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Tráfico explora rota brasileira

País vira entreposto para cocaína destinada à Europa, mas é destino de drogas sintéticas vindas do Hemisfério Norte

postado em 24/06/2010 07:28
Em 1998, o Brasil não era nem de longe uma escala importante na rota da cocaína que saía dos vizinhos sul-americanos rumo ao Hemisfério Norte. Dez anos depois, 10% de toda a droga que chegou à Europa de navio e 40% da que chegou à França passou pelo país. Os dados são do Relatório Mundial sobre Drogas, divulgado ontem em todo o mundo pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC). Para a Polícia Federal brasileira, no entanto, o levantamento não mostra um outro fluxo importante ; o de drogas sintéticas dos Estados Unidos e da Europa em direção ao Brasil.

;O relatório não reflete a questão da oferta de droga na América do Sul. Um exemplo claro é que eles não mencionam as rotas de tráfico de drogas sintéticas, que vêm da Europa, dos Estados Unidos e da Ásia em direção ao Brasil;, afirmou Oslaim Campos Santana, coordenador Geral de Repressão a Entorpecentes da PF. Segundo o delegado, esse tráfico se reflete no tráfico interno, porque quem traz essas drogas ao país geralmente retorna levando cocaína.

Contudo, é fato que a passagem da cocaína produzida na América do Sul pelo Brasil é um problema de dimensões bem maiores. Apesar de, nos últimos 10 anos, o cultivo da coca ter caído 58% na Colômbia, o país continua sendo o principal produtor mundial de cocaína, com 43% do total. No rastro da diminuição dos cultivos na Colômbia, eles cresceram na Bolívia (38%) e no Peru (112%), que passa a liderar o ranking da folha de coca.

;Somos o único país a ter fronteira contínua com os três maiores produtores de cocaína do mundo e com o segundo maior produtor de maconha do hemisfério, que é o Paraguai. Somos um país de trânsito excelente para o traficante, com quase 9 mil quilômetros de fronteira de difícil fiscalização;, observou o secretário Nacional de Políticas sobre Drogas, general Paulo Uchôa, garantindo que o país não usa esses argumentos como ;justificativa;, mas como ;explicação;.

O secretário defendeu ainda que o Brasil ;não incomoda o mundo; quando o assunto é tráfico. ;Somos um país de trânsito, mas não produzimos. O que produzimos aqui é maconha de segunda categoria, plantada no Nordeste, mas que é superada de longe pela maconha do Paraguai;, assegurou. O país, contudo, figura como o principal mercado de cocaína na América do Sul ; 900 mil usuários ; seguido da Argentina. É também o terceiro em apreensões de maconha na região, atrás de Bolívia e Paraguai.

Redução mundial
Um dado positivo revelado pelo relatório é a redução tanto no cultivo de coca (5%) quanto de ópio (23%) em todo o mundo, puxada por recuos na Colômbia e no Afeganistão. No primeiro país, o bom resultado é atribuído à dura atuação do governo ; especialmente com o Plano Colômbia, a partir de 2000. No Afeganistão, que está sob ocupação dos Estados Unidos e de países aliados desde 2001, a redução não é creditada à repressão externa ou do governo afegão. ;Essa queda se deve em grande parte a uma praga que atingiu as plantações de papoula;, explica o representante do UNODC para o Brasil e o Cone Sul, Bo Mathiasen. Segundo o relatório, a produção de ópio no Afeganistão ainda deve cair ;drasticamente; em 2010.

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