Mundo

Tropas permanecem na fronteira

Preocupado com a presença da guerrilha das Farc no território brasileiro, governo prorroga por 90 dias a missão da Força Nacional de Segurança em postos no Amazonas. Exército planeja instalar mais 38 pelotões em áreas fronteiriças da Região Norte

postado em 26/05/2010 08:19
O governo brasileiro decidiu manter a Força Nacional de Segurança Pública na fronteira com a Colômbia enquanto houver risco de aproximação do narcotráfico. Há quase 20 dias, a Polícia Federal prendeu um traficante ligado às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que têm uma rede logística instalada no Amazonas, e as autoridades não descartam a presença de mais guerrilheiros em território brasileiro. A maior preocupação da PF quanto à presença das Farc no país é a atuação da guerrilha colombiana no tráfico de cocaína.

A Força Nacional estava auxiliando a polícia amazonense e a PF na fiscalização da fronteira Tabatinga, no extremo sul da divisa, até São Gabriel da Cachoeira, no extremo norte, na área conhecida como Cabeça do Cachorro. Na semana passada, após a prisão de José Samuel Sanchez, responsável pela logística das Farc, o governo do estado pediu a manutenção dos militares por mais 90 dias, e foi atendido pelo governo federal. ;Coma presença da Força Nacional, a criminalidade se reduziu na fronteira. Por isso, a comunidade solicitou a permanência por pelo menos 90 dias;, afirma o deputado Lupércio Ramos (PMDB-AM), um dos políticos que intercederam com o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, pela permanência dos militares.

Segundo o deputado, a presença da organização guerrilheira no país é recorrente na região de fronteira. ;Falam bastante sobre a entrada das Farc no Brasil. Esse é um assunto que perdura há anos;, afirma Ramos. O parlamentar explica que a ausência de uma atividade econômica nas regiões mais remotas do estado faz com que o narcotráfico e a guerrilha recrutem pessoas inocentes para a criminalidade. ;Pode ser até que não haja presença (das Farc) em território nacional, mas com certeza há influência na população local;, diz o deputado.

A Força Nacional deverá manter sua área de atuação, que são cidades ao longo do Rio Solimões, concentrando um contigente de 100 militares em Tabatinga, Benjamin Constant, Atalaia do Norte, Santo Antônio do Içá, São Paulo de Olivença, Amaturá, Jutaí e São Gabriel da Cachoeira. Os municípios são considerados vulneráveis, devido a sua localização estratégica, entre o rio e a floresta.

Reforço
A presença do narcotráfico aliado à guerrilha na fronteira não preocupa apenas as autoridades de segurança pública, mas também as Forças Armadas. Além de transferir brigadas do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro para a Amazônia, o Exército pretende criar 38 pelotões especiais de fronteira em todos os estados da Região Norte. Quatro deles já estão em andamento, em Vila Contão (RR), Tunuí (AM), Tiriós (PA) e Marechal Thaumaturgo (AC). A medida faz parte do Projeto Amazônia Protegida, que reforçará militarmente a região até 2030.

As informações sobre a presença das Farc no Amazonas foram confirmadas com a prisão de Sanchez, no último dia 8, mas a movimentação da organização na região é um fato antigo. A Polícia Federal chegou a montar um posto na vila de Melo Franco, na Cabeça do Cachorro, em 2004, já que havia suspeita de que integrantes da guerrilha colombiana estavam atraindo índios brasileiros para a organização. Depois, a PF apreendeu no Rio Solimões um barco de bandeira nacional que estava levando remédios e munição para as Farc. O medicamento tinha sido desviado de postos médicos em cidades do Amazonas.

Os generais de Uribe

Jorge Enrique Mora
Foi para o comando das Forças Militares logo no início do governo de Álvaro Uribe, em 2002, com a missão de atacar as Farc na antiga zona desmilitarizada (para conversações de paz). Caiu em 2004, depois de atritos com a então ministra da Defesa, Martha Lucía Ramírez.

Carlos Alberto Ospina
Comandava o Exército quando foi escolhido para suceder Mora. Deixou o cargo em 2006, oficialmente por tempo de farda, mas em meio a denúncias sobre execuções sumárias de civis depois apresentados como guerrilheiros, o escândalo dos ;falsos positivos;.

Freddy Padilla
Assumiu o comando das Forças Militares no lugar de Ospina e colecionou vitórias de impacto sobre as Farc, como o bombardeio que matou o comandante guerrilheiro Raul Reyes e o resgate da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, ambas operações realizadas em 2008. Foi ministro interino da Defesa, em 2009, quando Juan Manuel Santos se afastou para disputar a sucessão de Uribe.

Mario Montoya
Sucessor de Padilla no comando do Exército, fez fama no Caquetá e depois em Medellín, onde erradicou as milícias urbanas das Farc, em 2002. Cotado para assumir o comando das Forças Militares, renunciou por causa dos ;falsos positivos;, em 2008, e foi nomeado embaixador na Costa Rica.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação