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Alemanha lança ofensiva diplomática após espionagem da NSA a Merkel

Atitude foi tomada após a divulgação de que o governo americano teria monitorado o celular alemã

Agência France-Presse
postado em 26/10/2013 16:48

Atitude foi tomada após a divulgação de que o governo americano teria monitorado o celular alemã

Berlim - A Alemanha iniciou uma ofensiva diplomática depois da divulgação de que o governo dos Estados Unidos teria monitorado o telefone celular da chanceler Angela Merkel, manifestando decepção com a nova faceta do "amigo americano". Autoridades dos serviços secretos da Alemanha viajarão aos Estados Unidos na próxima semana pelas suspeitas de que Washington espionou o telefone celular de Merkel, informou a imprensa germânica.

A viagem foi anunciada depois que o ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, reuniu-se na quinta-feira com o embaixador dos Estados Unidos em Berlim.

"Representantes de altos postos do governo farão uma rápida viagem aos Estados Unidos para avançar nas discussões com a Casa Branca e com a Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) sobre as alegações recentemente mencionadas", disse o porta-voz adjunto da chanceler, Georg Streiter.

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[SAIBAMAIS]A delegação incluirá altos funcionários do serviço secreto alemão - acrescenta a imprensa local, citando fontes das agências de inteligência.

A principal missão da delegação é obter respostas das autoridades americanas sobre questões que o governo alemão e, em particular os Ministérios da Justiça e do Interior, já haviam apresentado, depois das primeiras revelações do "caso Snowden".

Edward Snowden, ex-consultor da NSA americana, começou a revelar em junho as operações de espionagem eletrônica em todo o mundo praticadas pela agência.

Neste sábado à tarde, a revista "Der Spiegel" publicou novas informações sobre a espionagem americana. De acordo com documentos da NSA, os quais a revista diz ter em mãos, a chanceler está em uma lista de grampos desde 2002. Ela também teria sido grampeada algumas semanas antes da visita do presidente Obama a Berlim, em junho passado.

Para o "Frankfurter Allgemeine Zeitung", "o frio (presidente americano Barack) Obama que faz discursos tão inteligentes não pode se negar a explicar o que aconteceu".

Agora, Merkel precisa de um resultado concreto que demonstre que está fazendo algo "contra a orgia de vigilância americana", afirma outro jornal, o "Süddeutsche Zeitung".

No momento em que opositores, em particular os Verdes e o Die Linke (A Esquerda), acusam a chefe de Governo de minimizar o escândalo, o partido social-democrata SPD, que está negociando para formar um governo com Merkel, mencionou a possibilidade de interromper temporariamente as negociações sobre um possível acordo de livre-comércio. A chanceler não apoiou a iniciativa.

Em paralelo, a Alemanha prepara, em conjunto com o Brasil, um projeto de resolução na ONU sobre a proteção das liberdades individuais - informaram fontes diplomáticas da organização.

A resolução, que seria apresentada à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Geral das Nações Unidas, não mencionará especificamente os Estados Unidos e buscará ampliar às atividades na internet o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos aprovado em 1966 pela ONU e que entrou em vigor em 1976.

Além de França e Alemanha, outros países europeus, como Bélgica, Itália e Espanha, e latino-americanos, como Brasil e México, foram vítimas das práticas da NSA.

Até o momento, apenas a presidente Dilma Rousseff, que exigiu explicações do governo Obama, foi longe a ponto de suspender uma visita de Estado a Washington, que estava programada para o fim de outubro.

A espionagem tomou boa parte das conversas dos 28 chefes de Governo da União Europeia (UE) ao longo de dois dias de reunião de cúpula em Bruxelas, concluída na sexta-feira, mas as divisões persistem no bloco.

"Não se espiona os amigos", disse Merkel, em Bruxelas, visivelmente indignada.

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