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Lei de imigração é risco para Obama

Especialistas advertem que postura combativa pode prejudicar a imagem presidencial

postado em 30/07/2010 07:47
A disputa travada na Justiça entre os governos federal e do Arizona não terá impacto apenas na vida dos quase 500 mil imigrantes ilegais que moram no estado da fronteira. A polarização já observada após manifestações de apoio de outros estados ; inclusive democratas (veja mapa) ; mostra que o presidente Barack Obama pode ter entrado em um terreno perigoso, ao bater de frente com um governo local em um tema tão sensível, a três meses das eleições legislativas. O questionamento sobre a constitucionalidade da lei criada pelo Departamento de Justiça e outras ações movidas por grupos civis fizeram com que o texto entrasse ontem em vigor sem seus pontos mais polêmicos. O governo do Arizona, no entanto, apresentou uma apelação contra o bloqueio de partes da Lei SB 1070, decidido na última quinta-feira pela juíza Susan Bolton.

Nove estados, entre eles os democratas Michigan e Pensilvânia, declararam apoio oficial ao direito do Arizona de formular uma lei relativa à imigração ; quando o governo federal alega que esse é um assunto de alçada nacional. Para especialistas, em um país que se orgulha de seu caráter federativo, o embate com os estados pode custar caro ao governo federal. ;Politicamente, essa decisão deu a impressão de que o governo Obama é indiferente às preocupações dos americanos do sudoeste do país, e que está mais preocupado com o voto dos hispânicos nas eleições de novembro e de 2012;, destaca o especialista Christopher Sands, do Hudson Institute, de Washington.

Segundo Mark Katz, professor da George Mason University, discussões sobre as responsabilidades dos vários níveis de governos em temas públicos já são uma tradição nos EUA. Nesse caso, no entanto, tornaram-se mais acirradas por conta da importância do tema. ;O governo do Arizona justifica sua ação, afirmando que Washington não agiu em relação à imigração ilegal e, portanto, o estado teve de fazê-lo. Mas, nesse caso particular, é claramente uma questão federal;, afirma.

Para o cientista político David Nice, da Universidade do Estado de Washington, é possível justificar a legitimidade de qualquer governo para legislar sobre esse tema, considerando os interesses individuais. ;Os que defendem a repressão aos imigrantes ilegais tendem a favorecer o Arizona, argumentando que o governo federal não conseguiu ainda lidar com o tema de forma satisfatória. Já quem não quer a repressão da forma como foi proposta pela Lei SB1070 tende a sustentar que a responsabilidade desse tema é, tradicionalmente, do governo federal;, explica.

David considera que Obama ; com popularidade baixa ; deveria demonstrar uma postura mais conciliadora em relação ao Arizona, com vistas às próximas eleições. ;Dar atenção às necessidades e às preocupações dos estados é importante como uma questão prática, já que isso pode ter impacto entre eleitores de algumas partes do país;, observa. Katz destaca que a maioria dos que apoiam a lei são brancos e conservadores. ;São pessoas que iriam votar nos republicanos de qualquer maneira.;

Apelação
O governo do Arizona recorreu à Corte de Apelações do Nono Circuito, em San Francisco, para tentar manter a versão original da medida. A juíza Bolton bloqueou as questões mais espinhosas da lei, que permitiam, por exemplo, a abordagem na rua de suspeitos de estarem ilegais no país e sua detenção temporária. Ontem, quando entrou em vigor a SB1070, novos protestos foram organizados em Phoenix, onde centenas bloquearam ruas do centro da cidade e três pessoas foram detidas em frente ao tribunal federal. Em Nova York, manifestantes tomaram a Ponte do Brooklyn. O brasileiro Hicham Aboul Hosn, 36 anos, que mora há dois anos em Phoenix, disse que, por conta do bloqueio aos itens mais polêmicos da lei, a tensão entre os imigrantes já é menor. ;Mas muitos brasileiros que conheço deixaram o estado com medo da lei. Os que estão aqui tentam agilizar sua situação;, afirma o comerciante, de cidadania americana.

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