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Ameaça que vem do céu

Meteorologista alerta que a temporada de furacões será mais intensa, aponta o país na rota das tempestades e teme uma nova catástrofe devastadora ainda este ano

postado em 15/02/2010 09:36
A partir de 1; de junho, os haitianos terão mais uma preocupação, além de prosseguirem com os esforços de reconstrução do país devastado pelo terremoto de 12 de janeiro passado. Dessa vez, a ameaça virá do céu e também terá a capacidade de disseminar destruição, medo e mortes. De acordo com meteorologistas norte-americanos, a temporada de furacões que se formam sobre o Oceano Atlântico será atípica, o que aumenta as chances de os fortes ventos e as tempestades atingirem com força a Hispaniola ; a maior ilha do Caribe, que abriga o Haiti e a República Dominicana.

;Acreditamos que o Atlântico estará mais ativo este ano do que o normal, por causa do aumento de temperatura da superfície oceânica;, explica ao Correio o cientista Phil Klotzbach, do Departamento de Ciência Atmosférica da Colorado State University (CSU). ;Também esperamos que o fenômeno El Niño, que reduziu a atividade de furacões em 2009, termine este ano.;

Membro da equipe do meteorologista William M. Gray, pioneiro na previsão de ciclones, Klotzbach alerta: ;Não é preciso um furacão para devastar o Haiti. Mesmo uma tempestade tropical pode lançar tremendas quantidades de chuva e ser incrivelmente devastadora;. De acordo com ele, são grandes as chances de o Haiti ser atingido por catástrofes climáticas. ;Acreditamos que as probabilidades de uma tempestade tropical, um furacão ou um grande furacão passar a 80km do país são, respectivamente, de 49%, 28% e 13%;, prevê. ;Até 2009, essas médias eram de 38%, 21% e 9%. Em 2004, a tempestade tropical Jeanne despejou 304mm de chuva perto de Gonaives (norte) e 2 mil pessoas morreram.

Klotzbach admite que o Haiti está mais suscetível a prováveis danos provocados pelas tempestades tropicais previstas para este ano. ;As maiores preocupações são as inundações e os deslizamentos de terra;, explica. ;Um cenário pior seria um furacão de baixa movimentação ou uma tempestade tropical que lançasse grandes quantidades d;água sobre uma determinada região;, teoriza o cientista. Um relatório da CSU aponta para a possível formação de entre 11 e 16 tempestades tropicais no Atlântico (a média histórica fica entre nove e 10), assim como entre seis e oito furacões (a média é de cinco a seis) ; entre três e cinco seriam furacões bem maiores.

O empresário Thierry Bijou, 33 anos, não se incomoda com as previsões dos meteorologistas. ;Nós realmente não nos importamos. Estamos vivendo um dia de cada vez. Não pensamos sobre o que o amanhã trará;, comenta. ;Honestamente, como isso pode ficar pior?;, questiona. No entanto, ele reconhece que será preciso tirar os moradores das ruas. O tremor de 12 de janeiro deixou 1 milhão de desabrigados, parte deles acomodados em tendas de papelão e pano.

Fragilidade
A fragilidade das construções improvisadas preocupa o brasileiro Valmir Fachini, coordenador de projetos de água, saneamento e cultivo da organização não governamental Viva Rio no Haiti desde 2008. ;É necessário que a população se prepare o mais rápido possível para não ser pega de surpresa;, recomenda. ;Os haitianos estão erguendo seus barracos com madeira reciclada das construções que desabaram e recobrindo-as com plástico, panos e materiais facilmente substituíveis, em caso de furacões;, acrescenta. Em outros aspectos, a preparação para enfrentar tragédias ganha em intensidade. ;Por aqui ainda existem muitos grupos especializados em catástrofes. O Viva Rio dispõe de uma brigada e de um grupo de emergência, treinados para atuar nessas ocasiões;, destaca Valmir.

Segundo Fachini, o segredo para reduzir danos de furacões e tempestades está na ;arquitetura branda;. ;Os haitianos precisam ver que a reconstrução começou. Isso deve ser feito com materiais capazes de suportar os eventos da natureza, e que, ao mesmo tempo, sejam leves o bastante para não matar pessoas;, aconselha.

Eu acho...
Brasil e UE discutem ajuda

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e a chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, vão se reunir hoje, em Madri, com o chanceler espanhol, Miguel Angel Moratinos, para preparar a VI Cúpula América Latina e Caribe-União Europeia, marcada para 18 de maio. Medidas para a reconstrução do Haiti e o reforço da ajuda humanitária ao país, que foi devastado por um forte terremoto há um mês, terão destaque na pauta do encontro.

;A reconstrução do Haiti é um assunto muito importante para europeus e brasileiros, mas, como tudo é muito recente, é preciso uma análise profunda para coordenar melhor a ajuda internacional, assunto que será debatido na cúpula ministerial;, informaram à agência France Presse fontes diplomáticas, em Bruxelas.

Na semana passada, a União Europeia se mostrou disposta a lançar uma operação de assistência militar para proporcionar abrigos aos flagelados do Haiti. O governo brasileiro estuda mobilizar um efetivo de até 2,6 mil pessoas para colaborar nas tarefas de reconstrução.

O encontro realizado na Espanha, país que ocupa a presidência semestral da União Europeia, tem como objetivo reforçar o diálogo político entre Bruxelas e Brasília. A situação em Honduras, o processo de paz no Oriente Médio e as mudanças climáticas também devem entrar na pauta do encontro.

As discussões sobre Honduras são um ponto delicado do encontro. As relações entre o Brasil e o país foram cortadas após a deposição do ex-presidente Manuel Zelaya, em junho do ano passado. O governo brasileiro se negou a conversar com o presidente interino Roberto Micheletti, e acolheu Zelaya como hóspede na embaixada em Tegucigalpa por mais de três meses. A eleição do novo presidente, Porfírio Lobo, que tomou posse há um mês sem a presença de representantes brasileiros na cerimônia, não foi reconhecida. A União Europeia enviou para a posse de Lobo apenas um encarregado de negócios.

Clima
Com uma participação ativa nas questões climáticas, a União Europeia e o Brasil vão se empenhar ainda na busca de iniciativas para impulsionar politicamente as negociações internacionais para combate ao aquecimento global, depois da declaração de intenções obtida pela Organização das Nações Unidas (ONU) na conferência mundial realizada em Copenhague. A ideia é chegar à cúpula do México com um compromisso mais substancial.

Outro ponto em debate, embora sem perspectivas de avanços, é a retomada da negociação para um acordo de associação entre a UE e o Mercosul, suspensas desde 2004. Essa é apontada como uma das principais metas da presidência espanhola do bloco europeu. Entretanto, admite-se que ainda há muitos obstáculos pelo caminho.

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