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Coreia do Norte recomenda saída dos estrangeiros da Coreia do Sul

A Coreia do Norte, que enviou recentemente dois mísseis de médio alcance para a costa, advertiu na sexta-feira passada que a partir de 10 de abril não terá condições de garantir a segurança das missões diplomáticas na capital Pyongyang

Agência France-Presse
postado em 09/04/2013 10:56
Soldado sul-coreano verifica veículos da mídia na Ponte Grande Unificação
Seul - A Coreia do Norte voltou a agitar nesta terça-feira (9/4) a ameaça de uma "guerra termonuclear" na península coreana e aconselhou os estrangeiros que moram na Coreia do Sul que considerem deixar o país, com a advertência de que correm risco no caso de conflito.

A Casa Branca classificou de "retórica inútil" as ameaças de Pyongyang quanto a uma "guerra termonuclear". "É uma retórica inútil, que apenas aumentará as tensões", disse o porta-voz do presidente Barack Obama, Jay Carney.

Já o almirante americano Samuel Locklear, chefe do Comando Ásia-Pacífico, afirmou, falando em uma audiência com legisladores americanos, que os Estados Unidos só interceptarão um míssil da Coreia do Norte se este representar uma ameaça para Washington ou para seus aliados.

Locklear enfatizou que não recomendaria a derrubada de um míssil, mas que ordenará se for necessário defender interesses americanos ou de aliados.


Para o Comitê norte-coreano para a Paz na Ásia-Pacífico, em um comunicado divulgado pela agência oficial KNCA, a península coreana se dirige para uma guerra termonuclear. "Caso haja uma guerra, não queremos que estrangeiros que vivem na Coreia do Sul sejam feridos", acrescentou o Comitê, recomendando a "todas as organizações internacionais, empresas e turistas que se preparem para medidas de evacuação".

[SAIBAMAIS] O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, por sua vez, destacou o fato de que a situação na Coreia do Norte pode ficar incontrolável, depois de reconhecer que o nível de tensão é muito perigoso. "Um pequeno incidente pode desencadear uma situação incontrolável", afirmou Ban ao falar da tensão na península coreana, em uma coletiva de imprensa ao término de um encontro com o papa Francisco.

A Coreia do Norte, que enviou recentemente dois mísseis de médio alcance para a costa, advertiu na sexta-feira passada que a partir de 10 de abril não terá condições de garantir a segurança das missões diplomáticas na capital Pyongyang, alimentando os temores de um disparo de míssil ou de um teste nuclear iminente.

No entanto, nenhum país com representação em Pyongyang considerou necessário, até o momento, retirar os funcionários. Algumas capitais acreditam que esta é uma nova manobra de Pyongyang para aumentar a pressão.

"O clima em Pyongyang é de normalidade e nada se percebe fora do comum na cidade", afirmou o embaixador brasileiro em Pyongyang, Roberto Colin, falando à Agência Brasil.

Ameaças em série

Há várias semanas, a Coreia do Norte faz ameaças de guerra nuclear como resposta às sanções da ONU por um novo teste nuclear do país em fevereiro e pelas manobras militares que Estados Unidos e Coreia do Sul executam na península.

Uma fonte do governo sul-coreano confirmou na sexta-feira passada que a Coreia do Norte havia transportado de trem, no início da semana passada, dois mísseis Musudan de médio alcance para a costa leste do país, onde foram instalados em veículos equipados com dispositivo de tiro.

O Musudan tem alcance de 3.000 quilômetros, ou seja, pode atingir a Coreia do Sul ou o Japão. Se transportar uma carga leve, pode alcançar 4.000 quilômetros e, em tese, chegar a Guam, uma ilha do Pacífico a 3.380 km da Coreia do Norte onde estão 6.000 soldados americanos.

O Japão informou nesta terça-feira (9/4) que posicionou mísseis Patriot no centro de Tóquio para enfrentar qualquer disparo que ameace o país. Outras baterias antimísseis também serão instaladas na ilha de Okinawa (sul).

A China, poderosa aliada da Coreia do Norte, mas que também votou a favor das sanções contra o regime norte-coreano, pediu nesta terça-feira o fim da escalada de tensões na península, explicando que não deseja ver o caos na sua porta.

"A península coreana é uma vizinha próxima da China. A China não quer caos às suas portas", declarou Hong Lei, porta-voz da diplomacia china. "Pedimos a todas as partes que priorizem os interesses de paz e de estabilidade da região, e que protejam os direitos e interesses legítimos, assim como a segurança, dos cidadãos de outros países", completou.

A Casa Branca saudou os esforços de Pequim e Moscou. "Vamos continuar trabalhando com nossos sócios chineses, russos e de outros países para conseguir que a Coreia do Norte respeite suas obrigações internacionais", declarou o porta-voz da presidência americana na segunda-feira à noite.

Obstinada em uma escalada verbal e militar que ninguém sabe até onde pode chegar, Pyongyang retirou 53.000 norte-coreanos que trabalham no polo industrial binacional de Kaesong.

O complexo industrial fica na Coreia do Norte, a 10 km da fronteira com o Sul. Desde quarta-feira (3/4), o Norte proíbe o acesso a Kaesong dos funcionários sul-coreanos e dos caminhões de abastecimento. Treze das 123 empresas sul-coreanas presentes no polo interromperam a produção por falta de matérias-primas.

Importante fonte de divisas estrangeiras para a Coreia do Norte, Kaesong sempre permaneceu aberto, apesar das repetidas crises na península, com exceção de apenas um dia, em 2009. Na ocasião, Pyongyang bloqueou o acesso para protestar contra as manobras militares conjuntas entre Estados Unidos e Coreia do Sul.

Uma fonte da União Europeia afirmou nesta terça-feira em Bruxelas que o bloco considera a possibilidade de endurecer as sanções contra a Coreia do Norte no caso de Pyongyang prosseguir em sua escalada.

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