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Pesquisas mostram reprovação a Barack Obama superior à aprovação

postado em 06/09/2010 09:12
O presidente americano no salão oval, anunciando ao país o fim das operações de combate no Iraque: o problema é a crise econômicaNa semana que os Estados Unidos começam com o feriado do Dia do Trabalho e terminam recordando a pior tragédia na história recente do país, o presidente Barack Obama deve aproveitar a deixa para mostrar à nação que realmente tem se empenhado para resolver os problemas que mais afligem o país: o desemprego, que atinge 9,6% dos americanos, e a interminável recessão. A ideia é reverter o quadro evidenciado nas últimas pesquisas, que já mostram uma desaprovação superior ao apoio recebido pelo governo.

A insatisfação atingiu 52% no último mês, quando Obama completou 20 meses à frente da Casa Branca. A reviravolta é extremamente perigosa para os democratas, considerando que, em menos de dois meses, os americanos vão às urnas para renovar parcialmente o Congresso (1). Obama corre o risco de perder a maioria tanto no Senado, onde os democratas têm 57 das 100 cadeiras, quanto na Câmara, onde a bancada governista agrupa 253 dos 435 deputados. E o histórico não é nada animador para o presidente: Bill Clinton, que chegou ao mesmo período de governo com índices semelhantes ; 54% de desaprovação ;, permitiu a retomada do Congresso pelos republicanos depois de 50 anos.

De volta do nono período de férias, e sob críticas por isso, Obama se debruçou especialmente em política externa: anunciou o fim das operações militares no Iraque e a retomada do diálogo direto entre israelenses e palestinos. Avanços na área externa, contudo, não correspondem ao que a população esperava. A insatisfação exposta nas pesquisas é motivada principalmente pelo desemprego, que já atinge quase um em cada 10 trabalhadores. E a oposição aproveita. ;O desemprego está acima de 9% há 16 meses, apesar de o governo prometer que o ;estímulo; de US$ 1 trilhão manteria as taxas a menos de 8%. A pergunta persiste: onde estão os empregos?;, desafiou o deputado republicano pelo Kentucky Geoff Davis, em resposta aos últimos pronunciamentos de Obama.

Na última sexta-feira, o presidente enfatizou, em discurso, os números divulgados pelo Departamento do Trabalho, que mostraram a criação de 67 mil empregos no setor privado, em agosto. ;Isso reflete os passos que já tomamos para atingir o cerne da recessão. Mas ainda não é o suficiente;, admitiu. Uma vez mais, Obama pediu calma e assumiu que levará ainda muito tempo para reparar os danos causados pela crise de 2008. Ele garantiu, no entanto, que nesta semana discutirá com a equipe ;um grande pacote de ideias; para a economia.

Prioridades
Para o especialista Brian Darling, da conservadora Fundação Heritage, parte da impopularidade do governo se deve às prioridades fixadas. ;Resolver a crise no Oriente Médio é importante, mas não está entre as principais preocupações dos americanos. As conversas de paz no Oriente Médio não vão ferir a imagem do presidente, mas podem reforçar a percepção de que ele não se importa o suficiente com a economia do país;, opina Darling.

O cientista político Mark Katz, da George Mason University, concorda que a atenção demasiada a temas externos é uma das razões de insatisfação. Ele pondera, no entanto, que Obama não pode se descuidar deles, sob risco de perder ainda mais. ;Os americanos estão, como sempre, muito mais focados em problemas domésticos. Só que eles serão os primeiros a reclamar se as questões externas piorarem;, afirma.

A inabilidade para vencer a recessão e reduzir o desemprego, contudo, é o principal calo de Obama, na opinião do especialista David Boaz, do Instituto Cato. ;Presidentes tendem a ser impopulares quando o crescimento é lento e as pessoas não têm trabalho. Obama gostaria desesperadamente de ver os números melhorarem antes das eleições. Se soubesse como reduzir o desemprego, faria isso;, observa Boaz. Para ele, não há dúvida: o presidente ;está pensando nisso a cada minuto; ; inclusive durante as criticadas férias.


