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Tunísia entra em uma nova era de democracia

Agência France-Presse
postado em 22/11/2011 16:10
TÚNIS - A Tunísia entrou nesta terça-feira em uma nova era de democracia com a sessão inaugural de sua Assembleia Constituinte, que elegeu como seu presidente o líder do partido de esquerda Ettakatol, Mustapha Ben Jaafar, dez meses depois do levante popular que pôs fim à ditadura.

A Assembleia, formada por 217 membros, o primeiro corpo deliberativo eleito da Primavera Árabe, confirmou um acordo no qual o partido islâmico Ennahda e outros dois partidos dividiram entre si os três principais cargos do país.

Além de Ben Jaafar na Presidência da Constituinte, Moncef Marzouki, líder do CPR, deve chegar à Presidência da República, e Hamadi Jebali, número 2 do Ennahda, foi convocado a dirigir o próximo governo.

Os legisladores, que terão a tarefa de formular a nova Constituição e abrir caminho para as novas eleições, cantaram o hino nacional quando a sessão começou no palácio Bardos, nos arredores de Túnis.

Antes da votação, Mustapha Ben Jaafar fez um curto discurso. "Serei fiel à grande revolução tunisiana, fiel aos seus objetivos, custe o que custar. Para mim, os objetivos da revolução se resumem na ruptura com o sistema totalitário que ainda não desapareceu", disse.

"Esta revolução nasceu do desemprego, das disparidades regionais, da pobreza e da necessidade de reformas políticas (...) A Tunísia está em um momento crucial de sua história", acrescentou.

Já a adversária derrotada por Jaafar, Maya Jribi, considerou que a primeira reunião da Assembleia Constituinte representa um "dia histórico" para a Tunísia.

"Minha candidatura é uma mensagem para vocês, eleitos do povo, e ao povo tunisiano para dizer que o tempo da candidatura única acabou definitivamente", declarou ela antes da votação.

"Eu dou graças a Deus por todos os mártires, aqueles que se feriram e que lutaram para que pudéssemos testemunhar este dia histórico", afirmou o líder do Ennahda, Rached Ghannouchi, à AFP, depois da sessão de abertura.

"Este acontecimento é como uma segunda independência para a Tunísia", declarou Ahmed Mestiri, figura importante na luta pela a independência da Tunísia da França em 1956.

Centenas de manifestantes, incluindo parentes de alguns dos mortos nos levantes, receberam os legisladores recém-eleitos no palácio de Bardo com um aviso. "Nós estamos observando vocês", diziam alguns dos cartazes.

"Estamos aqui para lembrar os legisladores das demandas da revolução tunisiana - dignidade e liberdade - e para dizer que o povo tunisiano não entregou a eles um cheque em branco", disse Rafik Boudjaria da Frente Cívica para a Democracia e a Tunísia.

Apesar das garantias do Ennahda, alguns tunisianos expressaram preocupação que uma Tunísia dominada pelos islâmicos possa repelir os direitos conseguidos com dificuldades, como o Código de Condição Pessoal, visto como um dos mais progressistas conjuntos de leis sobre as mulheres no mundo árabe.

"A Tunísia quer apoiar um modelo de sociedade em que o Islã não seja sinônimo de terrorismo, fanatismo, extremismo ou hostilidade para a democracia", disse Ghannouci no domingo durante uma visita à Argélia.

Em entrevista à AFP nesta terça-feira, Ghannouci, que não pertence à Assembleia e insiste que não busca nenhum cargo oficial no novo poder executivo, prometeu promover "um projeto de reconciliação nacional, não um projeto de vingança".

Um levante popular que teve início em dezembro de 2010 causado pela insatisfação com o desemprego e com o alto custo de vida causou a queda de Ben Ali, que estava no poder há 23 anos e era considerado um dos autocratas mais arraigados do mundo.

A revolta desencadeou uma onda de protestos pró-democracia pela região e os tunisianos coroaram sua revolução no mês passado com uma eleição histórica para a Assembleia Constituinte.

O Ennahda, um partido islâmico moderado inspirado na Irmandade Muçulmana, possui 89 cadeiras enquanto o CPR e o Ettakatol controlam 29 e 20 cadeiras, respectivamente.

Os membros da câmara recém-eleita também devem escolher duas cadeiras de deputados e adotar regras internas baseadas em um documento formulado pelo corpo, agora dissolvido, responsável pela reforma política depois da saída de Ben Ali.

Desafiando o bloco formado pelos três principais partidos, o Partido Democrático Progressista e o Pólo Modernista Democrático, que têm 16 e cinco cadeiras respectivamente, serão as principais forças de oposição.

Mas uma questão permanece sem resposta, já que o Petição Popular, grupo anteriormente desconhecido liderado por um milionário de Londres do ramo da carpintaria que obteve 26 cadeiras, tornou-se o terceiro maior partido da Assembleia e não tem uma posição definida.

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