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Farc no leito de morte

postado em 20/06/2010 07:00
Em entrevista ao Correio, o costarriquenho Juan Carlos Hidalgo, coordenador de projetos para a América Latina do Cato Institute (em Washington), afirma que o enfraquecimento da guerrilha esquerdista Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) chegou a um "ponto sem retorno".

Como analisa o resgate de quatro reféns das Farc pelo Exército colombiano? É um sinal de que a guerrilha está debilitada?
A Farc vêm de um processo marcado e contínuo de enfraquecimento há vários anos. Seus principais líderes têm sido assassinados, um número importante de reféns foi libertado -- incluindo aqueles mais emblemáticos -- e acelerou-se o processo de deserção nas fileiras da guerrilha. As Farc continuam um grupo perigoso, com capacidade de infligir danos, especialmente a alvos civis. No início do ano, realizaram atentados contra várias cidades colombianas. Ainda assim, a guerrilha se encontra tão debilitada que chegou a um ;ponto sem retorno;. É praticamente impossível que ela se reagrupe e represente uma ameaça ao Estado colombiano, como era no início da década passada.

O senhor vê alguma ligação entre o segundo turno das eleições e os resgates da semana passada? Isso pode ser visto como manobra política?
As operações contra as Farc são realizadas semanalmente nas montanhas e selvas colombianas. É difícil acreditar que essa operação deveu-se a uma manobra política. A vantagem imensa de Juan Manuel Santos no primeiro turno sobre Antanas Mockus e sua iminente eleição como presidente não abre espaço para especulações. Santos não necessita desse tipo de manobra política para ganhar facilmente as eleições.

Que consequências esses resgates podem trazer para o processo de paz na Colômbia?
Não há espaço algum para negociações com as Farc. Não tem havido durante o governo de Uribe nem haverá em um governo de Juan Manuel Santos. Sabemos que a estratégia do governo colombiano é derrotar a guerrilha, que se encontra enfraquecida demais até mesmo para oferecer algo durante uma negociação.

O governo de Uribe não aceita o intercâmbio de prisioneiros e pede aos rebeldes que libertem os reféns e renunciem aos sequestros. Como vê isso?
O governo de Uribe tem considerado negociar com as Farc como se fosse negociar com um grupo terrorista. Não há espaço para negociação de qualquer tipo. A estratégia é continuar com o resgate de reféns -- que tem sido exitosa -- e seguir infligindo golpes nos cabeças da guerrilha. Se essa estratégia está funcionando, porque mudá-la agora que as Farc se encontram no leito de morte?

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