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Violência na Síria deixa 50 civis mortos na véspera da visita de Kofi Annan

Agência France-Presse
postado em 09/03/2012 15:34
Damasco - As forças sírias lençaram nesta sexta-feira (9/3) vários ataques contra redutos rebeldes, matando cerca de 50 civis, a maioria em Idleb, na véspera da chegada a Damasco do emissário internacional Kofi Annan.

A sexta-feira foi marcada também por um novo revés para o regime. Após a demissão de um vice-ministro, dez oficiais de alto escalão do Exército, incluindo quatro generais e dois coronéis, desertaram e chegaram nesta sexta à Turquia, segundo a agência oficial turca Anatolia e a oposição síria.

No plano diplomático, a Rússia, aliada de longa data do regime de Bashar al-Assad, anunciou que se opõe ao novo projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre a Síria, por considerá-lo "desequilibrado".
Esse anúncio ocorre antes de uma reunião sobre a Síria prevista para sábado no Cairo entre o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, e seus colegas dos países da Liga Árabe, da qual alguns integrantes fizeram fortes críticas à posição de Moscou.

Aproveitando-se da incapacidade da comunidade internacional em chegar a uma posição sobre a Síria, o regime de Assad enviou suas forças para esmagar manifestações em redutos da contestação, principalmente em Idleb (noroeste), Homs (centro) e Hama (centro), segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos(OSDH).

Na ofensiva mais sangrenta, 24 civis perderam a vida em Idleb, sendo pelo menos 13 na cidade de Ain Larose, indicou a ONG. Outras cidades também foram atacadas.

Enquanto um grande número de blindados e de soldados se reunía no distrito de Jabal al-Zaouia, os militantes pró-democracia temiam uma operação de envergadura semelhante à que foi efetuada em Baba Amr, bairro de Homs retomado pelo Exército no dia 1; de março após um ataque devastador. "O maior número de desertores (na Síria) está em Jabal al-Zaouia", explicou à AFP o presidente do OSDH, Rami Abdel Rahmane.

Em outros setores rebeldes da província de Homs, 16 civis foram mortos, incluindo dez na queda de obuses e foguetes e três na dispersão de uma manifestação contra o regime. Quatro civis morreram em Hama e um outro em Aleppo (norte) atingidos por tiros disparados contra os manifestantes, indicou o OSDH.

Como em todas as sextas-feiras desde 15 de março de 2011, dezenas de milhares de sírios saíram às ruas. Aleppo, onde os manifestantes gritavam "Apareça Assad" ou "Assad, seus dias estão contados, que Deus amaldiçoe tua alma", registrou a sua maior mobilização em um ano, segundo militantes.

De acordo com a ONG, aglomerações também ocorreram em Damasco e em sua província, em Deraa, berço da onda de contestação no sul do país, na cidade litorânea de Lattaquié, em Deir Ezzor (leste) e em Hassaka (nordeste). Os manifestantes pediram também o armamento dos rebeldes do Exército Sírio Livre (ESL). Desde o início da revolta, há um ano, episódios de violência deixaram cerca de 8.500 mortos, em sua maioria civis, segundo o OSDH.

Antes de sua chegada a Damasco no sábado, o emissário da ONU e da Liga Árabe para a Síria, Kofi Annan, considerou que "a solução ideal reside em um regulamento político". Ele alertou para a militarização que, segundo ele, vai agravar a situação.

Paris e Washington também reiteraram nesta sexta-feira (9/3) sua oposição a qualquer intervenção militar.
Em sua guerra sem piedade contra os rebeldes, o presidente Assad ganha o forte apoio da Rússia, que já bloqueou duas resoluções dos ocidentais.

Nesta sexta-feira (9/3), Moscou manifestou a sua rejeição a um novo texto americano exigindo que o regime acabe com a repressão, classificando-o de "desequilibrado". O texto exige que o governo sírio interrompa "imediatamente" qualquer violência e pede também que a oposição "evite qualquer violência" caso o governo aceite as primeiras exigências dessa resolução, segundo uma cópia que a AFP conseguiu consultar.

A China, outra aliada do regime, anunciou o envio para Arábia Saudita, Egito e França do emissário Zhang Ming, encarregado de explicar a posição de Pequim.
Os Estados Unidos indicaram que não estão muito otimistas quanto à possibilidade de um acordo no Conselho de Segurança sobre a resolução.

Essas negociações diplomáticas ocorrem no momento em que o regime mostra seus primeiros sinais de divisão após o anúncio na quinta-feira feito pelo vice-ministro do Petróleo de sua demissão para denunciar a "brutalidade" do regime.
Dez oficiais de alto escalão do Exército, entre eles quatro generais e dois coronéis, também chegaram nesta sexta-feira à Turquia, depois de terem desertado, indicaram a Anatolia e a oposição síria.

No plano humanitário, a chefe de operações humanitárias da ONU, Valerie Amos, declarou ter chegado a um acordo com o regime sírio para uma "missão de avaliação humanitária preliminar" nas zonas de conflito. A ONU indicou que cerca de 1,5 milhão de pessoas precisam de uma ajuda alimentar. Segundo a organização, mais de 25.000 refugiados estão em países vizinhos da Síria, e a violência causou o deslocamento interno de entre 100.000 e 200.000 pessoas.

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