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CBS revela que sua correspondente foi estuprada nas manifestações no Egito

Agência France-Presse
postado em 16/02/2011 12:23

Nova York (EUA) - A jornalista Lara Logan, uma das mais conhecidas correspondentes internacionais da rede americana CBS, foi agredida sexualmente de forma brutal por uma multidão enfurecida no Egito, onde participava da cobertura das comemorações após a queda do presidente Hosni Mubarak na última sexta-feira.

Logan estava na Praça Tahrir, epicentro das manifestações antirregime, na sexta-feira, dia em que Mubarak renunciou, quando foi afastada de sua equipe em meio à multidão, contou a CBS em um comunicado.

"Ela, sua equipe e seus seguranças foram cercados por um grupo perigoso em meio à celebração. Era uma turba de mais de 200 pessoas, que estavam enfurecidas", indica o texto. "No ataque deste grupo, ela foi separada da equipe".

"Logan foi cercada, e então brutal e continuamente violentada e espancada, antes de ser salva por um grupo de mulheres, ajudadas por cerca de 20 soldados egípcios".

Ela viajou aos Estados Unidos no dia seguinte, e "está neste momento internada no hospital, recuperando-se".

O episódio todo durou entre 20 e 30 minutos, de acordo com o Wall Street Journal, que citou uma fonte próxima à repórter. Esta fonte, no entanto, afirmou que "não se tratou de um estupro".

A nota divulgada pela rede americana indica que "não haverá mais nenhum comentário por parte da CBS News, e a correspondente Logan e sua família respeitosamente solicitam que sua privacidade seja observada neste momento".

Lara Logan, de 39 anos, nascida na África do Sul, cobriu os conflitos no Iraque e no Afeganistão, tornando-se um dos mais conhecidos rostos da cobertura de guerra na imprensa dos Estados Unidos. Em 2006, tornou-se a principal correspondente estrangeira da CBS.

Pelo menos 140 jornalistas foram feridos ou mortos desde 30 de janeiro na cobertura da crise política no Egito, segundo o Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ), organização baseada em Nova York.

Lara Logan é membro da CPJ, e supervisiona um programa internacional de assistência a jornalistas vítimas de violência e repressão.

No dia 2 de fevereiro, Logan relatou como ela e sua equipe haviam sido impedidas de filmar manifestações na cidade de Alexandria, sendo conduzidos sob a mira de fuzis de volta para o hotel por soldados e agentes à paisana.


Acusações

"Fomos acusados de ser mais do que jornalistas", disse Logan. "Foram feitas sugestões muito assustadoras, sugestões que poderiam ter sido muito perigosas para nós", contou a repórter na época.

No dia seguinte, soldados detiveram-na junto com a equipe da CBS no Cairo, onde foram interrogados durante toda a noite. Antes de serem libertados, sofreram ameaças caso não deixassem o Egito imediatamente.

"Fomos detidos pelo exército egípcio", indicou Logan, nos Estados Unidos, em entrevista ao blog The Politics, da revista Esquire. "Presos, detidos e interrogados. Vendados, algemados, levados sob a mira de armas, nosso motorista foi espancado. Foi o regime que nos prendeu".

"Nos mantiveram em posições de estresse - não deixavam que eu abaixasse minha cabeça. Foi assim durante toda a noite. Ficamos absolutamente exaustos", contou a repórter.

"Fomos acusados de ser espiões israelenses. Fomos acusados de ser agentes (secretos). Fomos acusados de tudo", disse ela à Esquire, antes de retornar ao Egito para acompanhar a queda de Mubarak.

Manifestantes tomaram as ruas do Egito durante 18 dias seguidos até a queda do presidente Mubarak, que estava há 30 anos no poder

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