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Repúdio mundial é lançado ao golpe militar

postado em 20/02/2010 10:50
A junta militar de Níger espalhou ontem tanques em volta do palácio presidencial após o golpe de Estado ocorrido na quinta-feira. Além dos tanques, veículos equipados com metralhadoras cercavam o bairro do palácio ; área de Niamei, capital do país, onde também estão ministérios, residências oficiais e o Estado-Maior do Exército. Enquanto o bairro estava praticamente deserto, a situação nos bairros populares de Dar El-Salam e Lazaret era praticamente normal, com muitas pessoas nas ruas. O Conselho Supremo para a Restauração da Democracia (CSRD), grupo militar que retirou do poder o presidente nigerino, Mamadou Tandja, procurou acalmar a população acabando com o toque de recolher e assegurando que reabrirá as fronteiras e libertará diversos ministros sequestrados. O porta-voz do CSRD, o coronel Goukoye Abdoulkarim, ressaltou ontem que a situação em Níger ;está sob controle e não há dissidência;.

;Neste dia, 18 de fevereiro, nós, as forças de defesa e segurança, decidimos assumir nossa responsabilidade colocando fim à tensa situação política;, explicou Abdoulkarim ainda na quinta-feira. Além de sequestrar ministros durante uma reunião de gabinete, dissolver as instituições ligadas ao governo e suspender a Constituição, o conselho prendeu o presidente deposto em um quartel a sudeste de Niamei. O grupo militar garante que Tandja, que causou uma crise política no país após prolongar o próprio mandato por três anos, está bem. ;Ele pôde ver seu médico e seu estado de saúde é normal;, garantiu um oficial.

O conselho anunciou que, no lugar dos ministros, os secretários-gerais dos ministérios serão responsáveis por parte das decisões nacionais. ;Com o governo dissolvido, o CSRD informa à população que os assuntos públicos correntes serão resolvidos pelos secretários-gerais dos ministérios e governos;, afirmou o grupo, em comunicado. Os militares divulgaram, ainda, que o líder do esquadrão é o comandante Salou Djibo, cuja unidade ; de armamentos pesados ; teve grande importância para a concretização do golpe. Os combates armados para a tomada do poder na quinta-feira tiveram o saldo de pelo menos três mortos.

Repercussão
A União Africana (UA) condenou a ação e exigiu um retorno à ordem constitucional no Níger, um dos países mais pobres do mundo, apesar de ser o terceiro produtor mundial de urânio(1). ;A UA condena sistematicamente qualquer mudança constitucional e a tomada de poder através da força;, destacou o presidente da UA, Jean Ping, que admitiu estar preocupado com o desenrolar da situação no país. Ping entrou em contato com o presidente da comissão da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) e com outras autoridades internacionais para tentar mediar um acordo com os militares.

A chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Catherine Ashton, respaldou o posicionamento da UA e incentivou ;todos os envolvidos a se comprometerem imediatamente em um processo democrático; a fim de restabelecer a ordem constitucional no Níger. ;A UE compartilha a inquietude da União Africana e da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental sobre os acontecimentos recentes e apoia seus esforços de mediação;, informou o porta-voz de Ashton, Lutz Güllner.

1 - Produção perigosa
No ranking dos países produtores de urânio, o Níger só perde para o Canadá, maior produtor mundial, e para o Cazaquistão. Em 2008, avaliou-se que a produção anual de urânio ; elemento fundamental para a construção de armas nucleares ; em Níger era de 3,3 mil toneladas e correspondia a 48% da receita de exportação do país. A empresa francesa Areva, de energia, investiu US$1,5 bilhão para trabalhar em uma das minas do país, considerada a segunda maior do mundo. Por causa do excesso de oferta, os preços do urânio caíram drasticamente em 2009 ; e se mantêm neste ano.

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