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Febre inflacionária toma conta do Haiti

Agência France-Presse
postado em 21/01/2010 16:56

PORTO PRÍNCIPE - Ovos mexidos a 13 dólares, diária de hotel a 200 dólares: uma verdadeira febre inflacionária começou a tomar conta do Haiti desde o terremoto de 12 de janeiro. Alimentos, bebidas e gasolina são negociados a preço de ouro, para a alegria dos especuladores.

Em Porto Príncipe, as vítimas do terremoto não têm acesso a bens e produtos mais básicos. Em consequência, os que conseguem juntar grandes quantidades de água, comida ou gasolina ganham muito dinheiro.

"Eu possuía vários galões de gasolina em casa antes do terremoto. Agora, vendo-os aos poucos, por 400 gourdes (cerca de 10 dólares) cada um. E não aceito negociar", afirma Ludovic, que cobra o dobro do preço normal.

No entanto, com a reabertura progressiva dos postos de gasolina, os ambulantes tendem a desaparecer. "Se quisermos trabalhar, temos que pagar mais pela gasolina. Mas acho que podemos ganhar mais dinheiro trabalhando com todos os estrangeiros que estão na cidade. Tudo está ligado", narra Léonard, um taxista, que está aguardando na fila de um dos raros postos abertos de Porto Príncipe.

A inflação sobre alimentos e bebidas está muito pior. Os vendedores ambulantes de água e refrigerantes aumentaram os preços em mais de 100% desde o dia do terremoto. A garrafa de 25 centilitros de água, que custava 1 gourde, vale agora 3 gourdes. O mesmo acontece com os refrigerantes, que passaram de 10 a 20 gourdes.

A inflação também atingiu os cartões de telefone, os cigarros e as bebidas alcóolicas, cujos preços foram multiplicados por pelo menos dois. "É óbvio que são bens que foram roubados em algum supermercado em ruínas da cidade. E nem são gelados", reclama Corinne, desdenhando o refrigerante oferecido por um camelô.

A constatação é a mesma nos hotéis de Porto Príncipe, lotados de jornalistas que vieram do mundo inteiro para cobrir a catástrofe. Com eles, os haitianos não negociam em gourdes, e sim em dólares.

"Antes do terremoto, uma diária custava 70 dólares. Desde quarta-feira, custa 200 dólares", explica o diretor de um hotel da capital, que não quis divulgar o nome. "Não roubamos ninguém. Oferecemos um serviço em uma cidade onde não há mais nenhum", justifica.

Em uma cidade onde 90% dos restaurantes e supermercados desabaram, comer bem se tornou um luxo.

Um prato de macarrão com molho de tomate custa 11 dólares e uma porção de ovos mexidos é negociada por 13 dólares, o que coloca Porto Príncipe, capital do país mais pobre das Américas, no mesmo nível que Madri ou Roma.

"As pessoas não têm mais nada para comer na rua. A ajuda humanitária não vem. Precisamos de muito tempo e dinheiro para conseguir estes alimentos", insiste Maurice, chef do restaurante de um hotel.

A inflação não poupa os transportes. Alugar um táxi com motorista por um dia custa 300 dólares, uma verdadeira fortuna em um país onde o salário médio de um operário é inferior a 5 dólares por dia. "Estou ganhando muito dinheiro, mas isso não vai durar. Dentro de alguns dias, o mundo já terá esquecido o Haiti, e vamos ter que poupar porque quase todos os haitianos perderam seu emprego", explica Frédéric Leny, outro taxista.

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