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Chávez resiste a se tratar no Brasil

Manuel Martínez
postado em 07/07/2011 09:04
São reduzidas as chances de o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, aceitar se tratar no Brasil do câncer que foi diagnosticado no mês passado em Cuba. Uma fonte ligada à diplomacia venezuelana disse ontem ao Correio que, ;em uma escala de zero a 10, a possibilidade de o convite feito pelo governo brasileiro ser aceito é três;. Chávez retornou a Caracas na última segunda-feira, depois de quase um mês em Havana, e está sob os cuidados de uma equipe médica venezuelana, mas chefiada por especialistas cubanos. O sigilo que conseguiu manter sobre a doença durante o período em que esteve internado poderia explicar a preferência do presidente: como paciente de um hospital particular brasileiro, ele estaria mais vulnerável a vazamentos de informação.

A oferta brasileira, de acordo com reportagem do jornal Folha de S. Paulo, teria sido oficializada pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, na última sexta-feira ; dia seguinte ao pronunciamento em que Chávez anunciou para os venezuelanos que tinha passado por duas cirurgias em Cuba. A primeira, de emergência, foi feita no último dia 10, mas a única informação oficial sobre ela mencionava a remoção de um abscesso na região pélvica. Seguiram-se três semanas de silêncio governista e uma onda de rumores, até que o próprio presidente esclareceu sobre a segunda intervenção, realizada 10 dias depois da primeira.

Caso aceitasse tratar-se no Brasil, Chávez poderia ser recebido pelo hospital Sírio-Libanês, que cuida do presidente paraguaio, Fernando Lugo. Vítima de um câncer linfático, desde agosto do ano passado Lugo comparece regularmente ao hospital paulistano. A vaga foi garantida pelo Executivo brasileiro, mas os honorários são pagos pelo país vizinho. Condição semelhante seria aplicada a Chávez. A diferença está em que Lugo não vê inconvenientes em que seu tratamento seja de conhecimento público.

As restrições a respeito da doença do mandatário venezuelano se devem à preocupação de seu governo em manter uma imagem forte, o que poderá ser fundamental para as eleições gerais do ano que vem. Além disso, pesa a precaução de evitar sinais que indiquem a possibilidade de Chávez não concluir o mandato. Rumores com esse teor contribuiriam para estabelecer um cenário de instabilidade social na Venezuela, tendo como combustível também as dificuladades econômicas. Além da inflação anual na casa de 30%, o país tem sofrido com cortes de energia e escassez de gêneros alimentícios.

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A máquina de propaganda oficial venezuelana tem trabalhado duro para mostrar que o presidente está bem. No último fim de semana, a agência de notícias oficial distribuiu fotos e vídeos de Chávez com as filhas no jardim da clínica cubana onde se recuperava das cirurgias. Embora visivelmente mais magro, ele se mostrava bem disposto e caminhava sem dificuldades. Na última terça-feira, já de volta a Caracas, mas impedido pelos médicos de comparecer às celebrações do bicentenário da independência, ele leu uma mensagem em rede nacional autorizou o início da parada militar, em que foram exibidos os aviões, helicópteros, tanques e outros armamentos recém-adquiridos da Rússia. Além de mostrar-se disposto, o presidente passou o dia postando mensagens em sua conta no microblog Twitter.

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