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Gritos de "Mursi te amamos" e "Mursi ditador" dividem o Cairo em protesto

Agência France-Presse
postado em 23/11/2012 19:15
Cairo - Aos gritos de "Mursi te amamos" e "Mursi ditador", os partidários e críticos do presidente egípcio protestaram nesta sexta-feira (23/11) a alguns quilômetros de distância uns dos outros no Cairo, no mesmo local em que em 2011 se ouvia "Mubarak, vá embora". Este é o reflexo claro de uma opinião pública profundamente dividida.

Milhares de simpatizantes do islamita Mohamed Mursi, eleito presidente em junho, aclamavam seu herói em frente ao palácio presidencial no bairro Heliópolis. Entretanto, seus opositores se concentravam na praça Tahrir, símbolo da revolução do ano passado. "As decisões de Mursi são decididamente revolucionárias e derivam de sua legitimidade", conquistada nas urnas em junho, explicou Mustafá Chehata, um professor que aplaude a promessa do presidente de que o país se encaminhe para "a liberdade e a democracia".

"O problema é que simplesmente muita gente não quer um presidente procedente da Irmandade Muçulmana", assegura. "Mursi não é, absolutamente, um ditador", diz Mustafá Ammar, um joalheiro de 37 anos em desacordo com aqueles que o chamam de "faraó" por ter anunciado na quinta-feira que se atribuía novos poderes, principalmente perante o judiciário.


"O presidente destituiu o promotor-geral corrupto, do que as pessoas se queixam?", acrescentou Mohamed Chaaban, um estudante de medicina, referindo-se ao poderoso magistrado nomeado na época de Hosni Mubarak e com fama de proteger os dirigentes depostos. Alguns manifestantes vestiam camisetas com a foto de Mursi e agitavam bandeiras egípcias. A chegada do presidente a um palanque arrancou aplausos: "O povo apoia o presidente", "Mursi te amamos", gritava a multidão.

Lemas muito diferentes dos ouvidos na manifestação na praça Tahrir, convocada por movimentos laicos e liberais, assim como por personalidades com o ex-chefe da Liga Árabe, Amr Mussa, ou o ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Mohamed ElBaradei. "Não é possível que a revolução do ano passado produza um novo ditador", afirmou uma manifestante, Nagla Samir. "Vamos de novo às ruas pela liberdade", reforçou.

"Mohamed Mursi pensa que é Deus e coloca suas decisões à frente de tudo. Não se considera mais humano", protestou Ahmed al Awadi, em protesto junto a milhares de pessoas. Alguns manifestantes exibiam uma fotomontagem com uma face, a metade de Mubarak, a outra de Mursi. Em algumas ruas vizinhas, prosseguiam os distúrbios esporádicos iniciados há uma semana entre grupos de jovens e policiais nas imediações de prédios oficiais.

As escaramuças começaram na noite de segunda-feira por ocasião do primeiro aniversário dos confrontos sangrentos na área de Tahrir entre as forças de segurança e os manifestantes que protestavam contra uma transição nas mãos dos militares.

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