando ele foi eleito, o mundo inteiro celebrou. Obama criou um impacto mundial em um curto espaço de tempo.

Rajendra Pachauri: Obama começou a falar com o mundo muçulmano, está tentando fazer o melhor para levar o Irã ao foro internacional. Ele tem obtido avanços em várias direções e se mostra um democrata ao incentivar o diálogo entre os países.

Segundo o Instituto Nobel Norueguês, Obama foi reconhecido pelos ;esforços para fortalecer a diplomacia internacional e a cooperação entre os povos;. Como analisa essa justificativa?
Wangari Maathai: Durante a crise econômica, Obama foi muito determinado e focado. Disse que o mundo deveria agir antes de ela se tornar outra Grande Depressão. Desde aquela época, ele tem se engajado na diplomacia no Oriente Médio e no leste da Europa. E ele mostrou determinação para negociar inclusive com países como o Irã. Ele quer ter a certeza de promover a parceria e o diálogo e tenta alcançar os governos do Irã e do Iraque. Obama representa uma oportunidade e um comprometimento novos e ele tem obtido muito em termos de criar essas oportunidades, em um curto tempo. Então, acho que o Comitê está certo.

Obama tem raízes no Quênia. Como seu país recebe mais uma vez essa distinção?
Wangari Maathai: Acho que para o Quênia é um grande prêmio, um momento maravilhoso para meu país. O Quênia deveria estar extremamente orgulhoso pelo presidente Obama. E sei que está. Sei que a África está acesa com entusiasmo desde a eleição de Obama. É um momento de grande celebração na África, mas também de desafios. As pessoas de toda a África têm de lembrar que essa é uma indicação do que o continente pode alcançar, se for mais bem dirigido por um líder. Esse tipo de prêmio traz um grande impacto nas pessoas, dá-lhes esperança, coragem e oportunidade para acreditarem nelas. Saber que tudo é possível se estiverem focadas e determinadas.

A atual gestão dos EUA está comprometida com o combate às mudanças climáticas?
Rajendra Pachauri: Definitivamente. Nós estamos vendo uma mudança na posição dos Estados Unidos em relação às negociações. Eu me reuni com o porta-voz da missão diplomática dos Estados Unidos e ele me assegurou que há essa mudança. Ainda não tive a oportunidade de conversar pessoalmente com o presidente Obama. Espero que eu possa ser apresentado a ele em breve.

 

 

Ouça podcast com Rajendra Pachauri (em inglês):

 

 

A mulher das árvores
A queniana Wangari Muta Maathai, 69 anos, é natural da vila Ihithe, no distrito de Nyeri. Primeira mulher do centro-leste da África a obter graduação em ciências biológicas nos Estados Unidos, concluiu o mestrado pela Universidade de Pittsburgh em 1966 e, cinco anos depois, completou seu doutorado na Alemanha e na Universidade de Nairóbi. Ainda na década de 1970, como membro do Conselho Nacional de Mulheres do Quênia, introduziu no país a ideia de comunidade baseada no reflorestamento. Fundou o Green Belt Moviment (Movimento Cinturão Verde), uma organização não governamental que ajudou mulheres a plantarem cerca de 40 milhões de árvores em terrenos de fazendas, escolas e igrejas. Em 1986, a ONG estabeleceu a Rede Pan-Africana do Cinturão Verde, com o objetivo de disseminar a técnica pela África. Entre dezembro de 2002 e 2007, atuou como deputada, após obter 98% dos votos. Em 8 de outubro de 2004, foi escolhida ganhadora do Prêmio Nobel da Paz por ter contribuído com o desenvolvimento sustentável, a democracia e a paz.


O senhor do clima
O indiano Rajendra Kumar Pachauri, 69 anos, nasceu em Nainital, no estado de Uttarakhand, aos pés do Himalaia. Diretor-geral do Instituto de Recursos e Energia (Teri, na sigla em inglês), entidade focada na promoção do desenvolvimento sustentável, foi nomeado chefe do Painel Intergovernamental sobre Mundanças Climáticas (IPCC) em 20 de abril de 2002. Cinco anos depois, a comissão de especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) dividiu o Prêmio Nobel da Paz com o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore Jr., diretor da Aliança para Proteção Climática e diretor do documentário Uma verdade inconveniente, vencedor de duas estatuetas do Oscar no mesmo ano. Em janeiro de 2008, Pachauri também levou o Padma Vibhushan, a segunda distinção civil mais famosa da Índia. Com pós-doutorado em engenharia industrial e economia, é um vegetariano estrito, graças à religião hinduísta. Em suas palestras pelo mundo, costuma alertar sobre os riscos catastróficos do aquecimento global para a população menos favorecida do planeta.

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