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EUA presencia a queda do general

Obama aceita demissão de Stanley McChrystal, comandante da Otan no Afeganistão, após reportagem publicada por revista americana

postado em 24/06/2010 07:22
O general Stanley McChrystal, comandante das forças internacionais no Afeganistão, gastou cerca de 15 horas de voo entre Cabul e Washington para ficar não mais que 20 minutos diante do presidente Barack Obama, na manhã de ontem. Chegou à Casa Branca calado e com o semblante tenso. Saiu de lá antes mesmo do encontro com a cúpula de Segurança Nacional, mudo e sem emprego. Por meio de um comunicado lacônico da Força Internacional de Assistência à Segurança (Isaf, pela sigla em inglês), McChrystal anunciou sua demissão. ;Esta manhã o presidente aceitou minha renúncia como comandante dos Estados Unidos e das forças de coalizão da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no Afeganistão. Eu apoio fortemente a estratégia presidencial no Afeganistão e estou profundamente comprometido com nossas forças da coalizão, nossas nações parceiras e o povo afegão;, escreveu. ;Foi por respeito a este compromisso (;) que eu ofereci minha renúncia;, acrescentou.

;A guerra é maior do que qualquer homem ou mulher, seja um cidadão, um general ou um presidente;, declarou Obama, às 13h30 de ontem (14h30 em Brasília). ;Apesar de ser difícil perder o general McChrystal, acredito ser essa a decisão certa para a segurança nacional;, emendou, ao justificar a aceitação da renúncia e a indicação do general David Petraeus (leia o perfil nesta página) para o cargo. Até a confirmação do nome de Petraeus por parte do Congresso dos EUA, a vaga será ocupada pelo general britânico Nick Parker, subcomandante da Isaf.

Barack Obama disse saudar o debate entre os membros de sua equipe, mas fez uma advertência: ;Eu não vou tolerar divisões;. O presidente lembrou que a conduta de McChrystal não se enquadrava nos critérios esperados de um general e descartou que ;insultos pessoais; o teriam levado a afastá-lo. McChrystal foi vítima de suas próprias palavras e de seu ego. Horas depois, o site da revista norte-americana Rolling Stone ; pivô do escândalo ; informava a demissão referindo-se à reportagem intitulada ;O general desgovernado; como a ;história que fez história;.

[SAIBAMAIS]No texto (leia trechos), publicado na segunda-feira, McChrystal e assessores ofendem Obama, o vice Joe Biden e membros da cúpula dos EUA. Enquanto o presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, afirmava ;respeitar a ;decisão interna; do governo Obama, o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, garantia que a estratégia de guerra não seria modificada. ;O general David Petraeus conhece muito bem o Afeganistão; é um militar de muita experiência;, disse Karzai.

Segurança
Analistas consultados pelo Correio criticaram a atuação de McChrystal à frente dos 142 mil soldados da Otan. Para o afegão Abulhadi Hairan, do Centro para Estudos de Paz e Conflito (em Cabul), McChrystal havia se transformado em uma figura política, a despeito de sua função como comandante. ;Ele atuava como uma espécie de secretário particular do presidente Karzai;, afirmou, pela internet. Hairan conta que antes de o general ascender ao cargo de líder militar da Otan, a milícia fundamentalista islâmica Talibã mantinha governadores em 12 províncias. ;Durante seu comando, a presença dos talibãs estendeu-se para 33 das 34 províncias;, comenta. ;McChrystal comprometeu seu trabalho ao permitir que Karzai e seus irmãos continuassem com seu negócio de drogas. Ahmad Wali Karzai, irmão do presidente, controla toda a região sul do país e é como uma máfia aqui;, acrescenta.

Por sua vez, o paquistanês Hasan-Askari Rizvi ; da Universidade de Punjab (em Lahore) ; aposta que a saída de McChrystal desmoralizou altos oficiais norte-americanos no Afeganistão. ;Os EUA precisarão revisar a política militar. Será preciso determinar como misturar estratégias de combate com medidas políticas, para ter sucesso também no Paquistão. Os EUA continuarão a perseguir sua agenda político-militar no Afeganistão, a fim de obterem resultados favoráveis antes do fim deste ano;, prevê.

De acordo com Rizvi, o general David Petraeus estará sob intensa pressão para obter resultados positivos em seis meses. ;Ele terá que desenvolver um trabalho de interação com o Paquistão. Levará algum tempo até que o governo paquistanês e os comandantes norte-americanos no Afeganistão desenvolvam uma metodologia para o Paquistão;, observa.

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