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Polícia chilena é investigada por acusações de uso excessivo da força

Agência France-Presse
postado em 30/08/2012 17:55
Santiago - Junto com o aumento dos protestos estudantis, cresceram no Chile as denúncias sobre um uso excessivo da força policial nas manifestações e desalojamentos de colégios ocupados, com acusações de agressões físicas e de abusos sexuais de menores de idade.

Um ano depois de a polícia chilena ter ficado no olho do furacão pela morte de um adolescente com um tiro no peito em um protesto -que causou a demissão de nove policiais-, a instituição é acusada de agredir, humilhar e despir estudantes menores de idade dentro de um quartel.

Ela enfrenta também denúncias de uso excessivo do gás lacrimogêneo e de jatos de água para desmobilizar as manifestações.

"Me fizeram tirar a roupa; me obrigaram a fazer agachamentos nu", relatou à imprensa local Ignacio Muñoz, presidente do grêmio do Liceu María Luisa Bombal, de Rancagua (sul), que ficou detido e algemado por mais de cinco horas junto com outras nove pessoas, duas delas menores de idade, após a desocupação de seu colégio.

Por esse caso, quatro policiais serão punidos porque ficou estabelecido que eles tinham violado os protocolos para este tipo de detenções, anunciou a instituição.

Os estudantes afetados apresentaram uma denúncia aos tribunais para que os culpados sejam punidos criminalmente.

Nesta quinta-feira, um agente das forças especiais foi expulso da instituição após a divulgação de um vídeo que mostra o policial agredindo com socos estudantes que eram retirados de um edifício em construção no qual tinham se refugiado na passeata de terça-feira em Santiago, que reuniu mais de 50 mil pessoas.



"Queremos que estabeleçam os protocolos operacionais nesse tipo de operações que requerem um tratamento especial, porque se trata de menores de idade", ressaltou a presidente do Instituto Nacional de Direitos Humanos (INDH), Lorena Fries.

"Os protocolos para a aplicação dessas operações precisam de critério e me parece que aqui o que houve foi uma falta de critério total", acrescentou Fries, cuja instituição investiga três casos de abusos contra menores em detenções.

"Vamos fazer todos os esforços necessários para que esses tipos de fatos não voltem a se repetir e para que haja mais controle", respondeu o chefe da Polícia, Gustavo González.

Na quarta-feira, o presidente Sebastián Piñera se mostrou preocupado com as denúncias e afirmou que seu governo "não vai tolerar excessos nem abusos policiais".

Para apurar as denúncias, foram formados pelo menos quatro grupos ;observadores de direitos humanos;, voluntários que equipados com capacetes, cadernos e câmeras fotográficas se dedicam a registrar os abusos policiais durante as manifestações, para depois apresentar as denúncias a organizações humanitárias.

"Vamos às ruas para registrar e denunciar episódios de violência contra as pessoas, para que não se repita o que tivemos que viver durante a ditadura de (o general Augusto) Pinochet (1973-1990)", quando a polícia fez parte dos aparatos repressores do Estado, explicou à AFP Marta Cistena, membro de uma associação que reúne cerca de 16 observadores.

"Hoje consideramos absolutamente desproporcional e fora de contexto acionar os Carabineiros (Polícia Militar). Neste minuto, a polícia acredita que pode fazer o que quiser na mais total e absoluta impunidade", acrescentou Cistena.

Os estudantes chilenos exigem desde o ano passado uma mudança profunda do sistema educacional que se mantém como herança da ditadura de Pinochet e que é considerado um dos mais desiguais e caros do planeta.

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