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Tiroteio em base militar mata 12

Major e dois soldados são acusados de disparar contra colegas de Fort Hood, no Texas

postado em 06/11/2009 08:22
As memórias da guerra e um fuzil nas mãos podem ser receita para uma tragédia. Provavelmente foi isso que ocorreu ontem à tarde em Fort Hood (1), no Texas. Uma das maiores bases militares do mundo se preparava para uma cerimônia festiva de graduação. Às 13h30 (17h30 em Brasília), tiros foram disparados no Centro de Processamento de Prontidão de Soldados e no Teatro Howze, na ala oeste do complexo. A base conta com programas de reabilitação de militares que sofrem da síndrome de estresse pós-traumático (PTSD). "Nós temos uma situação terrível e trágica aqui", declarou à rede de TV Fox News o general Bob Cone. "Soldados, familiares e civis que trabalham aqui estão absolutamente devastados", acrescentou. Outro tiroteio teria ocorrido um pouco mais tarde, segundo as agências de notícias.

Até o fechamento desta edição, o balanço de mortos era de 11 soldados e um civil - 31 pessoas ficaram feridas, duas em estado "muito grave". As primeiras informações davam conta que um dos atiradores era o major Malik Nadal Hasan, que trabalhava como psiquiatra na base. O criminoso, morto por policiais, tinha 39 anos. Dois soldados também foram detidos, sob suspeita de envolvimento no tiroteio.

O presidente dos EUA, Barack Obama, considerou o incidente uma "explosão horrível de violência". "Esses homens e mulheres têm feito a decisão desinteressada e corajosa de se arriscarem e, às vezes, de darem suas vidas para proteger o resto de nós. É difícil o bastante quando perdemos esses bravos americanos em batalhas no exterior. É horrível eles terem ficado sob fogo na base do Exército, em solo americano", declarou o mandatário, durante pronunciamento em rede nacional de TV.

Especialista
Em entrevista ao Correio, por telefone, o psicólogo Michael J. Telch - coordenador do Projeto de Risco de Síndrome de Estresse Pós-Traumático (PTSD, pela sigla em inglês) em Combate do Texas - afirmou que ainda é prematuro associar a tragédia à doença. "Há muitas possíveis causas para o que ocorreu em Fort Hood. Eu diria que é possível, mas não muito provável. Não temos ideia das motivações para o crime".

Segundo o especialista, que leciona na Universidade do Texas em Austin, a PTSD atinge entre 13% e 18% dos soldados que retornam do front. "Um dos tratamentos para a síndrome envolve a ;transformação; do terapeuta em paciente, ajudando-o a experimentar as memórias dramáticas e processá-las. Algumas vezes usamos a medicação como alternativa a esse método", acrescentou Telch. "Também adotamos a terapia cognitiva, por meio da qual auxiliamos o paciente a corrigir algumas crenças sobre o trauma, que podem estar contribuindo com o estresse."

1 - Maior base do país
Fort Hood é a maior base militar dos Estados Unidos, localiza-se perto da cidade de Killeen, no estado do Texas, e conta com cerca de 40 mil soldados. Abrigando a 1; Divisão de Cavalaria do Exército e parte da 4; Divisão de Infantaria, do 3; Regimento de Cavalaria Armada e do 13; Corpo de Comando de Apoio. Todas são unidades de intensa participação na guerra do Iraque. A base foi palco de outros atos de violência nos últimos anos. No mais recente antes do atentado de ontem, em setembro de 2008, um jovem soldado de 21 anos, integrante da 1; Divisão de Cavalaria, atirou em um superior, matando-se em seguida.



Para saber mais
Forte ameaça
A síndrome de estresse pós-traumático pode ser definida como uma significativa perturbação psíquica causada pela exposição da pessoa a um evento no qual ela se sentiu sob forte ameaça. Ao passar pela experiência, o paciente passa a reviver a sensação de medo ou angústia profunda que sentiu quando o fato ocorreu. São comuns relatos de pessoas que dizem sentir continuamente aquelas emoções meses depois da experiência. A síndrome pode surgir a partir de casos extremos, como a participação em um conflito armado, ou pela exposição à violência urbana, por exemplo. Há estudos que relacionam o problema a ambientes de trabalho insalubres. Entre outros sintomas apontados pelos especialistas estão alucinações, insônia, falta de concentração, tristeza profunda, alta irritabilidade, medo, apatia excessiva e angústia.

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