1 - Mudanças à vista
Nas eleições de 2 de novembro estão em jogo todas as 435 cadeiras da Câmara dos Deputados e 37 dos 100 postos no Senado. O mandato dos deputados é de dois anos, até 2012, quando será realizada nova eleição, simultânea à presidencial. Já no Senado, o mandato de 34 dos 37 eleitos em 2010 será de seis anos, a partir de 3 de janeiro de 2011. Os eleitos para as outras três cadeiras ; representando os estados de Delaware, Nova York e Virgínia Ocidental ; terão menos tempo: vão substituir senadores que não concluíram o mandato.

Perigo nas urnas, agora e em 2012

O desafio mais próximo para Obama e os democratas está a menos de dois meses, nas eleições legislativas de novembro. Mas pesquisas realizadas recentemente mostram que o presidente precisa pensar ainda mais além: na corrida à Casa Branca, em 2012. Um levantamento divulgado pela rede CNN, na segunda semana de agosto, mostrou que, qualquer que seja o candidato republicano para desafiar o presidente, ele já tem 50% dos votos, contra apenas 45% do mandatário.

;Os números não estão nada bem para Obama. E ele já enfrenta um sério risco de chegar a 2012 como não favorito, se os republicanos escolherem um nome popular e respeitado para concorrer;, alerta Brian Darling. O especialista da Fundação Heritage, entretanto, acredita que o presidente ainda pode reverter o quadro nos próximos dois anos, ;se tomar medidas que indiquem que ele está ouvindo o povo americano e dedicando todo esse tempo para resolver problemas na economia;.

Boaz também considera que, até 2012, há um longo caminho a ser percorrido, principalmente observando o histórico na Casa Branca. ;É muito cedo para fazer previsões desse tipo. Os republicanos levaram as duas casas do Congresso em 1994 (nas eleições parlamentares), mas Clinton foi facilmente reeleito em 1996. Em 1983, pelas pesquisas, Reagan já tinha perdido para Mondale, mas venceu por 20 pontos, um ano depois;, lembra.

Para David Nice, professor da Universidade Estadual de Washington (WSU), contudo, reverter o quadro até novembro será muito mais difícil. ;De acordo com as previsões, os democratas tendem a perder entre 35 e 50 cadeiras na Câmara e cinco ou seis no Senado, possivelmente mais. Além disso, os republicanos tendem a assumir o controle de vários governos estaduais;, prevê. ;Só mesmo sinais de uma recuperação econômica mais forte, entre agora e novembro, mudariam esse quadro.; (IF)


Os obstáculos

;O fator mais importante para a desaprovação é a economia. Como alguns economistas previram, temos uma recuperação fraca e o quadro de emprego ainda não é muito animador. Algumas pessoas também estão descontentes com a lentidão da retirada no Iraque e no Afeganistão.;
David Nice, cientista político da Universidade Estadual
de Washington (WSU)

;Um dos problemas de Obama é a credibilidade. O governo prometeu que o estímulo manteria o desemprego abaixo de 8%. Isso não aconteceu. E o presidente tem passado políticas impopulares, como reforma da saúde.;
Brian Darling, especialista da Fundação Heritage

;Os principais obstáculos ao governo são a contínua debilidade da economia e a intratabilidade de vários problemas de política externa, especialmente o Afeganistão e a questão palestina.;
Mark Katz, cientista político da George Mason University

;Obama enfrenta dois problemas principais. Primeiro, a economia continua ruim e a taxa de desemprego subiu depois que o presidente anunciou o ;verão da recuperação;. Em segundo lugar, o público em geral se opõe à sua agenda. As pessoas estão preocupadas com os gastos do governo, os deficits e a dívida nacional, e veem Obama continuar a gastar dinheiro que não temos.;
David Boaz, especialista do Instituto Cato

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