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Morre o intelectual francês Stéphane Hessel, autor de "Indignai-vos"

Hessel era conhecido pela defesa dos direitos humanos, do direito de asilo, dos imigrantes e dos direitos dos palestinos. Ele faleceu aos 95 anos

Agência France-Presse
postado em 27/02/2013 06:59
Paris - Embaixador da França, membro da resistência durante a Segunda Guerra Mundial e pioneiro da ONU, Stéphane Hessel, que faleceu na terça-feira (26/2) aos 95 anos, ficou famoso no mundo há dois anos com o imenso sucesso do livro "Indignai-vos"! ocorrido ao fim de uma vida novelesca que passou por toda a história do século XX.

Ao longo dos anos alternou cargos nas Nações Unidas consagrados à ajuda ao desenvolvimento com postos no alto funcionalismo público francês, em particular na área de cooperação. Ex-membro da Comissão Nacional Consultiva dos Direitos Humanos (1992-2005), permaneceu muito ativo após sua aposentadoria em 1983, atuando, por exemplo, como mediador para os ilegais em 1996-1997.

Stéphane Hessel nasceu em 20 de outubro de 1917, em Berlim, e se mudou para a França aos 7 anos. Era filho de Franz Hessel e Helen Grund, que inspiraram, ao lado do escritor Henri-Pierre Roché, o trio "Jules e Jim" levado ao cinema pelo diretor François Truffaut.

Naturalizado francês em 1937, estudou na Escola Normal Superior de Paris e se formou em Filosofia. Em 1939, no início da guerra, se alistou e entrou para as Forças Francesas Livres em 1941. Detido pela Gestapo, foi deportado em 1944 para o campo nazista de Buchenwald, no qual escondeu sua identidade para escapar da morte e de onde conseguiu escapar.



Ao fim da guerra, iniciou uma carreira diplomática como adido do secretariado geral da ONU (1946-1951). Nas Nações Unidas participou na elaboração da Declaração Universal dos Direitos Humanos, mas não foi redator. Trabalhou ainda em vários postos no funcionalismo público francês, antes de ser nomeado representante permanente da França na ONU em 1977. De 1981 a 1983 foi delegado interministerial do governo francês para a cooperação e a ajuda ao desenvolvimento. Ele era conhecido por sua defesa dos direitos humanos, o direito ao asilo, os direitos dos imigrantes e os direitos dos palestinos.

Entre as suas obras figuram "Danse avec le si;cle" ("Dança com o século", 1997), "Dix pas dans le nouveau si;cle" ("Dez passos no novo século", 2002), "Citoyen sans fronti;res" ("Cidadão sem fronteiras", 2008) e "Le Chemin de l;espérance" ("O caminho da esperança", 2011), escrito junto com o sociólogo Edgar Morin, "Empenhai-vos" (2011), livro de entrevistas com Gilles Vanderpooten.

Em 2012, Stéphane Hessel e Albert Jacquard escreveram em conjunto "Exija! Um desarmamento nuclear total". Mas foi seu manifesto "Indignai-vos", pequeno livro de 32 páginas publicado em outubro de 2010 com uma tiragem inicial de 8.000 exemplares, que o tornou famoso no mundo.

Guru da insatisfação jovem

Traduzido para vários idiomas, o livro vendeu mais de quatro milhões de exemplares no mundo. "Indignai-vos" inspirou os movimentos de protestos em vários países, desde os "indignados" da Espanha e Grécia até o "Occupy Wall Street" dos Estados Unidos. Com o livro, Hessel virou, com mais de 90 anos, o guru dos jovens manifestantes do século XXI. Quando a pequena editora Indig;ne, de Montpellier (sul da França), publicou a primeira edição, ao preço de três euros, ninguém poderia imaginar o sucesso. Os editores da obra, Sylvie Crossman e Jean-Pierre Barou, escreveram na época que a "base da resistência é a indignação".

"As razões para indignar-se hoje podem parecer menos claras que no período do nazismo. Mas procurem e encontrarão", destacaram. Hessel denuncia em seu texto a crescente desigualdade entre os muito ricos e os muito pobres, o estado do planeta, a maneira como os ilegais, os imigrantes e os ciganos são tratados, a corrida pelo "ainda mais", a ditadura dos mercados financeiros, além da perda dos direitos adquiridos desde a Resistência francesa (aposentadoria, previdência social).

"Podemos acreditar em Stéphane Hessel e seguir seus passos quando convoca uma insurreição pacífica", escreveram os editores. O sociólogo Edgar Morin credita o êxito de "Indignai-vos" ao "despertar público de uma população que era até então muito passiva". Com seu livro, Hessel "catalisou as expectativas de muitas pessoas diante da angústia provocada pela crise", disse Morin. Para o autor, o sucesso do livro era explicado por um "momento histórico". "As sociedades estão perdidas, se questionam como fazer para seguir adiante e buscam um sentido à aventura humana".

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