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Sarkozy usa a TV para se explicar

postado em 12/07/2010 07:54
Nos romances policiais, o mordomo costuma ser o culpado. Na vida real, também. O empregado de ;Madame; Liliane Bettencourt ; acionista majoritária da gigante de cosméticos francesa L;Oréal ; gravou uma série de áudios para proteger-se e resguardar a patroa de vigaristas. Sem intenção, revelou uma intrincada trama política na França. O capítulo começa com um fotógrafo interesseiro, uma filha zelosa, um mordomo fiel, passa pela contadora de Bettencourt e chega ao presidente Nicolas Sarkozy. O mandatário promete esclarecer tudo hoje. Como um reality show, os franceses ficarão atentos a mais um capítulo que vai ao ar no canal de TV France 2, às 15h15 (em Brasília), no qual Sarkozy promete responder ;a todas as questões da atualidade;.

A história começa com Madame Bettencourt, terceira fortuna da França, com um patrimônio estimado, segundo a revista Forbes, em 16 bilhões de euros (cerca de R$ 35,52 bilhões). Após a morte do marido, o ex-ministro André Bettencourt, em 2007, a empresária da L`Oréal começou a dar presentes caros ao amigo fotógrafo François-Marie Banier. As lembranças incluíam desde quadros de Henri Matisse e Pablo Picasso a seguros de vida. Aos 87 anos, Madame ; como é chamada pelos empregados ; adotou o fotógrafo de 63 anos como filho.

Ao descobrir o plano dos dois, a filha Françoise Bettencourt-Meyers entrou na Justiça e alegou que a mãe estava fora de suas capacidade mentais. ;O objetivo (do fotógrafo Banier) é claro: separar minha mãe de nossa família para aproveitar-se dela. Não deixarei que isso aconteça;, disse, em entrevista ao jornal Le Point. À televisão francesa, Madame respondeu que não se sentia manipulada. ;Compreendo que uma filha tenha ciúmes de sua mãe. Eu também tinha ciúmes de meu pai e das mulheres que estavam ao seu redor;, disse.

O fotógrafo se defendeu e afirmou que sua relação traumática com os pais o fez sempre buscar amizade com pessoas mais velhas. Antes de ser amigo de Bettencourt, conquistou o carinho de outras senhoras abastadas da elite. Em troca, obteve a antipatia dos empregados de Madame. Alguns deles contaram à imprensa que, em certa ocasião, François-Marie Banier ligou para Bettencourt e lembrou-a de levar o talão de cheques. Cansado de ;ver como gente sem escrúpulos abusava de Madame;, o mordomo Pascal Bonnefoy começou a gravar as conversas da senhora com seus visitantes. Na verdade, Bonnefoy também queria se proteger depois de ver vários funcionários demitidos depois de serem ouvidos pela Justiça. Ao todo, foram 28 CDs, que revelaram desde contas ocultas na Suíça a doações de Madame ao ministro do Trabalho, Eric Woerth. Bonnefoy pediu demissão e entregou todos os CDs a Françoise Bettencourt.

Sonegação
Quando as gravações vieram à tona, Woerth era o responsável pela reforma da Previdência. As conversas demonstram que ele sabia da sonegação de impostos de Bettencourt e que aceitou generosas doações para o direitista União do Movimento Popular (UMP). A contadora Claire Thibout, que trabalhou para Madame durante 15 anos, teria dito à polícia que a senhora tinha financiado durante anos as campanhas de Sarkozy e da UMP, com somas proibidas pela legislação francesa. Segundo Thibout, o administrador da fortuna de Bettencourt, Patrice de Maistre, teria doado 150 mil euros (cerca de R$ 333 mil) para a campanha presidencial de Sarkozy, em março de 2007, por meio de Woerth ; então tesoureiro da UMP. Sarkozy e Woerth negam ter recebido dinheiro ilegal. Um relatório da Inspeção Geral de Finanças, publicado ontem, conclui que Woerth ;não interveio; no dossiê fiscal da herdeira da L;Oreal.

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